terça-feira, 28 de junho de 2016

Caçapava



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Hoje não tenho ídolos. Estão, ou ficaram todos, na minha adolescência. Em meados da década de 70 o Brasil vivia sob a batuta dos generais que jogavam a democracia para escanteio e no sul do Brasil um time jogava uma bola redondinha nos gramados.
Naqueles anos não tínhamos a infinidade de souvenires que temos hoje. Não havia bonés, camisetas, calções e bandeiras. Não ao meu alcance. Lembro que para comemorar o campeonato brasileiro de 75 eu me enrolei numa colcha vermelha que uma vizinha gremista me emprestou e fui para a praça Saldanha Marinho. Um fiasco, mas era o que eu tinha à mão e a conquista merecia.
Hoje em dia eu não consigo decorar a escalação de uma equipe sequer. E se o assunto for seleção brasileira eu sou um total desastre. Mas o time do Internacional de 75 está bem guardado na memória. Uma constelação de craques. E na escalação desse Inter de 75 consta um armário de quatro portas que jogava na frente da zaga. Dizem que Figueroa jogou tudo que jogou porque havia essa muralha intransponível em sua frente. É bem possível. Caçapava era esse armário, essa muralha.
No jogo pelo brasileirão de 2016 o Inter tomou três do Botafogo e amargurou uma derrota em pleno Beira-Rio. Após o terceiro gol eu pensei: precisamos de um Caçapava no meio-campo para fechar essa avenida. Verifiquei alguns atuais nomes e não achei ninguém semelhante.
Caçapava – o ídolo que partiu no dia seguinte aquele jogo – foi único e será sempre lembrado quando os atuais craques fizerem lambança na zaga. Como aquelas no jogo em que foi derrotado por 3 a 2 pelo Botafogo.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O porco, o jacaré e os humanos racionais.



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O ataque certeiro de um jacaré no porco às margens do lago é da natureza do jacaré e o mundo animal e a cadeia alimentar pode explicar essa selvageria.
Circula na web um vídeo em que um terceiro personagem entra na tragédia do porco. Às margens do lago estão alguns porcos, um jacaré na espreita e humanos racionais e turistas em um barco. Os humanos atiram alimentos para atrair os porcos para a água. E, assim, continuadamente os alimentos são jogados e atiçam os porcos em busca da refeição cada vez mais afastados da margem. O final do vídeo é previsível. O jacaré abocanha um porco para divertimento dos humanos turistas racionais e nada acidentais.
[Não vou comentar sobre os berros de desespero do porco].
A cena retratada no vídeo mostra uma situação de poder. Relações entre oprimidos e opressores. Cruéis opressores. E me fez lembrar algumas frases bem conhecidas ditas por personalidades no trato desse assunto. Cito duas apenas.
“O opressor não seria tão forte se não tivesse cumplices entre os próprios oprimidos.” [Simone de Beauvoir].
“Se você é neutro em situações de injustiça você escolhe o lado do opressor.” [Desmond Tutu].
Nessa disputa entre os porcos e o jacaré os humanos racionais, sequer foram neutros, e tomaram o lado do jacaré. Diria que, politicamente, fizeram um acordo – coligação – com o jacaré. Até imaginei que no final do vídeo os humanos racionais iriam pular na água para comemorar a vitória com o jacaré. Afinal, foi uma coligação vitoriosa. Claro, os humanos racionais não são idiotas.
As próximas cenas do vídeo poderiam ser assim: os jacarés fariam uma reunião e invadiriam o barco em que estavam os humanos. Os humanos ficariam desesperados com a traição do jacaré. E, possivelmente, o grupo do jacaré tomaria conta do barco, pensando bem, acho que destruiriam o barco e os humanos seriam banqueteados. Com sorte algum humano escaparia a nado até a margem. Mas não estaria mais no poder. Foi traído pelo jacaré. Não adiantaria os humanos vociferarem que é golpe. Até pode ser golpe, mas é da natureza do jacaré.
A lição que podemos tirar do vídeo é que a natureza em dados momentos é muito cruel. E os humanos, em algumas situações, são uns bestas quadrados.
Enfim, trazendo para a política – esse texto tornou-se político –, e como temos eleições nesse ano, penso que os partidos devem fazer coligação com quem, juntos, possam comemorar a festa da vitória. Caso contrário, no futuro, aguentem a natureza do jacaré.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Lava-Jato



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

A operação Lava-Jato trouxe à tona o que ocorre no submundo da política.
Sempre fui um apoiador da Lava-Jato e pretendo continuar sendo porque se a Lava-Jato sucumbir restará pouco de Brasil para o futuro, pois triunfará o status quo. Se houve alguns excessos em dados momentos fica por conta dos excessos de ganância dos delinquentes. [uma espécie de método das partidas dobradas da política].
Há uma articulação de prováveis investigados para cercear as ações da operação. Mas acredito que “No pasarán”.
Penso que nem Temer e nem a Dilma tem condições políticas de governar até 2018. Esgotou-se esse período e a nação precisa se renovar. Não aguentamos os mesmos de sempre perfumando velhos discursos para iludir incautos.
A cada dia que passa fica claro, e isso é estarrecedor, que o Brasil foi e está sendo governado por assaltantes dos cofres públicos. Com isso fica evidente – e é urgente – uma assembleia nacional constituinte e eleições gerais.
No meu entendimento é a solução mais simples,  imediata e possível para tentar tirar o país dessa crise.
Claro, e colocar a bandidagem na cadeia.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Que futebol é esse?



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O futebol brasileiro está em crise. A seleção brasileira não convence e consegue um fiasco na Copa Centenário tal e qual o 7 a1 na Copa do Mundo.
A crise no Brasil é sistêmica: política, econômica, ética, representativa... e, por que o futebol seria diferente?
Achamos que a goleada sofrida contra a Alemanha seria o fundo do poço e que o futebol renasceria das cinzas, mas uma entidade que é dominada por picaretas prevaleceu a lógica das ferramentas, eles conseguiriam cavar mais fundo. Os mesmos dirigentes, um ex-técnico ungido a zangado diferente e o fiasco anunciado saltita nos olhos. Iludir-nos-emos contra o Haiti. Mesóclise para não esquecermos o interino.
A crise no futebol é o reflexo do país e vice-versa. No reino dessa “Dinamarca” há algo muito além do que algo de podre.
Perdemos o encanto com a política, como também perdemos o encanto com o futebol. Há uma necessária moralização de ambos porque ambos estão contaminados pelo vírus da corrupção. Carcomidos pela mesmice.
A ideia original da crônica seria o tema restrito ao futebol, mas a política interfere no esporte e interferiu no texto. Lógico. Então, que país é esse?. Virou que futebol é esse? E Renato Russo entra na história porque a coisa está ruça.
Mas tentarei resistir e voltar ao futebol da seleção.
Não sei se sou eu que não tenho vocação para ter ídolos – o último ídolo que tive se chamava Valdomiro Vaz Franco –, mas penso que faltam ídolos na seleção. A torcida apaixonada precisa de ídolos. Um craque que sirva de exemplo para a torcida e para os craquezinhos das escolinhas. Faltam jogadores identificados com o Brasil. A impressão que tenho que cada convocação vira uma grande festa. Uma grande brincadeira. Um baita baile funk. Extracampo jogam para a torcida e dentro do campo jogam pelos cifrões. Ganhando ou perdendo o volumoso “ganha-pão” está garantido. Quando o Brasil é desclassificado de uma competição os atletas dão uma passadinha no Brasil e vão sofrer os fiascos em Paris, Londres, Barcelona, Berlim e Roma.
A seleção precisa de jogadores com sobrenomes brasileiros: fulano do Flamengo, cicrano do Inter, beltrano do São Paulo. Se fosse técnico convocaria jogadores atuando no Brasil. Teria cotas para estrangeiros, uma espécie de política afirmativa para brasileiros que jogam no exterior.
Talvez, assim, a torcida tornar-se-ia mais identificada com a seleção. Segunda lembrança do interino. E chega dessa paranoia.
Pode ser que o novo técnico consiga dar uma revigorada nessa turminha de deslumbrados chutadores. É possível que consiga um maior comprometimento. Mas a moralização do futebol brasileiro não será resolvida com a troca do técnico. O que a torcida deseja é uma distribuição a rodo de cartões vermelhos para essa cartolagem usurpadora. Mas por enquanto o culpado é o Dunga, esse, sim, o verdadeiro interino.