quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Às panelas ou seja lá o que for



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Nos últimos meses tive que aprender alguma coisa a mais sobre o Barão de Itararé. Era uma figura bem descolada do convencional. E fico imaginando o que faria numa conjuntura de hoje a pena ácida de Apparício Torelly.
Também lembrei de uma passagem da sua biografia quando ele foi convidado para permanecer no internato e seguir carreira eclesiástica. Eis a resposta do Barão.
– Eu nunca pensava naquela possibilidade. Não sou apóstolo. Meu apostolado é do lado oposto.
Lembrei dessa frase ao ver alguns comentários acerca da decisão dos senadores quando, em votação aberta, livraram o Aécio Cunha do “repouso noturno” e deliberaram pela volta ao senado.
E as panelas? Cadê os paneleiros?
Sabe, isso é o que menos me preocupa. Entendo que eles foram os vencedores nessa etapa. O que me preocupa é a falta de reação. A inércia dos indignados é que me deixa extremamente apreensivo. Reduzindo o raciocínio: quem bateu panela está assistindo a “Força do querer”. E entendo que não podemos transferir essa responsabilidade para quem bateu panela. Essa incumbência é nossa. Como bem disse o Barão, “meu apostolado é do lado oposto”. E é aí que a porca torce o rabo. O lado oposto está totalmente a mercê dos acontecimentos. Incapaz de propor uma reação. Um contraponto. Claro, temos vozes heroicas nos parlamentos e na sociedade, mas “o lado oposto” está, parece-me, jogando milho aos pombos. O avanço da extrema direita antidemocrática é, justamente, pelo recuo do lado oposto. Esse espaço não fica vazio...
E só tem uma solução: colocar o povo na rua. Não existe outra possibilidade. Não foram só as panelas que derrubaram a Dilma. Tinha muita gente nas ruas. A tarefa de colocar o povo nas ruas é hercúlea, pois o marasmo é acachapante, mas é o que temos. Se alguém tiver outra solução...
Logo estaremos em 2018 e seremos chamados a votar para presidente. Vamos exercer nossa cidadania com o voto. Eu não temo a vitória de um candidato homofóbico, racista, misógino, reacionário, etc, etc, etc. acho que não vinga. O maior problema seria o voto na segunda opção: para nos livrarmos de uma figura excêntrica, termos que votar num tradicional neoliberal para garantir a democracia brasileira. 
Ah! Por que tive que aprender sobre o Barão? Na próxima sexta-feira assumo uma cadeira na Academia Santa-Mariense de Letras. Cujo patrono é o Barão de Itararé. Será às 19h. Todos os amigos estão convidados.