terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A comenda de lúcifer

twitter.com/athosronaldo

Há dez anos o Fórum Social Mundial foi pensado para discutir a possibilidade de um outro mundo e, por tabela, os desafios da esquerda diante das novas realidades econômicas e políticas. Mas também foi a criação de um movimento para fazer contraponto ao Fórum Econômico de Davos na Suíça.
Naquela oportunidade foi agendado um encontro, via satélite, entre representantes de Porto Alegre e Davos. Ficou evidente para quem estava na capital gaúcha que a reunião foi para inglês e todos os incautos sonhadores verem. Nada de prático, conversa fiada. Mas o pessoal do bem não gostou nada do que o pessoal do mal da Europa estava fazendo e dizendo. Aliás, para a turma que estava às margens do Guaíba o pessoal de Davos personificava o demônio. Em Davos reuniam-se a elite conservadora e reacionária. Milionários que só pensam em cifras. Porto Alegre era um coração que pulsava em nome dos oprimidos.
Em 2003 houve uma grande polêmica. Lula, após passar em Porto Alegre deveria ir ou não ao fórum dos ricaços na Europa? No antro do capitalismo mundial. Alguns influentes pensadores queriam que Lula não fosse – um trabalhador não deveria frequentar as rodas e banquetes da burguesia – outros achavam que Lula deveria ir e dizer “poucas e boas” para os detentores do poderio econômico. Instaurada a polêmica, pouco adiantou a farta argumentação dos fervorosos e acalorados debatedores em uma quentíssima Porto Alegre de janeiro, pois o aclamado presidente foi a Davos. Não disse as poucas e boas, não da maneira que desejavam os exaltados participantes da esquerda do FSM.
Os tempos mudam. Lula virou “o cara” e transita com a maior desenvoltura pelos mais variados salões da elite mundial. Numa mesma semana Lula pode levantar os braços entre Chávez e Evo e apertar a mão de Obama.
O Fórum Econômico Mundial ofertou a Lula o prêmio de Estadista Global. Talvez seja possível instaurarmos mais uma polêmica, pois é de polêmica que vivemos e, assim, teremos motivos para mais uns efusivos e intermináveis debates. Lula deve ou não receber essa comenda? Os multimilionários, os desnaturados e diabólicos representantes dos endinheirados do planeta não estariam cooptando nosso presidente. Esses mimos não fazem parte de uma estratégia de cooptação?
Afinal, Lula deve ou não receber a comenda de lúcifer?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Onde estão as nossas loucas?


Não faz muito tempo e estão ao alcance de nossa memória, os anos de chumbo da América Latina. Ainda podemos lembrar nomes de tiranos como Augusto Pinochet, Alfredo Stroessner, Jorge Rafael Videla, Juan Maria Bordaberry, os generais ditadores do Brasil e tantos outros. Opondo-se às ditaduras tivemos as mais variadas formas de luta: a arte, a caneta, a tinta, o canto e a luta armada. O enfretamento era desigual. Qualquer palavrinha na música ou peça de teatro que denotasse desconfiança o censor carimbava “censurado”. “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta” era a resposta. Foram tantos os sofrimentos e lutas que ainda nos emocionamos com Mercedes Sosa e com os filmes de Costa Gravas.
Nesse período nebuloso de nossa história o Estado sequestrou, torturou e assassinou opositores ao regime. Em pleno século XXI, nos mais variados recantos desse “continente americano coração gosto de sal” pessoas choram a morte – ou desaparecimento – de familiares. As “locas da playa de maio” em Buenos Aires são um exemplo de perseverança.
No Brasil não é diferente, temos centenas de desaparecidos políticos a espera de respostas dos seus paradeiros. A terceira edição do Plano Nacional de Direitos Humanos parecia um caminho para esclarecer esse período de exceção. A Comissão da Verdade foi criada com o objetivo de apurar os crimes cometidos durante a ditadura militar. Mas militares incomodados com o texto se insurgiram. Inclusive, o “general” Jobim colocou o cargo à disposição do presidente Lula. Assim, a expressão “repressão política” foi banida do texto. E como por encanto, ou por decreto, a polêmica deve ser encerrada. Pergunte para alguém que teve choque nas genitálias para ver se a polêmica deva ser encerrada.
O que parece óbvio nessa história toda? Crimes cometidos durante a ditadura devem ser esclarecidos. O Brasil está refém dos carrascos que perambulam pelas cidades, ainda, libertos de seus crimes. Os relatos dos porões são estarrecedores. Quem não conhece um relato feito por um prisioneiro político. A polícia política praticou os mais horrendos atentados aos direitos humanos e esses arquivos continuam bem-guardados nos armários da repressão. Inalcançável a quem de direito, embora tenhamos no governo pessoas que sofreram essas agruras.
Os militares querem que sejam julgados os crimes cometidos pela guerrilha. Quais crimes? Os guerrilheiros já pagaram – e sem o devido julgamento – com a vida, com o exílio ou com os traumas psíquicos que os perseguem para o resto de seus dias. E os torturadores? São cinco os crimes cometidos: sequestro, cárcere privado, tortura, assassinato e ocultação de cadáver. Esses criminosos ainda estão incólumes. Quando o Brasil fará esse encontro com a história? Será que mais uma vez o pragmatismo eleitoral vencerá e os crimes dos ditadores continuarão ocultados pela nossa, eternamente incipiente, democracia. Faltam loucas no Brasil. Doidos varridos para “desvarrer” esses arquivos debaixo dos tapetes. Precisamos de “loucas do planalto central.”

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Eleições e internet (Íntimo do cara)

twitter.com/athosronaldo

Indiscutivelmente, a internet tornou-se uma potente ferramenta para os mais diversos afazeres. E essa conclusão é chover no molhado. A rede virtual é um caminho sem volta, salvo outra revolução tecnológica. Quem consegue ficar um dia sem acessar o computador? Impossível, nos tempos atuais.
O ano de 2010 será um divisor com relação a inserção da internet nas eleições. As campanhas entrarão, em definitivo, na Era digital, como nunca na história desse país (cic). Obama foi um candidato que usou intensamente o meio virtual. Barack Obama utiliza, diariamente, o twitter e tem três milhões de seguidores. No dia primeiro de janeiro de 2010 o presidente acorda, abre seu notebook e digita “Happy New Year!” e milhões de seguidores recebem o cumprimento, em sua residência, nos mais distantes recantos do planeta. Para isso, basta estar conectado. É a tecnologia aproximando as pessoas do homem mais poderoso do planeta. A gente até fica meio íntimo do cara que falou que o nosso presidente era o cara.
Não existe possibilidade de ficarmos alheios aos meios virtuais de relacionamento. É uma janela para o mundo. Viajamos sem sair de casa. Quem não estiver minimamente ao alcance da internet corre o risco de tornar-se um analfabeto digital. Um alienado em informática. Quem não estiver conectado no mundo virtual estará “a lo largo” dos acontecimentos. A informação é instantânea. Consta que em uma partida de basquete nos EUA o atleta saia da quadra colocava um post no twitter e voltava para o jogo. Notícia diretamente da fonte.
Então, nas próximas eleições o candidato que não estiver manejando os diversos meios digitais estará fora do circuito. Quem não estiver conectado estará navegando em águas jurássicas da eleição. E tem gente que reluta diante do teclado e da janelinha virtual.
Mas a internet também serve para ocultar a baixaria e a cafajestice. Os covardes se escondem atrás de uma máscara num ícone virtual para expandir seus preconceitos e safadezas. Circulam pela internet os mais variados emails denegrindo a imagem de alguma pessoa pública. E nesse período pré-eleitoral devemos ter cuidado ao repassar os emails detonando algum candidato. Sobre a militância da Dilma na luta contra a ditadura já recebi meia dúzia. O Fogaça tem um fake. O que é ainda pior.
Enfim, a internet é uma potente ferramenta para divulgação das propostas e posições de um candidato, bem como de qualquer cidadão que queira expor suas ideias em um blog.
No Twitter sigo alguns deputados e apenas o deputado Paulo Pimenta me segue. Mas logo os que não me seguem serão, peremptoriamente, bloqueados. Sou adepto do toma-la-da-cá virtual. Ponto.
Se eu tivesse três milhões de seguidores seria presidente dos EUA, com os meus sessenta seguidores o máximo que conseguirei é organizar uma cervejada em um boteco qualquer. Mas com a convicção de que continuo íntimo do cara.

Lula, o filho do Brasil

twitter.com/athosronaldo

Como nos últimos tempos virei um twitteiro de marca menor. Vivo raciocinando em 140 caracteres. E isso é um problema. Exercitamos o poder da síntese, mas quando desejamos algo mais, poderemos patinar além da vigésima sétima palavra.
Então, ao sair da sala de cinema após ter assistido “Lula, o filho do Brasil” formei a seguinte frase para resumir uma opinião, acerca do longa, no twitter “quem é apaixonado... chora. Quem admira... gosta. Quem odeia... torce o nariz. Gostei.”
Assim sendo, tenho que explicar porque gostei. Sou um admirador de Lula, pela sua trajetória, de onde veio e onde conseguiu chegar. Lula é uma exceção, um predestinado. Não sou um fã incondicional, reconheço os programas de inclusão social, bem como critico o que está ainda a desejar no seu governo. Lula e seu governo não são a perfeição absoluta. Mas isso é outra análise.
Voltando ao filme. É bom porque retrata a saga de uma família em busca de melhores dias. É bom porque tem plasticidade, tem história e não vemos uma ode ao cara... uma idolatria. Devemos lembrar que é baseado em fatos reais, assim, tem um jeitinho para tornar o sindicalista romântico. Lula não é indeciso. É certeiro. Sua conduta é ilibada. Nós gaúchos somos racionais, pouco emotivos e desconfiados. Talvez o filme não provoque sentimentos que nos induza a retribuir nas urnas no próximo pleito. Mas acredito que no nordeste do Brasil haverá mais soluços no cinema e o culto ao herói será mais visível.
Havia lido que a cena do Lula falando – com os devidos “s” – e a galera repetindo para os demais era muito bonita. E é. A outra cena era de que diante da morte de um “patrão” pelos trabalhadores em greve, a reação de Lula não foi bem a retratada. Isso foi o que li antes, mas um dado me chamou atenção. A filha Lurian, que nasceu após a morte da primeira esposa e antes do casamento com Marisa, não é contada. Então, nesse momento, o diretor peca por omissão. Existe uma filha. Existe um homem viúvo em busca de uma vida nova.
Como tenho um amigo que viu o filme e enxergou propaganda explícita para o PT, entrei no cinema com esse sentimento. Não foi o que vi. Acho que a película acaba no momento certo, “minutos” antes da fundação do Partido dos Trabalhadores. Ficou de bom tamanho. Caso contrário nem nós, os racionais e insensíveis, perdoaríamos. Fiquei com a impressão que uma versão de “Lula, o filho do Brasil” será mais fidedigna após a sua morte. E que seja daqui a 40 anos ou mais.
Acho que consegui dizer que gostei do filme. Ou não?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As cartas não estão na mesa

twitter.com/athosronaldo

O jornal Financial Times de Londres previu que a Dilma vencerá as eleições presidenciais e o Brasil ganhará a Copa da África do Sul.
A seleção Canarinho sempre será favorita em qualquer competição. E se Nilmar, Pato e Vitor forem titulares, também coloco minhas fichas na turma de Dunga.
No entanto, a seleção presidencial, opa, eleição presidencial, o furo é um pouco mais embaixo. Ainda estamos diante de uma incógnita. Temos um quadro obscuro em que os candidatos não estão expostos para o debate e programa de governo. Os dois principais candidatos passeiam livremente pela mídia, entre sorrisos e farpas. Dilma está colada em Lula e Serra negando a candidatura. Para uma análise, minimamente consistente, precisamos de dados mais concretos. Em 2002 Lula representava a mudança, um novo horizonte a esperança. Qual o mote dessa campanha? Qual o grande tema? Quais os anseios do povo para 2010? Os medos ideológicos de outrora foram superados? Haverá um detalhe que modificará o resultado do jogo aos 45 minutos do segundo tempo?
Os percentuais de Serra e Dilma somados chegam a 60 ou 70%, haveria espaço para uma terceira via? Qual o fôlego de Marina e Ciro? Para onde vai o voto da esquerda tradicional e da direita reacionária? Podemos dizer que a eleição está e será polarizada. Um candidato escolado em eleições e uma estreante, mas ambos calejados na política. José Serra nós sabemos como se comporta diante do vídeo e de um debate. A incógnita é justamente a Dilma Rousseff. Ela definirá a eleição. Contra ou a favor. Um escorregão ou desempenho pífio nos debates pode ser fatal. Uma frase politicamente incorreta pode carimbar o passaporte para a derrota. Dilma não tem histórico no quesito eleitoral, é totalmente desconhecida e imprevisível. Por enquanto navega nas tranquilas águas da praia de Lula. Existem casos recentes de transferência de votos, mas o carisma é intransferível. E Dilma é o oposto de Lula.
Com essas inúmeras variáveis as previsões tornam-se pouco palpáveis. Assim, qualquer prognóstico vira chute ou paixão. Então, nesse início de ano, as cartas ainda não estão na mesa. Os times não estão escalados. Muita água vai rolar pelas ruas de nossas cidades antes de os contendores desse pleito estiverem a postos.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Apophis, o asteroide

twitter.com/athosronaldo
O filme 2012 retrata uma catástrofe planetária que teria sido prevista pelos Maias. Nós sabemos que a Terra não acabará em dezembro de 2012 – nós temos que organizar a Copa do Mundo de futebol e os jogos olímpicos na Cidade Maravilhosa logo adiante –, mas a humanidade tem uma necessidade muito grande de convier com a hecatombe, com as tragédias. E os cineastas americanos transformam esses devaneios em uma máquina de fabricar dólares. Assim, milhares de terráqueos e alguns lunáticos foram ao cinema assistir o fim da Terra repleto de efeitos especiais, mortes e destruição.
No entanto, um dado que passou meio despercebido, em virtude das comemorações da virada do ano, a notícia de que um asteroide de nome Apophis está em rota de colisão com a Terra. A data prevista para o choque é 2036. Segundo os noticiários, cientistas russos assumiram o compromisso de salvar a Terra dessa catástrofe. A NASA acha pouco provável e não vê motivo para pânico. Quatro possibilidades em um milhão. Lembremos que a mega-sena da virada cuja possibilidade é de uma para 52 milhões teve dois ganhadores. Tudo bem que as chances são pequenas, mas 26 anos passam num piscar de olhos. Não vamos deixar para resolver essa encrenca em maio de 2035.
Há 60 anos houve um desastre no Maracanã e na semana passada o carrasco Alcides Ghiggia colocou os pés por lá. E parece que foi ontem.
Já que os russos estão com essa incumbência, espero que o diretor da agência espacial russa Anatoly Perminov não permita essa colisão. Penso que o Brasil não deva entrar nesse projeto. O nosso negociador pode confundir colisão com coalizão e sugerir um acordo com o Apophis. Quem faz com Judas faz com Apophis.
O choque com a Terra ocorrerá em 13 de abril de 2036. Na minha santa ignorância eu acho que deveríamos construir uma enorme raquete e deixar que a Maria Sharapova maneje a geringonça. Mas Arquimedes afirmou que precisava de uma alavanca para levantar o mundo. Então, temos tempo de sobra para construir essa alavanca e tirar a Terra da rota do bichano ou o Anatoly passa a bola para Hollywood fazer um mega-projeto e enviar o Tom Hanks ou o filho ou o neto em uma missão especial e espacial para explodir o Apophis.
2036 é logo ali. E eu já estou roendo as unhas. Mas com a certeza de que professor Aguinaldo Físico Severino desconstruirá todas as possibilidades dessa tragédia cósmica, colocando por terra – sem trocadilhos – alguma remota possibilidade. Que venga el toro!