sexta-feira, 22 de março de 2013

O Pepe e o Papa


 Athos Ronaldo Miralha da Cunha

                                                                                      
Algumas atitudes singelas de importantes líderes podem se tornar exemplos de cidadania. E, convenhamos, são raras as demonstrações de humildade de pessoas famosas. E mais raras, ainda, quando são travestidos de donos do poder.
O mundo gira numa velocidade de uma bala de canhão. E, às vezes, falta tempo para a simplicidade de um “Oi, tudo bem?”, um “Buenos dias” com um tapinha na aba do chapéu ou 30 segundinhos para comprar um ramalhete de macela na praça no período de páscoa.
É aí que entra o modo de vida de duas pessoas públicas. E com atitudes exemplares, um tanto inesperadas nos dias de hoje, adquiriram a simpatia de grande parte dos latinos e do mundo: Pepe Mujica e Papa Francisco, respectivamente.
O presidente do Uruguai é de uma simplicidade franciscana – sem trocadilho, certo? – mora em um sítio, dirige um fusquinha e doa 90% do salário de presidente. Nos encontros do Mercosul fica evidente que o Pepe Mujica é o que menos se preocupa com a aparência. Eu ainda não vi o uruguaio usando uma gravata. A impressão que Pepe passa é de que ele estava no sítio e, de repente, lembra do encontro com a Cris e a Dilma, pega o fusquinha e vai para o aeroporto.
Na “posse” do Papa enviou o vice-presidente, pois este é um religioso, e ele um ateu. Descrente, afirma que no Uruguai a igreja está descolada do estado.
(Aqui deveria fazer uma descrição da delegação brasileira à Itália e os gastos com hospedagem e carros de aluguel, mas eu poderia xingar Deus e todo mundo e como Deus é brasileiro e o papa é castelhano, eu poderia perder pontos com Ele, salvo se os xingamentos fossem em espanhol, claro).
O outro exemplo de simplicidade é, justamente, o papa eleito, o argentino Jorge Bergoglio. Na primeira aparição desejou um boa noite e bom descanso aos presentes a praça São Pedro. Posteriormente, quebrou o protocolo indo ao encontro de populares – colocando em desespero os seguranças – e depois de uma missa cumprimentou os fieis na porta da igreja. Em outro momento ligou para uma banca de revistas em Buenos Aires, um aviso de que não precisava mais guardar o jornal. Do outro lado da linha um incrédulo jornaleiro achando que era trote.
Recentemente outro castelhano demonstrou sentimentos de solidariedade e visitou uma “Piratinha” em Santa Maria. Um golaço!
E, nós, gaúchos, admiramos tanto a garra e valentia castelhana. Aqueles invocados que não levam desafora para casa. Vemos que força e ternura fazem parte dessa alma platina.
São atitudes admiráveis que encerra na frase “hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás”. Como, certa vez, afirmou um... brasileiro?

quarta-feira, 13 de março de 2013

A utilidade do dedo



Athos Ronaldo Miralha da cunha

Um dos cantores mais populares do estado, Gaúcho da Fronteira, compôs a música “Utilidade do dedo”. “Sei até que certa gente / Tá pensando maldade / Só porque eu falo do dedo / E da sua utilidade”. Esses são uns versos da música que tratam da serventia do dedo.
Pelos dedos demostramos nossos mais variados talentos. Há pessoas com aptidão para tocar pianos nos concertos e outras com qualidades para “tocar piano” nas votações no Congresso. E, assim, demonstram a utilidade dos dedos. Num passado nem tão remoto os dedos-duros apontavam e delatavam quem pensava diferente. Com os dedos elevamos a chibata que arranca segredos. Com os dedos puxamos o gatilho que alvejam inocentes. Alguns dedos contam muitos dólares e muitos dedos contam migalhas.
Com os dedos seguramos a pena que rascunha sonetos ou dedilhamos frases de um desaforado texto.
Aperta os cinco diz o guasca ao amigo que chega. Com o polegar pra cima sorrimos um tudo bem. Com o dedo médio mandamos um desafeto para o além. Mas com os dedos acendemos a pira da paz e as velas que professam a fé.
Ah! Com o dedo marcamos o ponto digital. Bom... não é bem assim. Temos outra utilidade do dedo. A tecnologia avança juntamente com a esperteza e o dedo humano perde o lugar para o dedo de plástico.  Uma médica de Ferraz de Vasconcelos (SP) foi flagrada com seis dedos de silicone – uma espécie de polidactilia sintética –, mas que proporcionava o acesso ao trabalho de colegas ausentes. Com os quirodáctilos a doutora assinava o ponto digital. Essa, sim, sabe a utilidade do dedo. Mas acredito que ela sentirá a utilidade de um pé. Um pé no traseiro para o bem do serviço público.
Voltando aos dedos de carne e osso, sorte a nossa – humanos – que temos os dedos para as mais diversas utilidades – mesmo que seja para tocar pianos e fraudar pontos eletrônicos –, mas devemos agradecer muito ao polegar opositor, pois sem ele poucas utilidades teriam os demais dedos.
Então, polegar para cima, gurizada.
Enfim, vou ficando por aqui, pois, logo mais tenho uma consulta com o proctologista. E, possivelmente, continuarei pensando nas diversas utilidades do dedo. Sem segunda opinião, bem entendido?