quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Bugio Palpiteiro

twitter.com@athosronaldo

O polvo-profeta e Mick Jagger são as maiores vedetes da Copa da África do Sul. O bicho porque fez prognósticos corretos acerca dos jogos da Alemanha e o roqueiro por ser o maior pé-frio.
Paul, como é chamado o molusco, vive em um aquário na cidade alemã de Oberhausen. A previsão de Paul se confirma quando ele escolhe a sua janta – que está em dois recipientes – com as bandeiras das seleções. A bandeira escolhida é a da equipe vencedora. E com isso o polvo é atração na cidade e, consequentemente, o prato mais consumido. Certamente, a vida de Paul correrá risco quando ele errar alguma profecia.
Como gaúcho não fica para trás nessas coisas para inglês ver e brasileiro comentar, surgiu um bugio palpiteiro lá para os lados de Uruguaiana. Faz algum tempo que o bichano acerta suas previsões. Começou em 2006 com a vitória do Internacional no Japão. Num primeiro momento foi motivo de chacota, mas depois o povo olhava meio desconfiado, mas com admiração.
O nome dele é Pablo, mas é conhecido em toda a pampa como “Bugio Palpiteiro”. Podemos dizer que é um vidente de mão cheia. E nós sabemos como o bugio se defende ou briga com seus primos.
Naquela oportunidade o peão – maragato e colorado – colocou duas gravuras em uma árvore, uma do Inter e outra do Barcelona. O bicho tapou de barro o time espanhol. O gaúcho voltou para o rancho meio desenxabido, pois o bugio havia escolhido o Barcelona. Mas logo percebeu que Pablo marcava o que seria derrotado. E deixava limpo o outro cartaz. Uma espécie de ficha limpa no futebol. Assim seguiram-se as previsões e o time que não era alvo da ira do bugio seria o vencedor.
O fato é que Pablo acertou todos os vencedores do campeonato gaúcho. No jogo da Argentina e Alemanha, Pablo não quis fazer suas previsões. O peão da estância ficou desconfiado e pensativo: ou Pablo era castelhano ou tinha correntina na história.
No jogo contra a Holanda, Pablo jogou barro na equipe brasileira e ninguém acreditou, até desdenharam do vidente guasca. Mas ao final da partida Pablo virou o herói de toda a fronteira. Mas sem a devida popularidade do polvo alemão, pois vivia enfurnado em um fundo de rincão, quanto muito dava uma banda pela barranca do rio Uruguai... bombeando uma castelhana.
Com o final da copa, Pablo continuará dando palpites. Corre um diz-que-diz que vai se dedicar às eleições. A metodologia será a mesma, o peão da fazenda colocará as fotos dos presidenciáveis em uma árvore para saber quem será o escolhido, mas alguém comentou que Pablo precisa saber se Mick Jagger virá ao Brasil apoiar algum candidato. Enquanto isso, Pablo fica lá na barranca treinado suas previsões com os candidatos a deputado.

terça-feira, 6 de julho de 2010

As promessas da Copa

twitter.com@athosronaldo

Quando o assunto é a tão propalada rivalidade futebolística entre brasileiros e argentinos, fico numa posição neutra. Não consigo ser um ferrenho secador dos castelhanos. Talvez por ter um pezinho na Espanha e ser descendentes de Bascos. Entendo que essa rivalidade está mais na mídia do que entre as torcidas.
Se somos rivais... tudo bem, mas a Argentina tem uma maneira diferente de encarar as mais variadas situações e algumas delas merece nossa admiração. Um bom exemplo foi a recepção feita aos jogadores no retorno a Buenos Aires. Lá, dez mil pessoas deram vivas aos atletas. Aqui, Dunga é execrado e a grande discussão é o nome do próximo técnico.
Na copa da África do Sul sonhamos com uma decisão sul-americana, mas a lógica da tabela dos jogos não funciona com essa simplicidade. E Messi e Kaká não jogaram como o esperado. Não foram “locos” suficientes com a jabulani nos pés.
Alguns craques dessa copa pareciam políticos tradicionais em época de eleição. Havia a promessa de atuações brilhantes e jogadas espetaculares, mas o prometido não foi cumprido. No entanto, alguns técnicos roubaram a cena. Dunga comprou uma briga com a imprensa e arrumou – na mesma proporção – admiração e desafetos. Era a prática do velho orgulho gaúcho. O técnico da França Raymond Domenech não foi um modelo de boa educação. E Maradona tinha o maior desafio, com a sua peculiar arrogância e deboche, prometeu desfilar pelado no Obelisco da Avenida 9 de Julio em Buenos Aires. Convenhamos, o Maradona pelado não é algo esteticamente apreciável.
Em caso de vitória da Argentina havia a sugestão de que a Gabriela Sabatini cumprisse a promessa no lugar de Dieguito, Mas a Alemanha com uma avalanche de gols nos livrou desse espetáculo indigno do “Señor Tango”.
No Brasil, em várias ocasiões, o futebol serve como metáfora para a política. Quantas vezes, nos discursos, o presidente da república usou o futebol para explicar melhor seu raciocínio. Como a Copa do Mundo é uma espécie de porta de entrada para as eleições no Brasil espero que a moda de desfilar pelado não chegue à política.
Mas como em política e futebol nada mais surpreende, torna-se inimaginável nossos presidenciáveis passeando pelo obelisco no Rio de Janeiro ou pela Praça dos Três Poderes em Brasília, como seguidores das promessas de Dieguito. No entanto, se for a modelo paraguaia na praça, é possível imaginar o balanço das “jabulanis” da guria.