segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Beira-Rio voltou


Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O dia 15.02.2014 ficará guardado na história da torcida colorada e, principalmente, nos corações dos dez mil torcedores que tiveram a oportunidade de serem testemunhas dessa memorável tarde.
Era, apenas, um jogo contra o Caxias pelo campeonato gaúcho, mas para os apaixonados torcedores era a volta do Beira-Rio como palco de inesquecíveis façanhas. O retorno do templo do futebol que abrirá as portas para a Copa do Mundo no Rio Grande do Sul. Um dos cinco estádios mais lindos do mundo. Na fila para entrar era possível sentir a ansiedade e um "friozinho na barriga" por conta do reencontro. Uma garota a alguns metros a frente não conteve a emoção e lacrimejou diante do Gigantinho. A fila se formava e todos aguardavam pacientemente a hora de rever o Gigante Para Sempre. O monumento estava a poucos passos, um monumento grandioso de engenharia, arquitetura e paixão dos colorados. O Beira-Rio por si só já é um show e nem precisa de jogo. Ao subir as escadarias que levam às cadeiras do anel inferior nos deparamos com algo majestoso... sublime... incomparável...
Era impossível imaginar e é impossível descrever com palavras. Num primeiro momento desejamos ver tudo de uma só vez porque o deslumbramento é muito grande e, depois, vamos olhando com mais calma os detalhes e vamos nos acostumando com o templo a ser descoberto. Assim, ficamos boquiabertos, babando em cada pormenor do estádio. Sorrimos em silêncio e não sabemos o que fotografar primeiro. Sentimo-nos como crianças pela primeira vez num parque de diversões ou como um guri que tirou das águas o seu primeiro lambari. Lá pras bandas do Guaíba o sol ilumina dez mil iluminados. O jogo foi quatro a zero e coube ao Fabricio entrar para a história do Internacional como autor do primeiro gol do novo Beira-Rio. Mas devo confessar que, naquela tarde de sol, o que menos importava era o resultado do jogo, pois estávamos ali para saudar a sua volta. Deslumbrados. Extasiados. O Beira-Rio voltou! O Beira-Rio voltou! O Beira-Rio voltou! Esse era o grito de guerra da galera.
E eu fui, apenas, mais um naquele dia. E pretendo voltar o quanto antes ao Gigante Para Sempre, porque ainda não terminei de ver. A ficha ainda não caiu.



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Santiago 2014 – Edson Luís 1968



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Ao vermos as imagens do cinegrafista Santiago Andrade sendo atingido por um rojão ficamos, profundamente, consternados. É impossível permanecermos indiferentes diante da televisão. Um cidadão no exercício de sua profissão sendo covardemente assassinado. Então, nos perguntamos: qual o rumo das manifestações no Brasil?
Esse episódio me fez lembrar um outro assassinato – nos tempos em que os militares mandavam e desmandavam – que causou uma consternação em todo o país. O estudante secundarista Edson Luís foi assassinado num confronto com a polícia no restaurante Calabouço no centro do Rio de Janeiro em março de 1968. Não podemos fazer uma correlação – ipsis litteris – porque são épocas, condições e sonhos diferentes. Mas o que iguala esses dois assassinatos é, justamente, um confronto entre manifestantes e polícia. Em 68 um policial dá um tiro certeiro no estudante. Em 2014 a ação mortal parte de um manifestante. Na década de 60 foi o ponto inicial para a ditadura encrudelecer e criar o AI5.
E em 2014? O que está por vir? Não acredito em retrocesso, embora incipiente nossa democracia tem características estáveis – salvo alguns retardados à esquerda e à direita que não desejam – e está sedimentada em pilares republicanos.  
Algumas das causas desses radicalismos passam por um recuo de uma esquerda que sempre esteve nas grandes manifestações e hoje está reclusa. As incertezas ideológicas e radicalismos nas manifestações estão ocupando um vácuo deixado pelo recuo dessa esquerda que já esteve nas ruas em outros tempos. E no campo ideológico ninguém fica em impedimento, não existe espaço vazio.
O agravante nesse imbróglio é a Copa do Mundo. O grande evento que será motivo de novas grandes manifestações. É legitimo que haja. Qual militante social perderia essa oportunidade?  O que não podemos compactuar é que cada manifestação torne-se uma praça de guerra. Nesse caso o estado deve garantir a ordem democrática, o direito de ir e vir e se expressar.
Ah! Mas e os vândalos radicais? Permanecerão radicais em seu gueto e se for o caso no xilindró.
Espero que durante a Copa os democratas – da nossa estável democracia – não criem empecilhos aos manifestantes sacando da manga uma lei que criminalize as manifestações e que a policia reprima violentamente – como em outras eras – pelo aparato repressor do estado a voz das ruas. Pois quem lutou por liberdade e democracia continuará lutando por liberdade e democracia, não é mesmo?
Se a morte de Edson Luís foi uma comoção para o Brasil num grito de democracia e liberdade, a morte de Santiago invoca o mesmo sentimento: queremos liberdade de imprensa e o direito de gritar nas avenidas com os punhos cerrados, mesmo que um senador do PT não pense assim.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Vai ter copa



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Os brasileiros estão envolvidos com a Copa, desde o voluntário que busca uma boquinha para ser parte da história ao mais influente empresário piscando cifrões com as obras. Estádios novos e padrão FIFA, aeroportos... nem tanto, digamos, padrão CBF. E as obras de infraestrutura a galope porque o tempo “ruge”.
A intensão não é fazer um comparativo de orçamentos, prazos e de onde vem – ou para onde deveria ter ido – toda a grana que envolve uma Copa do Mundo. Aliás, a Copa de 2014 está estimada R$ 28 bilhões. Os estádios estão impecáveis, o Beira-Rio foi eleito um dos cinco mais bonitos do mundo, estará pronto para recepcionar algumas das mais importantes seleções: França, Holanda e Argentina. Para os colorados, um golaço!
É público e notório, qualquer criança sabe, mas não custa lembrar: a Copa do Mundo e as Olimpíadas são realizadas a cada quatro anos. Assim, temos um grande evento do esporte mundial a cada dois anos. Esses eventos requerem orçamentos estratosféricos e, via de regra, no país sede faltam verbas para os programas sociais como a saúde e educação. África do Sul em 2010 e Brasil 2014 são bons exemplos. 
O futebol é uma unanimidade nacional. É discutido exaustivamente pela população, mas quando o assunto é educação e saúde nós não estamos envolvidos tanto quanto deveríamos e os governantes também não estão assim tão comprometidos quando o assunto é Copa X Hospitais, pois uma copa é muito mais importante e, convenhamos, não se faz uma copa construindo hospitais (sic).
As nações do mundo deveriam criar uma federação internacional da educação e um Comitê da saúde. Uma espécie de FIFA da educação e COI da saúde. Faríamos a cada quatro anos uma copa do mundo da educação e umas olimpíadas da saúde. E aí teremos um país inteiro na organização. Fiscais iriam visitar as cidades sedes, subsedes e afins. A cada quatro anos o país sede teria que construir, remodelar, modernizar as escolas e ginásios, melhorar os salários, merenda, transporte, quadra de esportes, bibliotecas etc. A Federação convocaria voluntários pra trabalhar na copa. Aí, sim, nós teríamos muito a comemorar. E se alguém propuser a construção de um estádio padrão FIFA terá uma resposta de pronto: não se faz copa da educação construindo estádios. O comprometimento com a Copa da Educação seria muito grande.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Aos escritores e, principalmente, aos editores gaúchos



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

A maior parte das minhas aquisições de livros é na Cesma – Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria – ou adquiro o exemplar que está disponível ou faço encomenda via site.
Dois motivos: a Cesma é uma cooperativa e o cooperativismo é uma militância de longa data e, lógico, o preço, os associados da Cesma adquirem livros com 20% de desconto. Mas vamos ao causo...
As últimas seis encomendas que fiz foram nos últimos dois meses. Mas uma encomenda efetuada em 29.12.2013, até o presente momento, sábado passado, não tinha chegado e outras que fiz a posteriori já estavam à disposição. Inclusive a “Década perdida” chegou num piscar d’olhos (rs).
Então, fui conversar com o Telcio, o gerente, sobre a tal encomenda – A condição indestrutível de ter sido, livro de Helena Terra editado pela Dublinense – aí vem a surpresa. Todos os demais livros encomendados eram de editoras do centro do país e com livros em distribuidoras. No caso desse livro, a editora Dublinense não coloca em distribuidora, mas não é privilegio só da Dublinense, a maioria das editoras do Rio Grande do Sul [leia-se Porto Alegre] os livros não estão disponíveis em distribuidora, assim, para conseguir o livro tem que esperar fazer um volume razoável para encomendar diretamente na editora. Como alguns títulos já estão na casa, o meu pedido fica aguardando mais encomendas de leitores interessados nos livros da Dublinense.
Assim, cabe uma reflexão, os autores editados no centro do país, além de ter uma grande editora, tem melhor distribuição, inclusive no Rio Grande do Sul com relação aos autores gaúchos. Não quero propor uma reserva de mercado para autores gaúchos, mas cabe uma reunião entre os editores guascas para tentar espraiar melhor os livros no Rio Grande do Sul. A impressão que tenho é que Porto Alegre fica ensimesmada no seu mundinho metropolitano e fica de costas para o estado. Eu, particularmente, sou leitor de autores latino-americanos e gosto de ler o que a gauchada anda escrevendo, mas cabe uma melhor distribuição de autores gaúchos para os gaúchos, caso contrário vamos ler os autores que têm melhores níveis de distribuição. Aí as prateleiras ficam infestadas de Paulo Coelho e afins e; logicamente, excelentes autores nacionais e internacionais.
Senhores editores da literatura guasca, reúnam-se num almoço no Chalé da Praça XV e iniciem uma discussão sobre esse assunto. O Rio Grande do Sul não é só Porto Alegre.