quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O dia histórico

twitter.com@athosronaldo

Alguns acontecimentos deixam marcas que nem o passar dos anos consegue apagar. E somos capazes de lembrar o que estávamos fazendo no momento daquele episódio que envolvia alegria, emoção ou comoção.
Consta que os gaúchos, com mais de 50 anos, lembram o que estavam fazendo no dia da morte de Pedro Carneiro Pereira. Era um domingo ensolarado de um longínquo outubro de 1973. Eu jogava nos infantis do “Gandense” e disputávamos um amistoso em Tupanciretã. Tudo bem, eu era reserva e joguei os minutos finais do segundo tempo.
A morte de Airton Senna também foi motivo de profunda tristeza. Naquele dia eu estava em uma festinha de criança em Itaara. Um almoço triste, mas ensolarado.
No dia 11 de setembro de 2001 eu estava em frente ao bebedor servindo um copo de água quando uma colega passou e disse: aviões estão sendo jogados nos edifícios em Nova Iorque. A partir de então o dia parou, nossos olhos ficaram vidrados diante da televisão. O terrorismo em tempo real.
Os atentados ao World Trade Center foram um marco. Uma comoção mundial, o ato terrorista marcou o início do século XXI. A partir de então a segurança das metrópoles foram profundamente alteradas e mais minuciosas. Qualquer bisnaguinha contendo gel na bagagem de mão era motivo de desconfiança nos aeroportos.
No entanto, o dia 13 de outubro de 2010 estava reservado especialmente como um dos mais solidários desses tempos ditos modernos. Um simbolismo recheado de solidariedade e esperança. Assim, essa quarta-feira em que 33 chilenos ressurgiram das cinzas ficará nas nossas consciências. Será o dia em que a humanidade se solidarizou com os trabalhadores mineiros. E cantou junto seu brado de vitoria: Chi, chi, chi, le, le, le. Um resgate transmitido ao vivo para todos os cantos da Terra. Cada mineiro que emergia pela Fênix II era uma lágrima que escorria pela face. O episódio do Chile nos tornou um pouco mais humanos. Menos raivosos e mais condescendentes.
Nesse mesmo dia ao cair da tarde estava marcada a assembleia dos bancários para definir os rumos da greve. Fiz uma breve manifestação e falei da solidariedade e da indignação. Sobre a solidariedade invoquei os ferrinhos que também eram uma categoria que tinha uma sólida base social e de luta. E extremamente solidários e, também, sofriam as agruras da vida e de péssimas condições de trabalho. Indiretamente, homenageando os ferrinhos estava homenageando os trabalhadores chilenos.
Daqui a alguns anos ainda lembrarei do dia 13 de outubro de 2010 como uma breve e emotiva manifestação em uma assembleia de bancários, mas com o coração nas profundezas de uma extinta mina no deserto do Atacama no Chile.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Discriminação e Isonomia - Carta aos bancários

“Há cantos que calam vozes
E há vozes que calam cantos
Como calar, no entanto
O claro canto dos pássaros
Se pra cantar nascem tantos”
Colmar Duarte.

Estamos a caminho de mais um desfecho das negociações salariais. E pelo visto nada alentadores. A regra dos últimos oito anos vai se repetir. Fazemos uma greve forte e levamos um índice aquém do tamanho do nosso movimento. Diria Honório Lemes: gastamos pólvora em chimango.
Mesmo assim, tudo estaria na mais santa paz se a Caixa – governo Lula – não praticasse mais um ato discriminatório. Não é de hoje que os gestores vêm excluindo colegas que não estão nos planos orientados pela direção. E, o pior de tudo, com a subserviência dos colegas que nos representam. O silêncio das entidades representativas é ensurdecedor. E a empáfia dos gestores é assustadora.
Nas cláusulas especificas a Caixa – governo Lula – oferece um aumento linear para quem está no PCS 2008. E quem não está nesse plano fica discriminado. Nos últimos anos a Caixa – governo Lula – vem diuturnamente discriminado colegas. E os “capas” do movimento sindical capitaneados pela Articulação Bancária estão inertes. Inebriados pelas tangências do poder. Encantados pelas mesas, ditas de negociações, que mais parecem um palco de egocêntricos e “iluminados” numa ilha da fantasia.
Se temos uma mesa única. Se temos uma campanha unificada. Então, por que aceitar uma proposta que discrimina? Uma proposta que divide? Uma proposta que prima pela desigualdade. Essa proposta deveria ter sido recusada na mesa de negociações porque fere o princípio da isonomia pelo qual tanto lutamos.
Chegamos ao cúmulo de um grevista não estar nesse plano e não levar o aumento. E um pelego que está no PCS 2008 ganha o aumento. Ou seja, finda a campanha salarial um pelego tem maior aumento que um grevista. Devem estar rindo dos palhaços que somos nós. Companheiros, lutem para ajudar os pelegos.
Quando o comando recomenda a aceitação dessa proposta ele está conivente com a discriminação. Está conivente com o descaso da Caixa. Será desalentador ouvirmos o discurso do pós-greve fazendo loas às conquistas. Qualquer tergiversação é retórica para acalentar bovinos.
Isso nos deixa indignado. E o tamanho da nossa indignação pode se refletir nas urnas, pois eu esperava mais de um governo popular. Eu esperava mais de uma candidata que se orgulha de ser a mãe do PAC e do Minha Casa Minha Vida. Eu ainda não acredito que no apagar da luzes do governo Lula a palavra mais pronunciada seria discriminação. E pensar que há oito anos a esperança venceu o medo. Nesse segundo turno a indignação poderá vencer a esperança e isso é temerário. Por enquanto, meu voto está sub-judice.
Durante a greve eu vi várias camisetas com os dizeres “Igualdade de direitos para todos” e “Isonomia entre novos e antigos”. Camisetas essas patrocinadas pelos sindicatos do RS e Fetrafi. Será que não é chegada a hora de fazermos uma campanha contra a discriminação?
Se você fizer greve... sorria, você ainda vai ser discriminado.

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Santa Maria – RS

No linque abaixo Canto Livre com Cesar Passarinho

http://www.youtube.com/watch?v=oTmBpZrhYg4&feature=related

domingo, 3 de outubro de 2010

O espumante de Plínio

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com@athosronaldo

Devemos reconhecer que os debates seriam monótonos e técnicos se não houvesse a participação de Plínio de Arruda Sampaio do PSOl.
Todo o encontro de presidenciáveis é um momento para se discutir os rumos do Brasil. Olhar no olho de cada candidato e decifrar a sua sinceridade. Os debates são o auge da campanha política, o momento do vamos ver. No entanto, como toda reunião, se faz necessário alguns instantes de descontração. Aquela hora em que relaxamos e tomamos novo ânimo para seguir ouvindo. E coube ao Plínio essa incumbência, essa mudança de rumo dos encontros. Um debate com Dilma, Serra e Marina seria previsível. O vermelho, o azul e o verde. Seria alguma coisa próxima a uma canção de ninar. Tudo muito sério, certinho e definido.
Plínio era a incerteza, a imprevisibilidade. A candidatura Plínio foi fundamental nessa campanha, fez o contraditório, colocou o dedo nas feridas. Foi alegremente inconseqüente e terrivelmente mordaz. Eu diria que Plínio foi um gol de bicicleta de impedimento. Bonito, mas foi anulado.
Nós podemos perceber as grandes diferenças de postura nos pequenos detalhes. Enquanto os demais candidatos traziam os assessores a tiracolo para o último debate, Plínio chegou de mãos dadas com as netas. Nessa mesma noite, em alguns momentos, lembrou o Brizola com a sua espirituosidade guasca, aquela coisa meio fora do lugar. O Plínio foi um candidato ideológico, um militante do partido. O marxista convicto dessa eleição. Sendo o mais idoso dos candidatos, conseguiu cativar os mais jovens. E isso tem algo de dialético. Eu diria que Plínio foi um idoso rebelde. Usou o deboche e a ironia fina sem ser mal educado.
No dia seguinte ao debate da Globo, o velho marxista cancelou seus compromissos de campanha e ficou em frente ao mar, no Arpoador, degustando um espumante. Qual candidato tomaria um espumante pela manhã? Quem poderia assumir esse “desvio pequeno burguês”? Tinha que ser o Plínio. É claro que diante de um espumante borbulhando a gente adia a revolução, lógico. Ainda mais em frente ao mar do Rio de Janeiro.
Durante o horário eleitoral e, principalmente, nos debates nutri uma simpatia pelo candidato. Pelo jeitão engraçado, pelo humor descolado dos protocolos. O Plínio chamando o Serra de Zé era impagável.
Assim, diante da urna eu titubeei. Mas não digitei o número de Plínio. Afinal, já não sou tão rebelde como era antigamente, embora tenha adiado a revolução por conta de uma cervejinha – naquele tempo ainda não era cervejão – a mais na noite anterior. Mas em casa, saboreei um liso da colônia sob a sombra de uma corticeira. Pois a revolução a gente deixa para os jovens como o Plínio.