quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O jogo de Marina




Athos Ronaldo Miralha da Cunha

A ex-senadora Marina Silva foi o centro da pauta política das últimas semanas por conta do vai e vem da sua rede.
A REDE não sustentou o número mínimo de assinaturas e o partido não conseguiu o registro junto ao tribunal. Os ministros julgam a luz da letra fria da lei. Assim é que deve ser e, aparentemente, balançou a rede do gol de Marina. O Brasil tem mais de 30 partidos e, cá entre nós, a maioria fundado por oportunistas com o intuito de barganhar espaços políticos em coligações por conta de tempo na televisão. E nas campanhas temos aqueles lunáticos engraçadinhos e suas ideias mirabolantes para o país. Mas tudo dentro do nosso jogo democrático. A REDE propôs algo diferente, um debate moderno sobre meio-ambiente e sustentabilidade, mas foi derrotado pela burocracia ou pela incompetência em organização. No entanto, um partido com uma base social atual, com quadros engajados na discussão de desenvolvimento para o país, não consegue o seu registro. Então, concluímos que falta para o Brasil – e isso é chover no molhado – uma verdadeira reforma política.
Como sabemos, Marina Silva fez quase 20 milhões de votos na última eleição presidencial. E seria uma lástima para o país e para a política se Marina não jogasse em 2014. Marina é uma personalidade política que não serve para ficar no banco de reservas. Pois, o debate sobre o desenvolvimento sustentável tem que estar na pauta da eleição. Embora, naquelas horas entre a negativa do registro da REDE e a nova opção partidária de Marina, ela tenha sido a noiva mais cobiçada da eleição, não vislumbro uma transferência de votos. Penso que boa parte dos votos dados a Marina em 2010 foram por eleitores cansados de uma polarização eleitoral de quase duas décadas e queriam algo novo ou diferente. Se Marina não jogar, os 20 milhões de votos estarão na disputa, se jogar, terá que reconquistá-los.
Marina tentou jogar diferente com a REDE, mas foi derrotada. Então, teve que jogar o jogo que estava posto. O mesmo jogo que é tradicional na nossa democracia: acordos pragmáticos, embora o discurso seja programático. E entrou em campo aos 45 minutos do segundo tempo. Sendo derrotada na letra fria da lei, está no jogo de 2014 pela mesma letra fria da lei e da nossa democracia. Acordos pragmáticos fazem parte da nossa cultura política e aí todos têm telhados envidraçados, mesmo que alguns estejam estilhaçados.
Penso que haverá uma mudança da terra para a água, ainda acho que o Eduardo Campos sai de campo para entrar Marina – se é que fui feliz no trocadilho –, mas isso só o tempo dirá.
A sensação que fica é de que o PSB sublocou uma varanda para a REDE, só tenho dúvidas se vai ser “sustentável” por muito tempo. Mas o fato é que esse acordo deu uma bela chacoalhada na eleição de 2014. E a corrida para acordos “programáticos” segue frouxa. Aguardemos o desenrolar dos fatos.
Enfim, nesses dias invernais “e quando todos praguejavam contra o frio eu fiz a cama na varanda” ou seria rede?

sábado, 5 de outubro de 2013

“Um chimarrão, com Maiakóvski. Ou seria com Silva Rillo?”



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Na primeira aparição ele está sorridente e nos convida para conversar. A gente reluta, mas como é um jovem simpático, aceitamos prosear com o vivente. E a lábia é grande. Nos oferece um trago de canha com butiá.
E achamos legal e bebemos junto.
Posteriormente, ela entra em nosso jardim, nos promete o paraíso e uma vida digna. E toma chimarrão com a gente na varanda.
Ah! Mata nosso cusco, mas o cara é bom de papo.
Um belo dia ele entra em nossa casa e pede o nosso voto.
E nos oferece um ramalhete de capim-cidreira para o chá. E nós damos o nosso voto e conseguimos os votos dos amigos. E os amigos conseguem os votos dos amigos dos amigos.
Quando nos damos conta é tarde. O fulano está mandando e desmandando. Já entregou empresas públicas, aniquilou manifestações e arroxou os salários. E aí temos como universo o umbigo dentro do nosso quarto.
Por medo nos calamos e aceitamos migalhas. E achamos que a democracia é para todos: é representativa.
Que a justiça é cega, cega para alguns.
E a nós resta esperar para dali a um tempo ouvir outra voz simpática desse Brasil vir à televisão e convidar: vamos conversar?
Mas a garganta grita: PUTA QUE PARIU!


Um plágio pseudo-bagual do poema
“No Caminho, com Maiakóvski” de Eduardo Alves da Costa