segunda-feira, 22 de abril de 2013

A bundinha do Nelson



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O dado é estatístico.  A bunda é a preferência nacional. É só abrirmos uma revista, dita masculina, para vermos o abundante espectro de bundas que rondam o país. Diante dessa morfologia vamos segurando o tchan, e algumas vezes olhando descaradamente para a fruta que anda logo a nossa frente. E quem não olharia? Se até o todo-poderoso Obama – numa reunião de cúpula, c-ú-p-u-la, ao lado do Sarkozy – olhou para uma bela bunda passante de uma jovem brasileira, disfarçadamente, é claro.
Com as novas leis que regem o emprego doméstico, o debate se instalou na classe que contrata, a média. E, na média, ficou de bom tamanho, embora a polêmica sobre o provável desemprego ou aumento do número de diaristas, que segundo alguns analistas, é uma constatação.
Nesse caloroso debate o Nelson postou no Facebook a foto de sua empregada, ou a foto da empregada de um amigo. Evidentemente, a “Dosa” estava trabalhando na cozinha em frente a pia. Vestia-se apenas com um fio-dental. Um flamante fio-dental de derrubar o queixo e a baba dos marmanjos. A guria em frente a pia preparando uma salada sensual de tomates. Tomate Maduro para agradar ao patrão – coloquei a palavra Maduro para dar um enfoque político nesse alienado texto – ou, quem sabe, a moça esteja preparando Tomates Verdes Fritos – este para dar um toque cinematográfico ao texto, já que a cena é sensual, deslumbrante e exageradamente cinematográfica.
Os patrões do Facebook curtiram, compartilharam e teceram inúmeros comentários acerca dos atributos da esbelta e bela bundinha do Nelson, ou da bela bundinha da empregada do Nelson ou do amigo do Nelson.
A hipocrisia dos gaviões da infiel correu frouxa.
– Vejam como ela corta o tomate!
– Que talento diante da pia!
– Os lóbulos das orelhas são perfeitos!
– Linda aquela florzinha azul no cabelo!
– Imagina ela varrendo o pátio!
– De joelhos limpando o chão da sala!
Esses foram os comentários dos dissimulados candidatos a patrões que salivavam diante da foto no vídeo.
E, assim, todos babamos de inveja da bundinha do Nelson... da bundinha da empregada do Nelson, ou do amigo do Nelson.
Teve gente que dobrou o salário fazendo uma descarada proposta. Outros conseguiram gaguejar ao escrever o comentário. Mas o certo é que a moça é uma boa trabalhadora, uma excelente trabalhadora. Tomate ela tempera bem, gostaria de saber como ela tempera o pepino. Aí, sim, se demitirem... está contratada. Contratadinha!

O prefeito furou a fila



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Numa cidade do interior do Rio Grande do Sul o prefeito se dirige ao caixa da livraria para adquirir um exemplar do livro a ser autografado.
A sessão já havia começado. A atendente solicita gentilmente o nome do prefeito para colocar num papelzinho no interior do livro para não constranger o escritor. Numa possível falha na memória. O prefeito sorri amarelo, pensa um pouco e responde com um “ele me conhece” sem jeito.
Assisti a cena, pois eu era o próximo da fila para aquisição do livro. Quando comentei com a moça que o cara era o prefeito da cidade ela simplesmente falou um desajeitado “eu não sou daqui”. Acontece nas melhores famílias. Até pensei em comentar com o prefeito que a guria “não era daqui” para aliviar seu desapontamento, mas resolvi deixar o chefe sestroso. Uma munícipe que não conhece o prefeito deve ser algo que incomoda.
Paguei, falei o meu nome para ela colocar no papelzinho – o escritor não me conhece – peguei o livro e fui para a fila de autógrafos. Havia seis pessoas na fila, em minha frente um cara com três exemplares. Então, seriam oito autógrafos antes do meu. Pacientemente aguardei.
Folheava e via que o conteúdo causaria algum alvoroço na politica local. Um vespeiro misturado com teorias da conspiração. Mas farei uma leitura mais atenta nas minhas férias de maio. Quando curtir um “sol de maio”. 
O prefeito, como era muito conhecido do autor falou um festivo “vou furar a fila” e, descaradamente e sem-cerimônia, furou. Abraçaram-se como velhos amigos e o prefeito recebeu o autógrafo. Despediram-se com mais sorrisos, abraços e tapinhas nas costas. Afinal, eram duas raposas da politica. Logo, o prefeito foi tomar um cappuccino com outros pares. E nós ali, respeitosa e pacientemente, aguardamos na fila.
Pois é, né.

Ah! Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O valente Vanderlei



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O “corridão” – como diria meu avô – que o Vanderlei Luxemburgo levou no final do jogo contra o Uachipato foi memorável.  São nesses momentos que percebemos a valentia do ser humano. O Luxemburgo ao fugir dos jogadores chilenos caiu e perdeu a pose de machão. Sujou o terno Armani e foi amparado por policiais. Nem parecia o Luxemburgo que botou o dedo na cara de um gandula num Gre-Nal.
O fato é que o futebol profissional não pode ser resumido em arranca-rabos, socos e pontapés numa lambança geral. O futebol envolve a paixão dos torcedores e, atualmente, temos muito radicalismo em nome de uma paixão tresloucada. O futebol precisa de mais arte e menos bola para o mato.
O fato é que a “Fifinha” americana deve tomar uma atitude mais ríspida contra equipes que não sabem perder e protagonizam lances de irresponsabilidade e selvageria.  E treinadores que querem apitar junto com o árbitro. A cada final de partida, principalmente as decisivas da Libertadores, vira esse tumulto como foi o jogo no Chile. Então, a Conmebol deve ser mais disciplinadora e punir com mais severidade para inibir tais práticas antidesportivas.
No entanto, a atitude valente do Luxa fez lembrar algumas outras atitudes de extremada valentia do próprio Luxa e de um craque da seleção Canarinho. Num jogo amistoso contra a seleção Uruguaia em abril de 1976 o nosso Rivelino – tricampeão de 70 – também saiu em disparada do Maracanã. Fugindo de dois ferozes charruas escorregou e sumiu escadaria abaixo rumo ao vestiário. Não apanhou, mas ficou com a bunda toda esfolada. O jogo era no Brasil, muita gente para defender, não haveria a necessidade de se borrar todo.
Bem mais recentemente, no Gre-Nal da final da Taça Farroupilha 2012, o Vanderlei Luxemburgo foi de dedo em riste para cima do brutamonte do pobre de um gandula. Raivoso, xingou e esperneou. Tudo por conta do escanteio cobrado por Dátolo. O valentão Luxa não gostou da forma que o gandula repôs a bola. O jogo virou um tumulto generalizado com bate-bocas e empurrões. O técnico do co-irmão foi expulso e o gandula culpado pelo alvoroço.
Nos episódios em que o Luxa se envolveu – no  Chile e aqui em Porto Alegre –, podemos concluir que é muito mais fácil ser valente para cima de um gandula do que para cima dos jogadores do Uachipato. Isso que o Luxa não deu de cara com o cotovelo de um certo chileno que andou jogando por essas bandas, lá na década de 70.