sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Comandante Che Guevara



- Método prático da guerrilha -
Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Che Guevara é um personagem da nossa história recente que virou mito. É um símbolo de luta contra os poderosos. Uma pessoa que acreditou em uma utopia e foi ao seu encalço. Odiado e idolatrado com a mesma veemência. Mas só pela convicção revolucionária merece ser admirado, independente de cores ideológicas.
Che foi um sonhador. É de Guevara a celebre frase “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”. Mas a que ficou célebre foi “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás.”
Alberto Korda imortalizou a imagem de Che na foto denominada “Guerrilheiro heroico”, tirada em 1960. Che foi cantado em prosa e verso. A música “Hasta siempre comandante” na voz de Nathalie Cardone é emocionante. Um ícone musical em homenagem ao comandante. Che é o principal símbolo da esquerda revolucionaria e sonhadora. Mas também é uma marca comercial em chaveiros, camisetas, cerveja e até pelos biquínis de algumas beldades já andou.
Jon Lee Anderson esmiuçou a vida do comandante nas 920 páginas do livro “Che Guevara uma biografia”.
O assunto Che é inesgotável. Então, chegou nas livrarias o livro “Método prático de guerrilha” de Marcelo Ferroni. Uma obra de ficção sobre os últimos momentos de Guevara na campanha da Bolívia. Um romance baseado em fatos reais. Nesse livro percebemos que Che era um leitor no silêncio da mata. “Guevara adormeceu no chão, cabeça apoiada no braço, o livro aberto com a capa para cima. A Cartuxa de Parma”, página 86. Naquele momento Che lia Stendhal.
Na página 192 a indicação de outras leituras do comandante. “Perderam onze mochilas e Che deixou para trás um livro de Trótski e outro de Régis Debray.”
Também descobrimos que um brasileiro de nome João Batista participou da guerrilha e também sucumbiu na Bolívia.
Marcelo faz uma narrativa envolvente, a leitura flui como os sonhos revolucionários do comandante, mas o Che da ficção é mais humano, vem com suas incertezas e destemperos. Passa “a lo largo” da narração o Che Guevara mito e é por isso que a leitura e boa. Enxergamos o homem revolucionário que foi capturado com meia dúzia de comandados e maltrapilho. Naquele 08 de outubro de 1967 a história chega ao fim.
Talvez o livro merecesse um título mais romântico, mais ficção, algo utópico. Lendo-se apenas o título, parece um tratado técnico de guerrilha, mas não é. É uma bela narrativa de ficção.

Reflexões sindicais

– Um sindicalismo potro sem dono –
Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O movimento sindical como um todo – e o bancário em particular – precisa ser repensado. Precisa renascer das cinzas se não quiser sucumbir em definitivo diante dos anseios e demandas dos trabalhadores.
Com a atual conjuntura e com os atuais dirigentes, não vislumbraremos conquistas relevantes para o conjunto da categoria. Hoje, há uma demanda reprimida de conquistas e manifestações. Há um anseio por reivindicações e lutas mais contundentes. E o sindicalismo não está cumprindo com essa demanda, não como cumpria há uma década.
Um exemplo que ficou claro recentemente (de uma demanda reprimida da sociedade) e que serve como alerta aos movimentos sociais, foram as manifestações ocorridas nas capitais do Brasil por ocasião das comemorações do dia da Independência.
Um movimento organizado via internet. Uma ferramenta que mobiliza milhões em tempo recorde e que está alguns passos ou anos a frente dos movimentos sociais. Uma maneira arrebatadora de arregimentação. Um movimento que se originou à margem das centrais, partidos e ONGs. Hoje, qualquer grupo de discussão na internet, ou nas comunidades de relacionamentos na web tem mais informação que uma assembleia de mobilização com meia dúzia de gatos pingados. Assim, percebemos que o movimento sindical continua com a mesma organização de 50 anos atrás.
Essa reflexão deve ser feita pelas categorias de trabalhadores. Nós estamos fazendo o sindicalismo arcaico. Inclusive, as formas de cooptação das atuais direções remontam a Era Vargas, com mais intensidade e adesismo, que nos deixam alarmados e preocupados com o futuro.
Então, para repensar o sindicalismo, a discussão, invariavelmente, passará por uma profunda democratização das entidades e instituições de representação. O modelo como está, está com o prazo vencido. Nossos representantes não representam a base da categoria e, sim, as tendências do movimento. E essas tendências do movimento se engalfinham pelos mais ridículos motivos. Desde a formação de uma simples mesa numa assembleia de dez pessoas a um cargo de suplente de suplente no conselho fiscal do sindicato dos bancários de “Cacimbinhas”. Nosso horizonte de lutas está rebaixado. Falta utopia e uma bandeira para desfraldar. Falta uma “gana missioneira”.
Nossos representantes são eleitos em congressos de dirigentes sindicais – sim, a esmagadora maioria dos participantes dos congressos são dirigentes sindicais – muitos deles há dez, quinze ou vinte anos a frente das entidades. Perpetuados nas direções que dizem sim, sim e sim aos “capas-pretas” do movimento que por sua vez dizem sim, sim, e sim aos governos. Nossas lideranças estão carcomidas e acomodadas em liberações ad eternum.

O atual sindicalismo é pautado pelas eleições sindicais. Têm sindicalistas que passa o tempo viajando para ajudar nessas eleições, pois a disputa é por espaços das correntes, cada vez mais intestinas e truculentas.
É comum vermos discursos inflamados nas assembleias – de companheiro A – baixando o cassete nas políticas da corrente do companheiro B. Mas já na próxima eleição o companheiro A apoia a chapa em que está o companheiro B. Isso é um reflexo da política no Brasil, não existe mais ideologia, o que vale são cargos e “poder” a qualquer preço.

Como são as eleições no movimento sindical e associativo?
Para fazer um comparativo descreverei as eleições nas Apcefs – Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal – e dos sindicatos de bancários.
As eleições das Apcefs são mais democráticas. Nós elegemos, por exemplo, por voto direto tanto para as associações estaduais, como também para a FENAE – Federação Nacional das Associações. Há um edital e as chapas se inscrevem e disputam o pleito expondo suas propostas e explicitando suas diferenças.
Nas eleições dos sindicatos de bancários a democracia tem um certo limite. As eleições para o sindicato são diretas. A categoria vota diretamente nas figurinhas que estão concorrendo. No entanto, quando temos que eleger os membros da Fetrafi-RS – Federação dos Bancários do RS – como também para a Contraf – Confederação dos Bancários – essas eleições se dão de forma indireta em um colegiado (congresso) estadual ou nacional.
Cabe salientar que esses encontros de bancários são na realidade encontros de dirigentes sindicais. A base da categoria tem pouca representação nesses encontros. Arrisco a afirmar que o percentual de delegados dirigentes sindicais beira a 90%. Assim, a base fica totalmente alijada do processo. A base da categoria não sabe quem são os diretores das federações e da confederação. Os nossos negociadores – os colegas que vão negociar a pauta do dissídio com os bancos – são indicados proporcionalmente pelas correntes. E mais uma vez a base da categoria não conhece esses “negociadores”.
E a conseqüência disso? A total falta de representatividade.
Esses colegas dirigentes estão deslocados, sem inserção e conhecimento da base. Aliás, esse desconhecimento é uma via de mão dupla. A base não conhece esses representantes e os representantes não conhecem a base.

A grande questão a ser discutida no sindicalismo – em particular o bancário – é a democratização das representações. Ou seja, eleições diretas para todos os níveis e instâncias: sindicatos, federações e confederação.
E a partir dessa discussão devemos avançar para serem eleitos de forma direta os representantes nas comissões por banco que farão as negociações especificas da categoria. No rol de processo de reformas consta a implementação de uma nova política no que diz respeito às liberações para o sindicato.
Como são as liberações hoje? Os “capas-pretas” de cada tendência se reúnem e decidem as liberações pelas facções. Decidem quem deve ser liberado e esse “liberado” fica comprometido com aquela tendência. Deus o livre se esse companheiro resolver levantar o crachá numa assembleia em desacordo com os ditames da tendência.
Houve um caso de um sindicato com pouco mais de 100 associados teve duas liberações para o Banco do Brasil. E outro sindicato com mais de 1000 associados sem um sequer. Essa é a lógica das liberações quarteadas entre as tendências.
No atual modelo qualquer desavença na direção, um companheiro pode ser “aconselhado” a voltar para o banco, pouco importando sua representatividade ou os desdobramentos financeiros e profissionais de uma volta sem um prévio acordo com os gestores. Com já ocorreu em vários casos.
Então, a questão a ser discutida nos fóruns é justamente a maneira de como devem ser escolhidos os liberados para trabalharem no sindicato. E a resposta é simples: as liberações devem ser dadas pelo número de associados. Por exemplo: um número X de liberados para cada mil associados. Independente das tendências. Independentes dos padrinhos políticos e líder máximo da organização. Assim, teremos um colega comprometido com o sindicato e com a categoria e não com uma tendência ou chefete de ocasião.

Os novos tempos requerem uma nova postura das direções sindicais. Devemos rever algumas estratégias pela mesmice de atuação anos a fio. Assembleísmo e conchavos cabem muito bem para as disputas fratricidas das direções quando não há um horizonte de lutas como ocorre na conjuntura atual. Os sindicatos foram engolidos pelos patrões, mais acentuadamente quando o patrão é o governo federal. Há anos não vemos um enfrentamento de verdade contra o patrão federal. Vemos, sim, direções subservientes e acomodadas que blindaram o governo Lula com apresentação de índices absurdamente rebaixados e continuam blindando o governo Dilma com uma reivindicação de risíveis índices.
Hoje, temos novas ferramentas de mobilização e informação. Com meia dúzia de cliques coloca-se uma informação para o país inteiro pelas redes sociais. E queiram ou não essas ferramentas fazem parte do cotidiano de todas as categorias. E mobilizam muito mais que uma assembleia esvaziada.
Enfim, o sindicalismo precisa ser repensado, caso não queira sucumbir diante dos patrões e diante de uma categoria que – na maioria das vezes – não tem a eloqüência dos “capinhas” mas que tem uma arma que é poderosa na atualidade: as redes sociais.
As redes sociais transformam uma massa de trabalhadores numa comunidade sem dono. Estamos diante de uma nova onda, uma manifestação de um neo-sindicalismo potro sem dono. Mais livre e democrático e mais participativo. “Vai potro sem dono, livre como eu”. Queiram ou não os atuais e perpétuos dirigentes.


Potro sem dono
Letra e música de Paulo Fagundes.
Interprete: José Claudio Machado.






quarta-feira, 7 de setembro de 2011

11/09/2001

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

Há dez anos o mundo ficou dividido entre antes e depois do onze de setembro. E, hoje, penso que sempre foi assim: o mundo sempre esteve dividido entre o antes e o depois.
Naquela manhã a humanidade assistiu incrédula, cenas de fanatismo e barbárie. Naquela “Vila do Sossego” os aviões não vomitavam paraquedas, mas praticaram quedas inesquecíveis.
Muitos homens e mulheres sonharam com a revolução para mudar o mundo. No auge da Guerra-Fria combatiam-se as ditaduras e pregava-se o “paz e amor”. A vida tinha que ser vivida intensamente. A guerra do Vietnã, também motivada pela insanidade, foi um símbolo da luta pela paz na década de 70.
O mundo mudou e continuará mudando. A revolução foi feita pela informática e o mundo mudou pelo terror. Mudamos todos e das mais diversas maneiras. Há muito tempo nossas vidas estão mais apreensivas, os exércitos mais atentos, a polícia mais vigilante e o terrorismo mais audaz.
No tabuleiro chamado Terra caíram as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque. Há um jogo de lances calculados e interesses escusos. Houve vencedores, mas muitos são os perdedores: a paz, a vida e, até, a nossa preservação enquanto espécie.
Naqueles anos os noticiários tornaram-se mais cruéis. Contamos, aterrorizados, as vítimas nos trens de Madri, inocentes em Beslan e insensatez em Bagdá. Naquele tabuleiro com lances contraditórios a cada movimento de poderosos cavalos, intocáveis reis ou obedientes peões, inocentes perderam a vida em algum lugar do planeta. Havia um xeque-mate unilateral, porque esse jogo sempre foi desigual e sempre rebentou nos mais fracos. E de lá para cá estamos prisioneiros de nossos medos. Onde você estava na manhã do dia 11 de setembro de 2001?
Gostaria de escrever sobre meninos jogando bolinhas de gude, meninas pulando sapata e crianças em rodas de ciranda. Escrever sobre moleques jogando futebol, bolas que estilhaçam vidraças ou que sujam as roupas no varal. Ou, ainda, sobre juras de amor à sombra das corticeiras. Um casal que caminha descalço na areia de uma praia deserta ou sobre os primeiros fachos de sol na relva de uma manhã de primavera.
É impossível não ser triste. Havia algo de sólido no ar daquela manhã, um sabor ácido nos noticiários. Um cheiro de enxofre no tempero das páginas dos jornais.
No início do terceiro milênio o mundo mudou. Tornamo-nos diferentes e indiferentes. Hoje, percebo que o mundo continua mudando e que o onze de setembro parece que foi ontem. E com a estranha sensação de que um avião vai me atropelar logo ali na esquina.

domingo, 4 de setembro de 2011

O falso Cadafi no cadafalso

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

O que está ocorrendo na Líbia merece atenção política e econômica do mundo inteiro. Os desdobramentos da queda de Gadafi repercutem no quadro ideológico da região, mas muito mais na economia por conta do petróleo.
Não é fácil para Ghaddafi se desapegar do poder, afinal, são mais de quatro décadas de ditadura. No começo dos confrontos os discursos de Kadhafi, para insuflar seus seguidores, eram emblemáticos. “Nós lutaremos, nós derrotaremos esses ratos”, uma espécie de “não me deixem só” do Oriente Médio que também não deu certo, pois corre à boca pequena – e a grande também – que o Khadaffy já caiu. A dúvida dos analistas, governos, empresários e palpiteiros em geral é saber o que será da Líbia após a Era Khadafy? A incerteza é a resposta.
Para entender esse imbróglio na Líbia sobram versões e análises. A Carta Capital trata os opositores de Qadafi como “saco de gatos que inclui monarquistas, mercenários da OTAN, ex-combatentes da Al-Qaeda, socialistas e empresários”. E chama de ingenuidade dos analistas a expressão “Primavera Árabe”. No entanto, a Isto É fala em “fortes ventos de liberdade soprados pela Primavera Árabe”. E relembra a expressão “Cachorro Louco do Oriente Médio” cunhada pelo ex-presidente dos EUA Ronald Reagan. Mas temos que dar um desconto nessa divergência pela orientação política de cada semanário. Na grafia dos nomes as duas revistas também estão em desacordo. A Carta Capital escreve Kaddafi e a Isto É Kadafi. A Folha de São Paulo escreve Gaddafi. Mas há uma unanimidade: Qaddafi subiu no telhado. A Isto É vira uma Caras ao divulgar um álbum de fotos da ex-secretária de Estado americana Condoleezza Rice com declarações de amor de Kazzafi. Quem disse que os brutos não amam?
Eu cometi um erro fragoroso ao apostar que Qadhafi cairia antes de Renato Gaúcho no Grêmio e Falcão no Internacional. Isso demonstra que não devemos misturar política com futebol, ainda mais quando envolve paixões regionais e ditaduras despencando.
Quando Qadthafi for capturado, qual Qathafi irá para o cadafalso? Conforme as mais variadas formas de escrever Quathafi, a única que não constou nas minhas pesquisas na web foi, justamente, o Qudhafi que está no título. Mas foi a forma que encontrei para deixar Khaddafi num trocadilho que desce redondo ou cai redondo. Consta que existem 112 maneiras de escrever o nome do tirano. Escolha seu Ghadafi. Eu inventei o meu: Cadafi.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O satânico Dr. Go

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

Consta que os projetos mais propostos e aprovados nas Câmaras de Vereadores são homenagens e nomes de ruas. Entre as honrarias estão os monumentos, placas e bustos de heróis e pseudo-heróis, mas com as imagens eternizadas nos bronzes das estátuas. Mario Quintana cunhou a frase “um erro em bronze é um erro eterno” ao recusar uma homenagem numa praça. E era uma simples plaquinha de bronze.
A cidade de Rio Grande – como toda cidade que referencia seus ídolos – também justifica suas homenagens. E é um direito legítimo. Assim, por intermédio do prefeito Fábio Branco será colocada uma placa de bronze e o busto de Golbery do Couto e Silva na praça Tamandaré. General rio-grandino destacado nacionalmente num período também destacado da história recente do país.
Nas hostes militares Golbery era conhecido como Bruxo. Foi um dos mentores do golpe de 64 – o mais incauto dos mortais sabe o significado da expressão “golpe de 64” –, e foi o criador do SNI (Serviço Nacional de Informações) que tinha como principal atribuição “monitorar” quem não estava disposto a dizer amém aos ditadores, ou melhor, quem fazia oposição ao governo militar, principalmente, os mais audaciosos que teimavam em pegar nas armas ou que saiam “caminhando e cantando” pelas avenidas.
Golbery foi uma eminência mais do que parda de todos os governos ditatoriais pós 64. Encerrou a carreira como chefe da Casa Civil dos governos Geisel e Figueiredo. E deixou a cama armada para Tancredo Neves assumir a presidência. Como sabemos, a história foi mais cruel do que o Bruxo poderia imaginar. Sarney foi a ironia do destino.
Para os brasileiros que estiveram no subsolo desse período e que sofreram as atrocidades dos cárceres e da impiedade do Doi-Codi, Golbery do Couto e Silva era, apenas, o “Satânico Dr. Go”. Atuava nos bastidores do poder em uma atividade silenciosa e implacável.
Nessa praça onde será construído o busto de Golbery, também estão homenageados o Napoleão, Marques de Tamandaré e Jesus Cristo. Então, podemos afirmar que general estará em boa companhia. Protegido por terra, mar e céu.
O prefeito Fábio bem que poderia ter deixado essa página em branco no livro das honrarias de Rio Grande. Afinal de contas, Mario Quintana tinha uma certa razão com relação às placas de bronze. Mas eu entendo o prefeito Fábio, Golbery não passaria em branco por Rio Grande.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Lua de setembro

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

Sinto saudades de um setembro, qualquer setembro ainda não vivido. Sinto remorsos do agora porque ainda estou aqui. Sinto não estar vivendo sob a lua que imaginei pra ti.
Quero sentir pingos de chuva numa noite de primavera, quero molhar meus pés na sarjeta de uma ruela de setembro, nas correntezas dos dias e nas vertentes dos crepúsculos. Quero sentar numa pinguela e contemplar a lua distante num ainda distante setembro. Sinto saudades dos trinta dias que não lembro, do setembro que esqueci por não tê-lo sofrido. Quero o mês inteiro com dias finitos para vê-los, tê-los, acariciá-los, todos os dias e noites quando setembro vier.
Não quero águas de março e nem os sóis de maio. Não quero o “carná de feverê”. Quero as luas de setembro. Sinto saudades de todos os meses de setembro. Preciso de uma lua cheia envolta em mistério, quero o uivo da loba numa lúgubre e sinistra meia-noite. Quero o pulo da gata num facho de lua nova.
Quando caminho pela relva em trilhas que nunca andei, em terras que jamais pisei, irei ao encontro de novas cascatas, das cascatas de luas do setembro que certamente virá com a primavera, quando findar o vento sul de julho.
Não quero resquícios de águas, quero torrentes de luas. Não quero panos quentes, quero tapetes voadores e encardidos de vida. Não quero pratos limpos, quero uma louça a ser lavada nas chuvaradas de setembro. Não quero o desgosto de agosto e nem a lua de outubro. Insisto! Eu quero um luar cheio de setembro.
Deixei distante um abril despedaçado para ter um setembro completo, robusto, forte e enérgico. Um setembro simples, cândido, tenro e bondoso. Pode ser qualquer dia de setembro, 25, 26, 27 ou 28, em qualquer lua, mas que seja tua, assim verei na futura primavera luas então nunca vistas, luas em forma de rosas. Rosas da Estação Lua.
Sonho com as flores de setembro e com um cálice de vinho da colônia. Rubro como uma rosa, leve como a lua, fino como a cascata.
Sinto saudades da lua, da tua lua do teu setembro não vivido. Preciso de um setembro florido. Quero ver flores nesse mês distante, preciso ver-te bela, assanhada e enluarada. Quero ver a lua, a lua de setembro iluminando sua face morena. Quero rosar-me ao tê-la. Quero “setembrar-me” ao vê-la. Quero respirar o teu sereno junto com o aroma do setembro e encostar meu corpo no calor de tua pele morena. Talvez a lua seja pequena para momentos assim, ainda assim eu direi sim. Mas se o setembro for em vão e terminar sem mim, quero o reflexo da lua na noite de um rio. Aí sim, quero abraçar o reflexo da lua num rio de janeiro.