
Athos
Ronaldo Miralha da Cunha
Na
semana em que Lula aperta da mão de Maluf para celebrar uma aliança política
com vistas a eleição para prefeito de São Paulo, encerrei a leitura do provocante
“Memórias de uma guerra suja” de Claudio Guerra em depoimento a Marcelo Netto e
Rogerio Medeiros.
Claudio
Guerra foi um dos policiais mais influentes nos tempos da ditadura. Era o
tarefeiro das ordens para executar e extirpar a esquerda do Brasil. O título
está bem com o que é contado, pois uma guerra suja aconteceu nos anos de
chumbo. Uma guerra desigual. Mas poderia ser Memórias de um banho de sangue ou
Memórias de um assassino. Pois é isso que esse Guerra é: um assassino impune.
Cada
página do livro é um assombro de revelações. De conspirações e que passavam ao
largo da ética, da legalidade. Era uma luta ideológica de extermínio. Inclusive
entre os “amigos” anticomunistas.
Assim
aconteceu com a morte de Fleury – um dos mais cruéis líderes dos torturadores
do país – foi tramada em um restaurante pelos seus próprios pares.
“Não
era uma decisão fácil. Sabíamos também que quem votasse contra a morte dele
morreria junto com ele. Era assim que funcionava”. A lista de assassinatos é
grande.
Causa
perplexidade saber que corpos de comunistas eram incinerados em fornos de
fazendeiros. Execuções a sangue frio. E encenações para uma versão oficial do
assassinato. Bem sabemos como foi armada a morte de Vladimir Herzog.
Vejam
o que Guerra diz sobre Nestor Veras – Membro do Comitê Central do Partido
Comunista Brasileiro – “Nestor Veras já estava preso. Ele estava bem machucado.
Após tirá-lo de lá, o levamos para uma mata e demos o tiro de misericórdia”.
Assim
é o livro depoimento. Um relato de atrocidades. Mas o surpreendente é saber que
alguns que ainda estão na mídia também frequentavam o “Angu do Gomes” o
restaurante da conspiração. O Boni da Rede Globo. O hilário Lúcio Mauro do programa
Zorra Total, Jece Valadão e Carlos Imperial. Também fazia parte do angu o Ciro
Batelli que faz participações no programa do Faustão.
Sorte
teve o Brizola que sofreu uma campana por várias semanas e no dia que deveria
ser assassinado não saiu do prédio em Copacabana como rotineiramente fazia. E a
operação foi abortada.
Roberto
Marinho – quem não conhece – foi quem planejou o atentado em sua própria residência.
Pois é, né.
O
livro todo é assim: conspiração, traição, atentados, tortura, dor, sadismo,
assassinato e um banho de sangue.
Eu
comecei esse texto falando do aperto de mão entre Lula e Maluf. Maluf é um legítimo
representante desse período, um filhote da ditadura, se Lula esqueceu todas
essas barbaridades por um minuto e meio de horário eleitoral eu só posso
lamentar.
Por
fim, Claudio Guerra virou pastor evangélico. Hoje vive lendo a bíblia.
Aleluia
irmão.