terça-feira, 18 de junho de 2013

A terceira Lei de Newton e os Vândalos



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Tudo estava pronto para o Brasil mostrar ao mundo os preparativos para a Copa de 2014 com a pré-Copa 2013. Tudo muito lindo. Tudo muito legal.
Mas o raio de R$ 0,20 no aumento das passagens de ônibus em São Paulo desencadeou uma onda de protestos que foram e estão sendo muito além do jardim dos vinte centavos. O país virou notícia no mundo afora e os manifestantes ganharam apoio dos mais diversos lugares do planeta.
É um movimento ainda passível de uma análise mais profunda, inclusive, a grande mídia titubeou no começo, pois quem buscou ou recebeu informação apenas pelos canais da Rede Globo & Cia ficou com uma meia verdade ou uma mentira por inteira. Posteriormente, foram mais jornalistas com episódio. No entanto, as informações e toda a articulação foram via Twitter e Faceboock. Pela internet as notícias das manifestações foram mais reais e mais ágeis. Um jornalismo com a cara do povo e aí, sim, com versões e aversões das mais diversas espécies. O Jornal Nacional foi pautado pelas mídias sociais. E a palavra vandalismo foi mais comedida nos jornais seguintes da Globo.
Li e vi muito nesses dias. O grau de informação é intenso e numa velocidade espantosa.
Sobre as vaias no Mané Garrincha, não desqualifico quem vaiou. A classe média faz parte do estrato social que, historicamente, paga essa conta. E a esquerda – berço das manifestações de massa de tempos não tão remotos – também é oriunda dessa classe média. E a vaia não foi 100%, afinal uma parte da esquerda que está no governo também estava presente no estádio. Mas a frase que mais sintetiza as vaias à Dilma foi expressa por Roberto Requião “As vaias foram para toda a classe política”. E é essa a impressão que temos.
Quando avaliamos essa manifestação corremos o risco de avaliar olhando para trás, e conjecturamos como eram feitas as mobilizações de 20 ou 30 anos. Naqueles tempos tínhamos um partido que liderava os trabalhadores, uma central sindical que nasceu para ser a maior central da América e uma união de estudantes com um tremendo histórico de lutas. Na campanha das “Diretas já” e do “Fora Collor” houve uma união de todos os partidos e segmentos populares nesse sentido. Inclusive, alguns conservadores pularam nessa embarcação, pois vislumbravam novos ventos e a “boquinha” estava a perigo. E eles continuam presentes até hoje nos escalões do executivo. E isso merece outra reflexão.
Essas manifestações não trazem em seu bojo um partido, uma central ou uma união de estudantes e isso intriga os pensadores, analistas e próceres conhecedores da vida política do Brasil. Esses manifestantes marcam um ponto de virada no modo de fazer protesto. Dizem que a eleição de Obama teve fundamental importância nas redes sociais. Pois bem, ela chegou ao Brasil.
Tem um chavão que diz “não existe vazio na política”. Podemos estender que não existe vazio nas manifestações de massa, só que esse vazio demora um pouco mais para ser ocupado. A CUT, o PT e a UNE negligenciaram nesse sentido e deixaram esse vazio, se essas entidades não foram capazes de se renovarem e foram completamente ausentes enfraquecendo as mobilizações nos últimos 10 anos, hoje a conta está nas praças e avenidas e sem as bandeiras históricas do PT, da CUT e da UNE. Um preço que ainda não sabemos quantificar.
Na posse da direção da CUT o então presidente Lula falou que os movimentos sociais deveriam pressionar o governo. Mas a direção da CUT não entendeu ou fez de conta que não entendeu e ficou estática.
Com quem negociar? – perguntam governadores e prefeitos se não tem uma liderança, um partido, uma central na liderança desse movimento. Simples. Negociarão com uma nova geração de líderes, de ativistas que está se formando à margem das entidades tradicionais. E isso é bom a para a democracia e péssimo para os atuais conservadores.  
Não existe nada mais conservador, tradicional, reacionário do que criticar as manifestações e protestos populares. Quando leio algo nesse sentido, eu lembro do general Figueiredo saindo no tapa com estudantes em Florianópolis, o Collor fazendo o sinal com o dedo médio para a população e de um arremedo de político de Santa Cruz do Sul afirmando que estava se lixando para o povo.
Povo na rua é sinônimo de democracia e de liberdade.
Mas o que leva essa multidão às praças? Claro que não foram os vinte centavos. Se não temos um “grande líder”, uma “grande causa” temos o quê, então? Temos um descontentamento geral com os políticos e governantes por conta da impunidade, da corrupção, dos gastos indiscriminados, pela falta de saúde e segurança.
Também temos algo imaterial, algo intangível, mas de suma importância para vivermos – e que para uma geração de lutadores foi o principal ideário nas manifestações de outrora – temos um acúmulo reprimido de esperanças e utopias rebaixadas. Temos um punhado de sonhos jogados no lixo. E essa bolha tinha que estourar. E foi, apenas, por conta de um estopim de 20 centavos.
Então, essas manifestações desse início de década é uma força que nos escapa e que ainda não conseguimos apalpar.
Bueno, sobre a terceira lei de Newton também conhecida como princípio da Ação e Reação diz “a toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mesma direção e sentido contrário”.
Então, a reação explicitada nas manifestações está correspondendo a uma ação de corrupção, impunidade, descaso, desvio de verbas, politicagem, falta de políticas públicas etc, etc, etc, etc...
E achamos exagerado? Será?

2 comentários:

Antiguidade Ocidental disse...

Que bom se pudessemos juntar mobilização com o pragmatismo de resulatados: limites à tributação, punição ao corrpto como criminoso social (crime hediondo) , fim do voto obrigatório, instrumentos eficazes de cobrança de transparência política, etc. Mas o que temos é um começo.

José Roberto disse...

Acho que foi tudo orquestrado para a aprovação de leis na calada da noite.
Leis que favorecem aos desmandos das classes políticas e impedem investigações e julgamentos. Quem precisa do povo e dessa confusão toda quando se tem miríades de riquezas que podem ser exploradas por alguns poucos?
Viu-se claramente o desinteresse da Presidente Dilma, em seu discurso, pelo bem da nação e pelo fim da violência. Violência de todas as formas é o que mais temos visto nesses anos de governo de esquerda.
Os cidadãos pacíficos estão apenas dando volume ao movimento.
Já os "vândalos" dirigidos pelas facções criminosas, obedientes às ordens superiores e orientados na mobilização, são os agentes de impacto a causar a desorientação geral, com o fim de gerar perplexidade e medo. Dessa forma, o estado de exceção que já está aí, brancamente, poderá invadir estados e colocar suas forças nas ruas.
Nenhum governo, amoroso ao seu povo, destruiria Suiá Missú.