sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Tamo junto, mano!



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Uma caminhada pela orla de Copacabana é tudo de bom num final de tarde no Rio. O sol e as cariocas são fascinantes. Mas naquela tarde quente resolvi caminhar até a estátua de Tom Jobim e o percurso ficou mais longo e na volta anoitecia na cidade maravilhosa. O movimento continuava intenso de passantes e turistas, mas um pouco antes de chegar ao hotel recebo o que todo carioca já está acostumado e todo turista teme.
– Isso é um assalto, mermão! Passa a grana.
Quatro musculosos e brabos cariocas e uma beldade de longos cabelos me interpelam e me arrastam para a penumbra de uma árvore próxima a estátua de Ibraim Sued, perto do Copacabana Palace.  
Não me perguntem como, mas eu consegui uma tornozeleira eletrônica antes de viajar em férias para o Rio. Claro, nas minhas caminhadas pelas praias de Copacabana e Ipanema sempre tomava o cuidado de colocá-la camuflada pela meia soquete. Pedi calma para os simpáticos recepcionistas cariocas e mostrei a tornozeleira aos meus novos amigos.
– Tchê! Tamo junto, mano! – falei triunfal. Não era para ter saído o tchê. Fazer o quê.
– Ô gaúcho, tu é dos nossos?
Também estava com uma guaiaca e nas costas trazia uma faca de prata. Herança do sogro. Quando puxei a faca houve um espanto geral e uma abertura da roda. Os olhos branquearam na faca.
– Calma aí, gaúcho.
Então, expliquei que a faca já tinha feito muito serviço. A guria se interessou o porquê da tornozeleira eletrônica e como eu estava no Rio. Não deveria cumprir pena no Sul? Falei que estava sendo transferido para uma cela especial no Rio – presídio de segurança máxima, cela solitária – e antes de desocupar a minha, me colocaram aquela tornozeleira. Acho que pegou. Eles, apenas, se entreolharam. Então me apresentei.
– Paulinho Torquemada, a seu dispor. O mais cruel do morro do Alemão.
– Sem essa, no morro do Alemão não existe nenhum Paulinho Torquemada – falou com os olhos vidrados na tornozeleira.
– Do morro do Alemão em Porto Alegre – falei, e mais uma vez colou.
A jovem carioca resolveu que queria saber sobre meus crimes.
Latrocínio, estupro – ela também arregalou os olhos – homicídios, três, sendo um deles triplamente qualificado. Eu sempre gostei da expressão triplamente qualificado, o cara fica num nível mais acima dos demais.
Nesse momento eu senti um malestar entre os meus novos amigos. Um deles falou “Bah!” e eu tive que rir.
E para arrematar eu perguntei se eles lembravam quando os gaúchos queimaram o relógio dos 500 anos. Fizeram, apenas, que sim com a cabeça. Pois é, eu era estudante naquela época, foi a minha prova de fogo. Dali para os furtos e assassinatos foi um pulo. Percebi que a jovem já me olhava com uma certa admiração, então resolvi dar um tchauzinho aos meus amigos.
– Vamos marcar um chope amanhã nessa mesma hora. Aqui por essas bandas.
– Pode crê, mano.
Terminei minha caminhada... tranquilamente.

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