quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

É chique quebrar uma costela

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Encontro uma amiga que borboleteava pelas vitrines das lojas no calçadão. E ao cumprimentá-la toco levemente em seu dorso e comento sobre a vida mansa de aposentada.

A resposta foi um “levando...” sem graça e uma expressão de dor. O seguimento da conversa deu-se com ela contando como sofrera um acidente. Ao subir no telhado de sua casa em Val de Serra para limpar as telhas – limpar as telhas? –, tinha se estatelado no chão como uma abóbora. Fraturou duas costelas e lesionou a clavícula.

O susto fora grande, mas nada grave. Segundo ela, já estava pronta para subir no telhado para terminar o serviço. Não consigo imaginar alguém subindo no telhado, salvo metaforicamente é claro. Um exemplo: eu acho que um certo ministro subiu no telhado.

E fomos nos dirigindo para a Confeitaria Copacabana. Ainda comentou que sentia dores ao tossir ou soluçar. Tínhamos algo em comum, mas, naquele momento, não estava disposto a falar. A deixa veio logo em seguida, quando me questionou sobre a recente viagem ao Chile?

Fiquei por alguns momentos imaginando como a colega ficara sabendo da minha viagem, pois não havia comentado com ninguém, além dos familiares. Mas a dúvida foi sanada em seguida.

Uma amiga em comum que frequentava a mesma academia estava na excursão. E comentou com ela, inclusive sobre o encontro com o Figueroa. Em Santa Maria é impossível ficar na moita. No caso, viajar na moita – pensei.

Entre um gole e outro de cappuccino e uma bomba calórica de coco, contei minhas andanças por Santiago, Viña del Mar e Val Paraíso.

“Clarifquem” é uma pousada que fica em Laguna Verde, povoado nas proximidades de Val Paraíso. Ali a natureza não poupou esforços, tudo é muito lindo e exuberante. O único entrave são os 4km de uma estrada de chão sinuosa, íngreme e cheia de poeira que devemos enfrentar para chegar nas agradáveis e aconchegantes cabanas de “Clarifquem”. Mas é bem recompensador. O malbec a ser apreciado na janta era esfriado em cima de uma mesa na varanda. A temperatura ambiente ideal para o vinho.

Mas o lugar também é muito acidentado. Um sobe e desce dos infernos. Numa das minhas caminhadas por Laguna Verde – Val Paraíso – eu rolei ladeira abaixo como uma abóbora. Resultado desta rodada: uma costela quebrada. Dois dias no melhor estilo “só dói quando respiro” no Chile em Val Paraíso, até a volta para o Brasil.

Não podíamos deixar de sorrir diante de nossos infortúnios comuns. Um abraço nosso era um verdadeiro quebra-costelas. E eram elas que doíam quando sorríamos. Uma tragicomédia na Copacabana.

Minha colega cai do telhado em sua casa em Val de Serra e eu rolei ladeira abaixo em Val Paraíso. Que coisa! A vida de aposentado não nos torna imunes a acidente. Só não podemos ficar “encostados” no INSS.

– Tchê! Eu sou uma chinelona, mesmo – comentou. – Eu quebrei a costela em Val de Serra! Chique, mesmo, é quebrar a costela em Val Paraíso. Très chic!

– Gente coisa é outra fina – cometei e pedi mais um cappuccino e outra bomba calórica de coco. 

Neste instante entrou na confeitaria um gringo alto com o braço engessado. Perguntou se tinha “pon” sovado. Entreolhamo-nos e falamos em uníssono.

– Quebrou o braço em... Val Feltrina!

 

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom rir até doer a barriga domingo cedinho!