domingo, 7 de março de 2021

“Noite de vento, noite dos mortos”

Athos Ronaldo Miralha da Cunha


O vento está em nossos pensamentos, no dia-a-dia e na literatura.

“Noite de vento, noites dos mortos” era a frase que Ana Terra falava sempre quando ventava nas noites do pampa. E, assim, girava a velha roca do tempo. Ana Terra, personagem imortalizada por Erico Verissimo em O Tempo e o Vento.

Isso tudo porque a vida é um sopro de vento nas noites de todos os tempos e pode ser Norte... Minuano... Pampeiro e tantos outros. Me apraz o vento Norte na esquina da Acampamento. Ali me sinto santa-mariense.

O vento é uma constante em movimento. E respeita as leis de Newton: é uma força exterior e a reação é instantânea. O vento só não movimenta as sepulturas e os cabeças-de-vento. É motivo de muitas divagações nestes dias de apreensão e tormento.

Em uma das suas múltiplas filosofadas a presidente Dilma sonhou ou desejou estocar o vento. E foi motivo de muitos debates mundo afora. O povo das exatas surtou e os físicos não tinham o que dizer. Eu entendo de vento encanado, minha avó tinha certa aflição e essa aflição trago comigo, só não sei explicar.

Mais sábio foi um antigo morador de Osório ao responder à pergunta sobre qual seria a receita para ficar rico. Conhecedor da região não titubeou: se pudesse engarrafar o vento, certamente, seria uma pessoa rica.

Agora nestes tempos de vendaval pandêmicos temos o vento em forma de seringa. Do vento injetável. Sempre o vento e ele é o menos culpado.

Não conseguimos engarrafar o vento, estocar, apenas, contemplar o vento Norte nas saias das gurias. O Pampeiro que na aduana se transforma em Minuano no inverno. Mas conseguimos injetar vento nos braços dos idosos. Um descalabro com Ana terra... Havia alguém para levar vantagem.

Isso demonstra que não aprendemos nada com as tragédias, com as pessoas solidárias e com a exaustiva categoria dos trabalhadores da saúde. Quando esta terra vai cumprir seu ideal? [Fado tropical – CBH]

Então, resta seguirmos nesta jornada de clausura e distanciamento. Pois a Ana Terra da clausura dispensa o vento. Apenas “Noites dos mortos”. Faz mais de ano que todas as noites são noites dos mortos. O vento está dispensado. O vento está nas baladas, nas aglomerações, nas praias. E essa fatura vem em doses diárias e é contabilizada sempre às 20hs.

Você faz parte dessa noite? A seringa das tuas atitudes tem vento ou solidariedade. Vazio ou comprometimento? Ou você é, apenas, mais um idiota em que o centro do universo é o seu umbigo?

Lembre-se, noites dos mortos... às 20hs.

 

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