domingo, 23 de agosto de 2009

A hora de a anta beber água


Em algumas situações em que estamos prestes a tomar uma decisão ou uma atitude de forma contundente e essa deliberação for definitiva, concluímos taxativamente e de caráter irrevogável. “É hora de a onça beber água”.
No atual cenário político com essa avalanche de denúncias, dossiês, acusações e impunidade generalizada, somos acometidos por um sentimento de decepção, de desilusão, de que as coisas nunca irão melhorar. E que, resignados, devemos conviver com os desmandos na política.
Em pouco tempo o debate ideológico, filosófico e do pensamento político, estará num passado remoto. Serão folhas carcomidas de um longínquo outono. Como entendermos Collor, Sarney e Lula abraçados como velhos e antigos amigos. Sem medo, o pragmatismo venceu a esperança e a ética foi pisoteada e varrida, mais uma vez, para debaixo do tapete. Na hora de votar pelo arquivamento das denúncias contra Sarney, a senadora Ideli Salvati virou o rosto para não ser filmada. É demais! Salva-te Ideli. Mas o companheiro Zé Sarney e o conterrâneo Espiridião Amin serão eternamente gratos. A mim, soa estranho.
Nas eleições anteriores um eleitor de Cruz Alta, para demonstrar toda sua indignação, usou um nariz de palhaço para votar no primeiro turno. Outros eleitores sentem-se como o nosso robusto mamífero que vive por essas bandas do sul do Brasil: uma anta.
E como não sê-lo? Diante dos descalabros dos últimos acontecimentos, como não nos sentirmos uma anta quando recebemos o depauperado contracheque?
Consta que Heráclito não era grego e não viveu 5 séculos antes de Cristo. E, sim, era natural de um distrito de Cambará do Sul e viveu errático por várias cidades serranas na primeira metade do século passado. Solitário e na miséria, terminou seus dias em Anta Gorda. Tornou-se um dos mais conhecidos filósofos guascas. Deixou um legado que ainda hoje é estudado nos cursos de graduação. “Uma anta não se banha duas vezes no Rio das Antas, pois nem o rio nem a anta serão os mesmos”. Mesmo que a anta não se banhe e que vá, apenas, bebericar uns goles de água no Rio das Antas, ela, ainda, não será mais a mesma. Profundo? Em que margem do rio você está? Para citar Mario Benedetti: Será que na outra margem alguém te espera com um pêssego e um país? Nos dias de hoje, pouco provável.
Nem todos nós temos um rio para nos banharmos, mas nas próximas eleições, antes de me deslocar para a seção de votação, tomarei, por via das dúvidas, dois copos de água. Será a nossa hora de beber água.

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