domingo, 27 de setembro de 2009

"Caçapava não se entrega"


Quando recebi o convite para escrever uma crônica sobre a cidade de Caçapava do Sul, pressenti um grande desafio. Caçapava tem muita história para ser contada e não seria eu a melhor pessoa para esse fim. Minha ligação com a cidade se reduz a um projeto Rondon na Vila Sul no início da década de 80 e, recentemente, uma visita a feira do livro.
Naquele projeto Rondon, num mês de julho perdido no passado, eu senti na pele o vento Minuano soprando gelado da pampa. Foram duas semanas de muito frio do inverno e muito calor humano de Caçapavanos.
Uma feira do livro nos faz pensar. Uma cidade que organiza uma feira do livro é uma cidade que fomenta a cultura, a arte, e é instigada pela inquietação.
Pensando sobre o Projeto Rondon e Feira do livro, resolvi dar uma cor a essa crônica. E optei pelo vermelho. O vermelho nos remete a outras reflexões que também tem tudo a ver com segunda capital farroupilha.
Tenho um passado maragato, pois meu avô ostentava um garboso lenço vermelho. E meu pai era um fanático torcedor do Internacional de Porto Alegre. Com essa ascendência, era lógico que me transformaria em um fervoroso colorado e, consequentemente, simpático às causas maragatas. Assim a cor vermelha está presente em minha vida desde tenra infância.
A cor vermelha simboliza a paixão, é “caliente” e traz no seu bojo a rebeldia, a revolução. Uma inquietude com o que está posto. E quando falamos em revolução invocamos a Revolução Farroupilha. Caçapava foi domicilio e berço de heróis e está gravada nos anais das nossas glórias. É evidente que, nos dias de hoje, Caçapava tem chimangos, maragatos, gremistas e colorados. A convivência é harmoniosa e a rivalidade fraterna. Mas como colorado que sou também gostaria de falar de outro ilustre filho de Caçapava e que também nos remete ao vermelho. Assim, resolvi incluir nessa crônica um humilde caçapavano. Não era revolucionário e não era farroupilha, mas foi ídolo em minha adolescência. Chamava-se Luis Carlos Melo Lopes. Craque da bola e um dos responsáveis pelas conquistas do Internacional. O nosso grande centro-médio Caçapava, a muralha que barrava os ataques adversários.
Para homenagearmos a cidade de Caçapava do Sul, é justo que relembremos o craque nascido nessa terra e que deu tantas alegrias ao futebol gaúcho.
Nos dias atuais somos tomados pelo pessimismo em virtude do grau de desmandos que assolam o país, sentimos falta de heróis e de guerreiros para serem novas referências. Precisamos de novos farroupilhas para ressaltarmos a ética e novos Caçapavas para barrarmos a indecência. O brado “Caçapava não se entrega” se equivale a “Esta terra tem dono”. Assim, mostrarmos ao mundo que nosso coração bate com paixão e oferecemos um abraço fraterno porque aqui, também, a fraternidade é vermelha.

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