domingo, 3 de outubro de 2010

O espumante de Plínio

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com@athosronaldo

Devemos reconhecer que os debates seriam monótonos e técnicos se não houvesse a participação de Plínio de Arruda Sampaio do PSOl.
Todo o encontro de presidenciáveis é um momento para se discutir os rumos do Brasil. Olhar no olho de cada candidato e decifrar a sua sinceridade. Os debates são o auge da campanha política, o momento do vamos ver. No entanto, como toda reunião, se faz necessário alguns instantes de descontração. Aquela hora em que relaxamos e tomamos novo ânimo para seguir ouvindo. E coube ao Plínio essa incumbência, essa mudança de rumo dos encontros. Um debate com Dilma, Serra e Marina seria previsível. O vermelho, o azul e o verde. Seria alguma coisa próxima a uma canção de ninar. Tudo muito sério, certinho e definido.
Plínio era a incerteza, a imprevisibilidade. A candidatura Plínio foi fundamental nessa campanha, fez o contraditório, colocou o dedo nas feridas. Foi alegremente inconseqüente e terrivelmente mordaz. Eu diria que Plínio foi um gol de bicicleta de impedimento. Bonito, mas foi anulado.
Nós podemos perceber as grandes diferenças de postura nos pequenos detalhes. Enquanto os demais candidatos traziam os assessores a tiracolo para o último debate, Plínio chegou de mãos dadas com as netas. Nessa mesma noite, em alguns momentos, lembrou o Brizola com a sua espirituosidade guasca, aquela coisa meio fora do lugar. O Plínio foi um candidato ideológico, um militante do partido. O marxista convicto dessa eleição. Sendo o mais idoso dos candidatos, conseguiu cativar os mais jovens. E isso tem algo de dialético. Eu diria que Plínio foi um idoso rebelde. Usou o deboche e a ironia fina sem ser mal educado.
No dia seguinte ao debate da Globo, o velho marxista cancelou seus compromissos de campanha e ficou em frente ao mar, no Arpoador, degustando um espumante. Qual candidato tomaria um espumante pela manhã? Quem poderia assumir esse “desvio pequeno burguês”? Tinha que ser o Plínio. É claro que diante de um espumante borbulhando a gente adia a revolução, lógico. Ainda mais em frente ao mar do Rio de Janeiro.
Durante o horário eleitoral e, principalmente, nos debates nutri uma simpatia pelo candidato. Pelo jeitão engraçado, pelo humor descolado dos protocolos. O Plínio chamando o Serra de Zé era impagável.
Assim, diante da urna eu titubeei. Mas não digitei o número de Plínio. Afinal, já não sou tão rebelde como era antigamente, embora tenha adiado a revolução por conta de uma cervejinha – naquele tempo ainda não era cervejão – a mais na noite anterior. Mas em casa, saboreei um liso da colônia sob a sombra de uma corticeira. Pois a revolução a gente deixa para os jovens como o Plínio.

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