Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter/athosronaldo
A Feira do Livro de Porto Alegre é um evento cultural de visitação obrigatória.
Todos os gaúchos deveriam ter uma espécie de Bolsa-Leitura para desfrutar de um dia na companhia dos livros e escritores. Então, dediquei um sábado para vasculhar os estandes a procura de boas leituras e entretenimento.
Um sábado é pouco, mas para quem precisa enfrentar 600 Km de estrada já é mais do que suficiente.
Eu poderia comentar sobre as obras adquiridas, uma boa e pesada dúzia de livros. Ou abordar sobre o agradável bate-papo com um amigo escritor. Mas, das minhas aquisições, vou destacar somente uma que vale como dica de leitura, como presente de fim de ano ou para ficar admirando diante da estante. “Contos Gauchescos e Lendas do Sul” de João Simões Lopes Neto. Uma edição luxuosa do Instituto Estadual do Livro. E um preço popular: R$ 19,99.
Cheguei por volta das onze horas numa Porto Alegre escaldante. Usei o Trensurb da rodoviária ao mercado e, ali mesmo, almocei. Um restaurante de primeira. Talheres, pratos, toalhas e cardápio impecáveis. Não pedi um vinho, pois teria que deixar um dos olhos da cara. Tomei um suco de laranja. Saciado, fiquei imaginado outras hipóteses.
Se eu tivesse ido a uma lancheria de quinta, pedido um pastel de vento e uma fanta uva. Saborearia o lanche diante de uma mesa de fórmica vermelha com partes lascadas e cadeiras de ferro enferrujadas. A garçonete poderia ser uma oleosa e mal-educada jovem, com um pano de prato sobre o ombro e com desodorante vencido. Imaginei que eu poderia zanzar pela feira e não ter achado nada que prestasse naquelas porcarias de saldos.
Um tumulto pelos corredores, roubaram minha carteira, perdi meu celular e meu cartão de crédito foi clonado. Tomei um banho de suor, caí no conto do bilhete premiado e comprei um relógio do Paraguai. Então, conclui que se eu tivesse tomado uma taça de vinho eu teria sido mais criativo nas minhas divagações. Cair no conto do bilhete premiado num sábado! Nem na ficção.
Como sou vacinado contra a “Síndrome de Carol”, eu devo dizer que minha tarde de feira foi exitosa. Gostei das minhas aquisições, principalmente dos autores gaúchos. Adorei o tumulto da feira e achei bons exemplares nos saldos.
Havia anoitecido quando peguei novamente o Trensurb do mercado até a rodoviária. Um senhor, meio perdido, perguntou onde era a Estação São Pedro, pois iria visitar o irmão que estava hospitalizado e não conhecia muito bem a capital. Era de Santa Maria.
– O senhor é de Santa Maria? Estou voltando agora às nove e meia – falei.
A vida é cheia de surpresas e contradições. Uns vem a Porto Alegre para desfrutar a feira do livro e extrapolar o limite do cartão. Outros para visitar o irmão que sofreu um acidente de carro, contando os trocados.
– Coincidência... – falou com um olhar sonhador.
Desci na rodoviária e, certamente, não verei mais o conterrâneo.
Assim, encerrei meu dia de feira do livro de Porto Alegre com alguns livros na bagagem.
A propósito: declaro para os devidos fins que o texto acima tem a pretensão de ser literário.
Ah! De lambuja ganhei um autógrafo e um beijo da ministra.
twitter/athosronaldo
A Feira do Livro de Porto Alegre é um evento cultural de visitação obrigatória.
Todos os gaúchos deveriam ter uma espécie de Bolsa-Leitura para desfrutar de um dia na companhia dos livros e escritores. Então, dediquei um sábado para vasculhar os estandes a procura de boas leituras e entretenimento.
Um sábado é pouco, mas para quem precisa enfrentar 600 Km de estrada já é mais do que suficiente.
Eu poderia comentar sobre as obras adquiridas, uma boa e pesada dúzia de livros. Ou abordar sobre o agradável bate-papo com um amigo escritor. Mas, das minhas aquisições, vou destacar somente uma que vale como dica de leitura, como presente de fim de ano ou para ficar admirando diante da estante. “Contos Gauchescos e Lendas do Sul” de João Simões Lopes Neto. Uma edição luxuosa do Instituto Estadual do Livro. E um preço popular: R$ 19,99.
Cheguei por volta das onze horas numa Porto Alegre escaldante. Usei o Trensurb da rodoviária ao mercado e, ali mesmo, almocei. Um restaurante de primeira. Talheres, pratos, toalhas e cardápio impecáveis. Não pedi um vinho, pois teria que deixar um dos olhos da cara. Tomei um suco de laranja. Saciado, fiquei imaginado outras hipóteses.
Se eu tivesse ido a uma lancheria de quinta, pedido um pastel de vento e uma fanta uva. Saborearia o lanche diante de uma mesa de fórmica vermelha com partes lascadas e cadeiras de ferro enferrujadas. A garçonete poderia ser uma oleosa e mal-educada jovem, com um pano de prato sobre o ombro e com desodorante vencido. Imaginei que eu poderia zanzar pela feira e não ter achado nada que prestasse naquelas porcarias de saldos.
Um tumulto pelos corredores, roubaram minha carteira, perdi meu celular e meu cartão de crédito foi clonado. Tomei um banho de suor, caí no conto do bilhete premiado e comprei um relógio do Paraguai. Então, conclui que se eu tivesse tomado uma taça de vinho eu teria sido mais criativo nas minhas divagações. Cair no conto do bilhete premiado num sábado! Nem na ficção.
Como sou vacinado contra a “Síndrome de Carol”, eu devo dizer que minha tarde de feira foi exitosa. Gostei das minhas aquisições, principalmente dos autores gaúchos. Adorei o tumulto da feira e achei bons exemplares nos saldos.
Havia anoitecido quando peguei novamente o Trensurb do mercado até a rodoviária. Um senhor, meio perdido, perguntou onde era a Estação São Pedro, pois iria visitar o irmão que estava hospitalizado e não conhecia muito bem a capital. Era de Santa Maria.
– O senhor é de Santa Maria? Estou voltando agora às nove e meia – falei.
A vida é cheia de surpresas e contradições. Uns vem a Porto Alegre para desfrutar a feira do livro e extrapolar o limite do cartão. Outros para visitar o irmão que sofreu um acidente de carro, contando os trocados.
– Coincidência... – falou com um olhar sonhador.
Desci na rodoviária e, certamente, não verei mais o conterrâneo.
Assim, encerrei meu dia de feira do livro de Porto Alegre com alguns livros na bagagem.
A propósito: declaro para os devidos fins que o texto acima tem a pretensão de ser literário.
Ah! De lambuja ganhei um autógrafo e um beijo da ministra.
Um comentário:
Athos, para entar no clima da Carol, penso que deverias ter olhado para os artesãos & camelôs que estão na periferia da Feira e sentir aquele clima meio México, triste e desolado, e esquecer as barracas de livros & bate-papos com escritores. Que tal?
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