domingo, 18 de dezembro de 2011

História do PT

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

A espera foi longa – dois meses – pela chegada do livro “História do PT” de Lincoln Secco, encomendado na Cesma. Até hoje não entendi o motivo da demora, penso que foi distribuição. Mas isso, agora, não vem ao caso.
Confesso que num primeiro momento após ter lido algumas resenhas sobre o livro julguei tratar-se de loas, loas e mais loas ao partido. Mas não foi o que li.
Para quem gosta de política, acompanhou atentamente a redemocratização do Brasil ou votou em Lula em alguma eleição a leitura é obrigatória. Para quem ama o partido pode ser indigesta e para quem odeia, esclarecedora. Podemos pinçar epopeias como também falcatruas. Mas um livro fundamental para nossa compreensão política. Pois, um partido é formado por pessoas e pessoas erram e acertam. E o PT nunca teve imune a esses desatinos.
A temática é atraente e o historiador sabe contar a história. Secco faz um relato honesto da trajetória do PT nessas três décadas. Nos mais variados acertos, sonhos e utopia, como também, nos desencontros e contradições. A análise de Secco é assentada na razão – vamos dizer fria – da história.
Quando entendemos as origens do PT poderemos compreender o atual estágio porque passa o partido. Fica identificada a evolução da composição interna das tendências, as disputas pelo poder dentro da agremiação e os embates ideológicos nos congressos e encontros e atualmente a disputa por espaços nas máquinas dos governos. Um dado é óbvio: O PT não é mais o mesmo da sua fundação.
Sabemos que o PT foi fundado por três seguimentos: Igreja, grupos da luta armada e sindicalistas. Mas o autor desdobra esse tripé. Então, ficamos com seis fontes no nascedouro do partido: Sindicalismo, igreja, políticos estabelecidos no MDB, intelectuais, militantes de organizações trotskistas e remanescentes da luta armada. Olhando-se dessa maneira podemos ver a complexidade que é o PT no campo da ideologia. O partido no seu nascedouro era um turbilhão ideológico. Ao conquistar os governos e precisando administrar, essa teia fica arrefecida nas engrenagens das administrações. Mas pulsante no interior do partido.
Algo, para mim, foi novidade ou havia esquecido. Os debates sobre políticas de aliança na década de noventa consta que alguns deputados queriam uma aliança orgânica com o PSDB, dentre eles, o dep. Eduardo Jorge PT-SP defendia essa ideia. Diante dessa frase meu avô diria: Ala pucha!!
A segunda derrota eleitoral a presidência houve uma verdadeira guerra verbal. E um grupo de deputados – um deles o Genoino – tinha o apoio da imprensa para fustigar o PT. Afinal, a história também nos surpreende. E alguns porquês a gente vem a entender muito tempo depois.
Outro dado que passou despercebido pelo militante comum foi que um dirigente do partido ganhou uma grana vendendo o mapa das tendências para consultoria empresarial. E isso torna-se reflexivo quando olhamos para o nascedouro do PT. Ao longo do tempo o partido vai perdendo suas mais caras convicções. Se lá no começo “O PT afirma seu compromisso com a democracia plena exercida diretamente pelas massas, pois não há socialismo sem democracia e nem democracia sem socialismo”. Pg 101. O capitulo sobre a “Carta ao Povo Brasileiro” é aberto com uma frase de Eric Hobsbawm “as oposições não conseguem vencer apenas por mérito próprio. No geral, é o fracasso dos governos que garante a vitoria”. Emir Sader afirma “quando a esquerda chegou ao governo central no Brasil ela já havia perdido a batalha das ideias.”
Atualmente, para Hobsbawm o PT pode ser considerado o último exemplo de um partido social-democrata de massas. Para Jacob Gorender o PT assumiu o comportamento moderado de um partido social-democrata.
Com todas as contradições acertos e erros o PT foi fundamental para a democracia brasileira. Queiramos ou não, o PT faz parte da história recente do Brasil e detém uma contribuição significativa para o aprimoramento dessa democracia. Lincoln Secco nos conta a história do PT, mas, indiretamente, conta a história do Brasil e da esperança de um povo num partido de massa e num líder operário.
No final do livro temos uma interessante cronologia de 1978 a 2011. Um glossário onde veremos a definição para “Capa Preta”; “Duas camisas”; “Tese-guia”; “Trotskistas”; “Xiitas”; “Questão de ordem” e outros tantos termos da vida partidária. Também temos um quadro com a evolução das tendências. Assim, os consultores empresariais não precisam pagar para ter acesso a elas.
“História do PT” um livro para ser lido por todos aqueles que gostam e odeiam a política. Eu li – e recomendo – porque gosto.

Um comentário:

Vitor Biasoli disse...

Uma boa leitura. Para que acompanhou o partido desde o seu nascedouro, um bom roteiro para lembrar a sua trajetória e refletir sobre suas transformaçãos.
Para quem não conhece o bicho, uma clara e serena apresentação de um dos grandes fenômenos da história política recente.