domingo, 25 de agosto de 2013

Escapadinha da Dilma



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

A solidão do cargo é uma das queixas dos presidentes da república. Chega um momento do dia que ele fica só. Sem com quem trocar umas palavras soltas, uma conversa descompromissada. E pouco adianta as comodidades do palácio e a presteza dos funcionários.
Sem possibilidade de frequentar um cinema, um restaurante ou passear numa praça sob um sol de primavera. Impossível sair sem envolver um séquito de seguranças, assessores e puxa-saco de todos os naipes.
Assim, num domingo numa Brasília seca e árida, o presidente fica no Palácio da Alvorada assistindo ao jogo do Corinthians e saboreando um Cohiba, presente do amigo Fidel. Isso fazia o Lula.
E a Dilma? Embora colorada, não tem grandes simpatias pelo futebol. Charuto do Fidel, nem pensar. Reler Marx, não é uma leitura para relaxar. Paulo Coelho? Nem pensar também. O Groucho ao invés do Karl até poderia ser uma boa escolha.
Mas a Dilma gosta de motocicleta. Dilma é aventureira e arrojada. Adora uma Harley-Davidson. Aqui a revelação: há uma delas no palácio.
Aquela máquina no subsolo aguardando alguém que saiba pilotar. Uma pessoa especial que faça roncar o motor daquela potência. Uma companhia que não vai abrir o bico, discreta. Barulhenta apenas quando em velocidade nas estradas. Uma cúmplice aguardando um segredinho da mais alta mandatária do país. Assim, a presidente colocou o seu abrigo Adidas – presente do amigo Fidel – “um capacete listrado e saiu por aí”. Livre nas avenidas da capital. “A sede de liberdade rebenta a soga do potro” cantarolou uma música do folclore gaúcho e saiu mordendo o vento na cara. Um cavalinho de pau em frente ao Congresso. Uma pequena vingançazinha cantando pneus. E uma tentativa de subir a rampa do palácio. Mas o guardinha lá em cima da rampa já apita fazendo sinal para vazar. Gritando que ali não é lugar de motoqueiro. Área de segurança, o loco. – Circulando!
Dilma sussurra um “babaca” e se vai a toda velocidade em direção à ponte JK sobre o lago Paranoá.  
Uma das fotografias mais marcantes do passado de um presidente é a foto da Dilma nos seus vinte e poucos anos diante de um interrogatório. Na imagem a estampa de uma jovem e altiva revolucionária e ao fundo os valentões de farda escondem o rosto. Uma foto enigmática, para múltiplas interpretações. Mas eu daria tudo para ver uma foto da presidente voando as tranças pelas avenidas de Brasília. Seria a foto do mandato.
Essa escapadinha da Dilma – ou seria uma escapadilma da Dinha – tem seu lado arteiro, desobediente, mas perfeitamente aceitável, a presidente, como todos nós, é uma pessoa que precisa de um momento só dela. Um pouco de aventura, relax, para tocar a máquina Brasil, bem mais potente que uma Harley-Davidson.
Agora, imagina se ela para no sinal e dá de cara com o Serra fazendo malabarismos com bolinhas de papel? Nem é bom imaginar...

Nenhum comentário: