Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Em 2010 Tarso Genro venceu as eleições para
o governo do estado no primeiro turno. Uma vitória com quase 55% dos votos,
consolidada num candidato sério, estrategista, conciliador e competente. Com esses
atributos absorveu os votos das camadas mais conservadoras e chegou ao Palácio Piratini.
Após quatro anos a coisa virou do avesso.
O que ocorreu em 2014? Será que
prevaleceu a máxima de que os gaúchos, pura e simplesmente, não reelegem governador?
Tarso foi acometido pelo antipetismo? Não foi só por isso.
Algumas ações da coordenação da campanha
de Tarso podem e devem ser recuperadas para não cair no esquecimento e servir
de reflexão para futuros pleitos. É importante ter em mente o que foi feito e
deixou a desejar. Como analisar uma derrota acachapante de um governo bem avaliado
pela população na parte administrativa e sem escândalos que comprometessem a sua
credibilidade? Um candidato com uma larga experiência política, intelectual
conceituado e um pensador da nossa modernidade?
São inúmeros os deslizes que comprometeram
uma campanha que tinha tudo para ser vitoriosa e quebrar o paradigma da derrota
numa reeleição. Onde o PT pecou?
A coordenação de Tarso não conseguiu
fazer um contraponto a um candidato que vinha com um olhar simples para o Rio Grande.
Sartori apresentou-se com alguns slogans que foram facilmente assimilados pelos
eleitores sem a devida contrapartida. Ou seja: Sartorão da massa; gringo da colônia;
meu partido é o Rio Grande e o cara que não promete e faz.
Qual era o slogan de Tarso?
Sartori foi mais povo nessa eleição. Desceu
do pedestal de candidato e “abraçou” os gaúchos. Era um candidato, como se diz
lá no galpão, “sem lado para chegar”. Sartori fazia a campanha sorrindo e
caminhando. E Tarso? Muito sério... parado. A eloquência de Tarso é muito
superior a de Sartori, mas não foi suficiente, faltou o algo mais. Sartori fez
uma campanha com humor e emoção – que, na minha opinião, são fundamentais no
horário político. Tarso não conseguiu com o mesmo afinco e efeito. Quando fez a
emotiva “carta aos gaúchos” já era tarde demais.
A coordenação de campanha de Tarso
tentou rebater o “meu partido é o Rio Grande” colocando na tela que o partido
de Sartori era o PMDB de Brito etc... etc... e outros adjetivos desqualificadores.
Mas parece que a coordenação esqueceu que o PMDB é o vice da Dilma. Como é que
o eleitor assimilaria a desqualificação de Sartori por ser ele do PMDB e votar
em Tarso que vota na Dilma tendo o vice do PMDB? Nossa! Que imbróglio! Uma salada,
e prevaleceu o “meu partido é o Rio Grande” açambarcado pelo descredito geral
dos políticos.
A campanha de Tarso bateu severamente e
impiedosamente nas candidaturas de Ana Amélia e Lasier Martins. O ápice dessa desconstrução
de candidaturas foi trazer para o presente a participação de Lasier na Arena
Jovem na década de 60. Cá entre nós: tiro no pé. Como se em 50 anos uma pessoa não
pudesse mudar de opinião ou avançar na sua cidadania, e como se no próprio PT não
tivesse alguns históricos militantes e quadros partidários que foram da Arena. Como
sabemos, a desconstrução da candidatura de Ana Amélia surtiu efeito. Mas então surgiu
um grande problema: como negociar apoios para o segundo turno? Se em 2010 as
camadas mais conservadoras apoiaram Tarso, em 2014 a própria candidatura de
Tarso deixou escapulir por entre seus dedos esses apoios, claramente identificados
com a candidata do PP. E Ana Amélia deu o troco com a maior simplicidade. Ana
Amélia recebeu 1.342.000 votos no primeiro turno. Enquanto Tarso recebeu 440.000
votos a mais no segundo turno, Sartori recebeu 1.370.000 votos a mais. Os números
são incontestáveis. Sartori: 61,21% dos votos. Tarso: 38,79% dos votos. Houve
uma visível transferência. Aí faltou uma visão estratégica no primeiro turno e
uma visão política no segundo, que merece ser avaliada no centro da coordenação.
Um pouco de humildade, às vezes, ajuda muito. Talvez seja esse o grande mérito
de Sartori. Um discurso amparado na modéstia e sem ranço ideológico e nem “teu
passado te condena”.
Por fim, o que mais me causou estupefação
foi o vídeo que Tarso fez dentro de um carro e que teve milhares de visualizações.
Eu não consigo entender como uma pessoa do calibre intelectual de Tarso
deixou-se contaminar por um amontoado de asneiras dirigidas à militância. Os adeptos
da Teoria da Conspiração saltitaram de alegria. Será que o candidato foi
centralizado pela coordenação de campanha?
Até entendo que se fosse, apenas, para a
militância acordar de sua letargia poderia dar certo, mas o vídeo estava na
rede. A impressão que tenho é que o candidato retrocedeu uns trinta anos e se
colocou numa reunião do PRC. Pensei: Tarso releu “Quatro ensaios marxistas”. [rsrs].
Um alarmismo inconsequente e fora da casinha. Apenas esse comentário. Mesmo assim
ainda acho que não será suficiente para macular sua trajetória de pensador e
elaborador de conteúdos políticos pertinentes. Continuarei sendo um leitor de
seus livros. Tarso ainda tem muito a contribuir com a boa política no Brasil.
Ah! Faltou falar sobe o piso. O piso ou
a falta dele não afetou nenhuma candidatura, mesmo que ambos tivessem pisado em
falso em vários momentos desse pleito.
Enfim, o texto acima são, apenas, reflexões
de um autodeclarado atento eleitor sem a pretensão de fazer julgamentos
pessoais ou de estratégia política, mas que erros e acertos devem ser
analisados para serem aprimorados ou evitados. smj.
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