quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os diabos

Nesses tempos nebulosos que nos oprimem com uma crise, nos enlevam com democracias dos mais diversos matizes, que nos embutem sentimentos sãos e outros que nos causam deslizes, eu gostaria de falar de arte. Mas de arte eu não sei falar, apenas sei ver, e vejo com olhos de néscio.
Então, resolvi falar de literatura. Talvez, assim, eu consiga exprimir as minhas verdades. Imaginando, também, que seja a verdade de outros.
Assim, eu vejo a literatura divina, bonita, que nos aprofunda os pensamentos e nos adianta contradições numa dialética bicolor. Bipolar e transcendental. A literatura é grandiosa, vasta e infinita. Uma das maravilhas desse nosso mundo moderno, instantâneo e virtual. Mas também é a mediocridade de umas palavras cruzadas. Mas daí não é literatura.
Os deuses fazem literatura. Essa é a premissa.
Os deuses... e os diabos.
Os que escrevem a verdade. Escrevem uma certa verdade sendo deuses ou diabos. Os paradigmas da literatura: como os deuses escrevem? Certo e com a razão, talvez até escrevam em azul. Os diabos escrevem errados e com a emoção, talvez escrevam em vermelho. A literatura tem o tempero dos deuses e dos diabos. Os deuses temperam com ervas aromáticas e os diabos com pimentão. O vermelho é “caliente” é latino-americano. O azul é polar, é Antártida. O vermelho e o azul essa é a bi-polarização. Seu coração é livre para escolher. Mas como resolver essa contradição se meu coração é vermelho e a liberdade é azul?
O deus é azul e o diabo vermelho? Por que é sempre assim?
Graças à literatura nós vamos ao céu na companhia dos anjos, vamos ao inferno com os demônios. Retrucamos marmanjos que escrevem pandemônios. Vamos à praça, ao rio e ao mercado. À floresta, às profundezas dos oceanos e ao topo do mundo. A literatura nos leva aos confins do universo.
Escrevemos, todos, deuses ou diabos, e queremos esconjurar nossas opiniões, anseios quase dialéticos e idéias vãs. E fazemos o debate sem os percalços das injúrias e das agressões.
Escrevemos bem e mal e usamos a ironia. E a ironia escrita pode ser mal-interpretada e cruzar ao largo da verdade. Por falar em verdade, também mentimos na ficção e na realidade. Transformamos a realidade em ficção. Mas o que é a mentira e a realidade senão frutos de nossa imaginação? E a ficção é mais bonita que a realidade. A mentira para a mentira pode ser a verdade e a verdade a maior mentira. Seria essa a realidade?
Escrevemos um texto, convictos que são os deuses que escrevem. Mas o que é a convicção senão a maior inimiga da verdade. Já dizia Nietzsche.
Enfim somos deuses ou diabos. O que vamos escolher se são os homens que denominam o que é deus e o que é diabo.
Então, simplesmente, escrevemos. Ou, simplesmente, façamos arte.

Nenhum comentário: