sexta-feira, 15 de abril de 2011

Milongueiro


Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Pajadores


As décimas de improviso são a genuína alma gaúcha e gaucha que unem os cantadores da pampa. E um dedilhar de milonga nos coloca em profunda reflexão diante da cuia do chimarrão ou do braseiro nos cafundós de uma perdida querência. Os payadores cantam a solidão e antigos amores abraçados em sua viola no silêncio dos entardeceres ou nas tertúlias num galpão. As payadas e as milongas tocam a nossa alma e acalentam nossos anseios.

O livro Milongueiro pretende reverenciar essa terra meridional que nos causa adoração e nos provoca reminiscências. Os contos desse livro mostram o jeito rude, simples e, por vezes, inquieto e contraditório do “milongueiro” que temos em cada um de nós. São contos escritos a oito mãos – como tranças de oito tentos –, no embalo das cordas de uma guitarra pampeana e localizados entre os quatro pontos cardeais. Escritos por quatro gaúchos de quatro recantos desse estado – Santiago do Boqueirão, Santa Maria, Itaqui e Pelotas –, todos radicados e estabelecidos na velha Santa Maria da Boca do Monte.

Todos gaúchos dos quatro costados, mas cientes de seus limites na arte de escrever sobre nossos costumes. São contos gaúchos e não, necessariamente, gauchescos, mas construídos sob inspiração dos pagos desse Rio Grande de São Pedro. Nesse Milongueiro nos propomos contar um pouco das coisas do Rio Grande: suas idiossincrasias, lamentos, sonhos, a solidão do campo, as eternas desavenças políticas – as escaramuças entre chimangos e maragatos – e, principalmente, as notas de uma evocativa milonga em noites de lua cheia.

Compartilhamos cada capítulo dos contos como se estivéssemos numa roda de chimarrão. Cada um servindo o mate para o parceiro. E sentimos que essa empreitada foi prazerosa. Assim, os contos foram brotando dentro dos acordes imaginários de um milongueiro em uma longínqua tarde de estio.

Então, se achegue nessas páginas, ceve um mate, puxe um banco e vá sentando...

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