quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Glândulas coxais e o cupreto de Índio

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O Colégio Estadual Manoel Ribas nos reserva doces lembranças dos tempos de estudante secundarista. Algumas peripécias enquanto jovens nós guardamos em um cantinho especial de nossas saudades.

Eu cursei as últimas séries do ensino fundamental e o ensino médio no Maneco. Foi naquele amplo pátio que cruzamos nossos primeiros olhares e despertamos as primeiras paixões juvenis. E foi através desses olhares desencontrados que uma garota de olhos e cabelos castanhos ocupou boa parte dos meus pensamentos e um largo latifúndio no meu improdutivo coração.

Embora tenha sido um dedicado desportista eu não tinha a mínima aptidão para o vôlei e para o handebol. Não tinha altura suficiente para o basquete e era pouco criativo no futebol. Hoje, agradeço ao divino por não ter sido iludido com meus parcos talentos com a bola. Em química era como no futebol. Dava para o gasto, mas jamais seria um Linus Paulling. Nos estudos eu era fera em matemática e péssimo em português. Gostava de história e literatura e odiava inglês. Até hoje tropeço no “How are you?”.

O nosso ciclo juvenil encerrava com o fantasma do vestibular. Os cursinhos eram peritos em elaborar estratégias com a finalidade de memorização. Os conteúdos eram transformados e facilitavam o aprendizado ou a “decoreba”, como se dizia outrora. E, em seis meses o aluno estava apto para enfrentar o dito “fantasma”. Havia um locutor de rádio que dizia “veeeeeeeeeeeesssstibular” e o nosso coração saia pela boca.

Tínhamos ciência que o ano que antecedia ao vestibular mudaria o rumo de nossas vidas. E por isso estudamos muito, algumas dicas ainda permanecem em nossas mentes e jamais esqueceremos. Porque foram marcantes. Antigamente fazia-se cursinho no último ano do segundo grau. Os menos favorecidos, no segundo semestre e os ainda menos favorecidos, que era o meu caso, apenas o intensivo de dezembro. Não havia outro jeito, tínhamos que viver debruçados nas apostilas, que naqueles tempos chamávamos de polígrafos. Hoje, com essa nova modalidade de ingresso ao ensino superior os pais têm que se preparar para desembolsar três anos de cursinho e mais o curso pré-vestibular do último ano e o intensivo, lógico.

Voltando às dicas, a tabela periódica era pródiga em siglas e frases que facilitavam a memorização. “H LiNaK Roubou o Cézio do Frâncio”. Incrível, não? Ou então. “BeBa Magnésio Senhor CaRa”. Nossa!!

As três Leis de Newton eram obrigatórias. A que eu mais gostava era a Lei da Inércia, se não me engano, a primeira Lei de Newton. Era utilizada como desculpa para não fazer os exercícios em sala de aula. Ou seja, um corpo em repouso. E, estava praticando a primeira Lei de Newton. Aí a “profe” que naquela época era “fessora”, me mandava pelo MRU em direção a sala da Direção.

O binômio de Newton era algo absurdo. Deste tamanho. Esse eu não me lembro. A biologia era um horror, como alguém guardaria aquela montanha de nomes, todos estranhos e, na maioria das vezes, em latim. Alguém se lembra do que é um mitocôndrio? Monocotiledônea? Platelmintos? Gimnosperma não é um potente espermatozoide.

As minhas melhores notas sempre foram em trigonometria. O seno de um ângulo era o cateto oposto pela hipotenusa – que eu sempre achei que fosse alguma coisa ligada ao hipismo. A tangente era o cateto oposto pelo adjacente. Será que ainda é?

Bonita mesmo era a fórmula de Báskara. “Sobre dois a”, era um fecho fenomenal. Era um poema cubista. Você recitava um monte de letras e raiz no numerador e fechava o denominador com o “sobre dois a”.

Hoje, percebo que o Teorema de Pitágoras tem uma plasticidade de causar inveja a uma escultura de Auguste Rodin. O quadrado da hipotenusa (ela de novo, a Deusa do Hipódromo) é igual a soma dos quadrados dos catetos. É como a cerveja que desce redondo. E eu diria que essa Deusa têm belos e fartos catetos.

Em português eu tinha uma contrariedade com aquelas malditas orações. Eu nunca soube e até hoje não sei identificá-las. Eu era incomodado com as orações subordinadas. A injustiça sempre me causou indignação. Então, antes de saber qual era a oração eu ficava ansioso para saber o porquê de toda aquela subordinação. Eu queria orações livres. Orações libertas e adversativas. As orações subordinadas eram simplesmente inaceitáveis. Acho que o golpe de 64 tem alguma coisa a ver com as orações subordinadas.

Até admitia que uma oração conformativa pudesse ser subordinada, mas não admitia que uma oração adversativa fosse coordenada, eu achava inconcebível. Adversidade não se coaduna com coordenação. Era o que eu pensava. E talvez por isso eu nunca aprendi. Apenas identificava as que começavam com “mas”. Justamente as coordenadas adversativas.

Eu não sei se, por um complexo malresolvido ou um desvio pseudoerótico de minha conduta, mas dois momentos daquelas memoráveis dicas eu jamais esqueci, aliás, não eram dicas, eram nomes que lembravam, de certa maneira, uma sensibilidade supostamente sensual e escandalosamente pornográfica. São as “glândulas coxais” e o “cupreto de Índio”.

Parece brincadeira, mas as glândulas coxais nós encontramos nas aranhas que é um aracnídeo e o cupreto de Índio é uma substância química composta pelos elementos cobre e índio, cuja fórmula eu não me lembro.

Por isso, quando vemos as Sheilas dançando lembramos dos aracnídeos. Elas, sim, possuem as verdadeiras glândulas coxais.

Já os Caingangues... os Pataxós... deixa pra lá.

Um comentário:

Byrata disse...

Mas Bahh!

Parabéns Athos!