sábado, 7 de julho de 2012

"Si se calla el escritor"




Athos Ronaldo Miralha da Cunha

No mesmo dia em que a torcida do Internacional faz uma calorosa recepção para o melhor jogador da copa 2010 – o craque Diego Forlán – leio a notícia no jornal que outro craque – Gabriel García Márquez – não vai mais escrever.
O Gabo, como é conhecido carinhosamente o colombiano, sofre de demência senil e está perdendo a memória. Uma notícia lastimável para a literatura. O escritor não escreve mais, por isso ninguém escreve ao coronel e nós, leitores, como o general, ficamos em um labirinto. Um labirinto que só a literatura pode explicar. Não leremos mais um livro de García Márquez, e, assim, nos colocamos diante de um pelotão de fuzilamento na fictícia Macondo. Hoje, somos todos personagens de García Márquez, ficamos órfãos de sua genialidade e lamentamos essas notícias tristes. Aliás, uma puta notícia triste.
“Si se calla el cantor, calla la vida, porque la vida misma es toda un canto” diz a bela canção de Horácio Guarani. Eu diria que quando se cala um escritor, também cala a vida, porque a vida mesma é todo um livro. Extingue-se a produção. Mas permanece uma vasta obra a ser desbravada e um autor a ser admirado. Lamentamos profundamente, mas é a lei da vida. Quem sabe se no dia de hoje não nasceu um escritor nessa sofrida América Latina.
Enquanto releio, aleatoriamente, umas passagens de “Cem anos de solidão”, vejo uma torcida apaixonada recepcionar Diego Forlán no Aeroporto Salgado Filho. Mais alguns minutos e o craque charrua recebe a camisa 7 de Valdomiro Vaz Franco. Um marco na história do futebol gaúcho que deixa os colorados otimistas com a perspectivas de novas conquistas.
Enquanto o colombiano encerra sua jornada com talento e sabedoria, um uruguaio chega a Porto Alegre para, também, cumprir uma jornada com talento e sabedoria.
Recoloco o livro de García Márquez no seu devido lugar na estante. Triste pela literatura, feliz pelo Internacional. Essa é a grande contradição de quem é apaixonado pelos livros e pelo futebol.
Diego Forlán e García Márquez os nomes desse sábado ensolarado no Rio Grande do Sul. Esse dia – 07.07.2012 – fica marcado dialeticamente como triste e alegre.
Obrigado Gabo. Seja bem-vindo Forlán.

2 comentários:

Anônimo disse...

Desmemórias de um puto escritor que agora nos deixa - triste.

Athos Ronaldo Miralha da Cunha disse...

Um dos autores que mais li. É muito triste.