
Athos
Ronaldo Miralha da Cunha
Encerrado
mais um processo de campanha salarial e mais uma vez saímos decepcionados com o
resultado das nossas lutas e com o desempenho de nossos negociadores.
Essa
decepção tem origem, meio e fim. E um script por demais conhecido, um roteiro previsível
e imutável. E vem se repetindo, ano após ano, desde a ascensão de Lula à presidência
e, por conseguinte, a “conquista” da malfadada mesa única.
Quando
recebemos a notícia de que a categoria vai pedir 10% de aumento, o que veio em
nossa mente? Um déjá vu, índice rebaixado
e desânimo de lutar. Então, nos perguntamos: como é que bancários reunidos em
uma conferência, na hora da escolha do percentual aprovam justamente o menor
índice? A resposta é simples. Não é uma conferência de bancários, é um encontro
de dirigentes sindicais. E, na maioria das vezes, longevos dirigentes sindicais.
Arrisco a dizer que alguns têm a carteira assinada pelo Sul Brasileiro. Pessoas
que não sabem mais o que é um banco. Desconhecem o serviço bancário. Estão desapegados
do contato com a base. E para agravar a situação, esse pessoal é totalmente
conivente – e subserviente – com a atual classe dirigente dos bancos públicos
brasileiros. Blindaram os oitos anos de Lula e continuam blindando a Dilma. Discussão
de perdas salariais... nem pensar.
No
entanto, mesmo com o índice rebaixado fomos à luta. Uma greve arrebatadora, em
Santa Maria só não fecharam os bancos privados. Mas na primeira contraproposta
dos banqueiros, pasmem, os combativos companheiros da Contrafcut – ou seria
Sentrafcut – recomendam às assembleias a aceitação da proposta. A indignação foi
geral. Alguns colegas cuspiam fogo. Foi nessa ocasião que o companheiro Rejo
cunhou a frase “eles são os intosquiáveis”. Chorei de rir da expressão. Uma palavra
exemplar para definir uma situação.
Bueno,
aí aconteceu o que o pessoal da Sentrafcut não imaginou. A base queria mais. E disse
não a proposta dos banqueiros. Inclusive a base de São Paulo, por um descuido
dos capas, também recusou a proposta. Não tecerei comentários do que aconteceu
na assembleia seguinte em São Paulo porque aquilo me causa urticárias. Enfim, após
uma breve semana de lutas, voltamos ao trabalho abichornados, porque merecíamos
mais... mais respeito dos nossos líderes.
Está
evidente que o sindicalismo brasileiro – e o bancário em particular – precisa ser
repensado. A democracia precisa ser exercida em sua plenitude, ou seja, devemos
eleger os nossos representantes. Hoje elegemos, apenas, os dirigentes sindicais.
Os coordenadores das federações e da confederação são eleitos em colégios eleitorais
de forma indireta. Urge essa democratização para que a base reconheça essa representação.
Para que os dirigentes deem a cara à tapa em roteiros pelo interior. Qual foi a
última vez que um dirigente da Fetrafi-RS veio à Santa Maria? Eu não lembro. Para
mim, é ponto essencial essa democratização esse “desencastelamento” das nossas mal-acostumadas
direções.
Outro
dado a ser discutido e que atrasa as demandas da categoria, são as lutas intertendências.
Hoje, a principal pauta do sindicalismo são as eleições de cada sindicato – no Rio
Grande do Sul são 37 –, então acaba uma eleição e tem outra e lá se vão os
capas buscar seu quinhão em cada sindicato, pois isso também reflete nas liberações
e crachás levantados nos encontros. As liberações é outro ponto importante para
ser discutido. As liberações são feitas por força, ou seja, conforme o tamanho
de sua tendência. E isso acarreta que um sindicato com 140 filiados na base
pode ter duas liberações, pois quem libera é a tendência. Como se resolve isso?
Liberações por número de sindicalizados. Por exemplo: até 1000 sindicalizados,
uma liberação. Acabaríamos com a ditadura das tendências e faríamos a
verdadeira discussão na base sindical, uma assembleia para deliberar quem seria
o liberado. [Cá entre nós: utopia].
Esse
é um texto para reflexão. Sempre é interessante após uma campanha salarial
fazermos uma meditação acerca dos acontecimentos. Não pode ser no calor da
greve e nem na pasmaceira do mês seguinte, mesmo que nada se modifique, mas se alguém
ler – concordando ou discordando – teremos avançado. E podemos um dia melhorar
nossa luta sindical. Caso contrário, manteremos os “intosquiáveis” ad aeternum nas nossas direções.
3 comentários:
Acho que este é o pensamento degrande parte dos colegas bancários,concordo. Abç
Acho que este é o pensamento degrande parte dos colegas bancários,concordo. Abç
Vilson Nicoloso
Os intosquiáveis são um grupo de Elite, acima do bem e do mal. Talhados a dedo com o objetivo de combaterem (ou não) o terrível Al Capão. Se capricharmos no roteiro talvez até consigamos o Kevin Costner pra ser o protagonista o filme: Eliot Béééss
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