domingo, 21 de julho de 2013

"Peládios na Câmara"



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

A foto é chocante, provocativa e, de certa forma, arrogante. Uma turma de manifestantes resolve protestar “peladitos da más” na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Escândalos na casa do povo! Um atentado ao pudor! Um horror! Foram a síntese dos comentários da nossa culta sociedade.
A sociedade gaúcha não está preparada para esse tipo de manifestação. A gente deseja um protesto ordeiro. Sem xingamentos. Sem cartazes agressivos. Sem ironia. Sem despojamento. Bom, aí não sei se é manifestação.
A escandalosa foto nos remete a definição de escândalo e desrespeito. A precariedade dos serviços públicos nos itens Saúde, Segurança e Educação não é um escândalo? As altas remunerações de políticos com uma infinidade de penduricalhos também não é um escândalo? Os voos nos jatinhos da FAB não é um escândalo? Os 39 ministro da Dilma – a maioria a gente não sabe que são e nem para que servem – também não é um escândalo? Imoralidade são os crimes de colarinho branco – ainda impunes –, corrupção e desvio de verbas. Existe imoralidade maior que um deputado dizer que “está se lixando para o povo” e ele continua lá.
Então, uma gurizada medonha resolve tirar a roupa no recinto da Câmara e a sociedade baixa o pau. Sem trocadilhos... certo! Eu acho que a coisa pegou por aí. As gurias do Grupo Femen protestam de topless e a gente até acha bonitinho. Mas a foto na Câmara o furo é mais embaixo. E a nossa moral não suporta.
No entanto, temos que analisar sob outra ótica.
Nós criticamos os manifestantes que usaram capuz para praticar vandalismo e agressões contra as pessoas e ao patrimônio seja ele público ou privado. Eles queriam demonstrar sua indignação, sua contrariedade e sua violência, mas se escondem atrás de uma máscara. Também podemos chamá-los de bandidos, delinquentes.
A atitude dos ocupantes da Câmara também foi uma forma de agressão, agressão ao status quo.  Só que a “violência” foi a nudez. Não foram corajosos o suficiente para mostrar a cara. De certa forma tornam-se iguais a todos os demais que se escondem – nas mais diversas instâncias – para praticar as suas “imoralidades”.
Nessa correlação de análises, também foi uma atitude de vandalismo... vandalismo à nossa moral tradicional e conservadora. Assim, penso que o capuz camuflou o “bandido” da ocupação. Ocultou o ultraje. Por outro lado, num recinto onde doutores pregam moral de cuecas, que mal tem uma turma pregar imoralidade de capuz. E nesses episódios o óleo de peroba satisfaz. Tanto os pelados quanto os doutores das fotos na parede.
Voltando a escandalosa foto, que também nos remete a redefinir o que é imoralidade.  
Quem não admirava o grupo “Mamonas Assassinas” com toda aquela irreverência? Eu gosto e também admirava aqueles jovens. Principalmente as músicas:
Robocop Gay
Vira-vira
Pelados em Santos

E agora ficou escandalizado com as fotos dos “Peladios na Câmara”.
Eu também.
Sugestão: na próxima vez façam um nu artístico.

Nenhum comentário: