terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Santiago 2014 – Edson Luís 1968



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Ao vermos as imagens do cinegrafista Santiago Andrade sendo atingido por um rojão ficamos, profundamente, consternados. É impossível permanecermos indiferentes diante da televisão. Um cidadão no exercício de sua profissão sendo covardemente assassinado. Então, nos perguntamos: qual o rumo das manifestações no Brasil?
Esse episódio me fez lembrar um outro assassinato – nos tempos em que os militares mandavam e desmandavam – que causou uma consternação em todo o país. O estudante secundarista Edson Luís foi assassinado num confronto com a polícia no restaurante Calabouço no centro do Rio de Janeiro em março de 1968. Não podemos fazer uma correlação – ipsis litteris – porque são épocas, condições e sonhos diferentes. Mas o que iguala esses dois assassinatos é, justamente, um confronto entre manifestantes e polícia. Em 68 um policial dá um tiro certeiro no estudante. Em 2014 a ação mortal parte de um manifestante. Na década de 60 foi o ponto inicial para a ditadura encrudelecer e criar o AI5.
E em 2014? O que está por vir? Não acredito em retrocesso, embora incipiente nossa democracia tem características estáveis – salvo alguns retardados à esquerda e à direita que não desejam – e está sedimentada em pilares republicanos.  
Algumas das causas desses radicalismos passam por um recuo de uma esquerda que sempre esteve nas grandes manifestações e hoje está reclusa. As incertezas ideológicas e radicalismos nas manifestações estão ocupando um vácuo deixado pelo recuo dessa esquerda que já esteve nas ruas em outros tempos. E no campo ideológico ninguém fica em impedimento, não existe espaço vazio.
O agravante nesse imbróglio é a Copa do Mundo. O grande evento que será motivo de novas grandes manifestações. É legitimo que haja. Qual militante social perderia essa oportunidade?  O que não podemos compactuar é que cada manifestação torne-se uma praça de guerra. Nesse caso o estado deve garantir a ordem democrática, o direito de ir e vir e se expressar.
Ah! Mas e os vândalos radicais? Permanecerão radicais em seu gueto e se for o caso no xilindró.
Espero que durante a Copa os democratas – da nossa estável democracia – não criem empecilhos aos manifestantes sacando da manga uma lei que criminalize as manifestações e que a policia reprima violentamente – como em outras eras – pelo aparato repressor do estado a voz das ruas. Pois quem lutou por liberdade e democracia continuará lutando por liberdade e democracia, não é mesmo?
Se a morte de Edson Luís foi uma comoção para o Brasil num grito de democracia e liberdade, a morte de Santiago invoca o mesmo sentimento: queremos liberdade de imprensa e o direito de gritar nas avenidas com os punhos cerrados, mesmo que um senador do PT não pense assim.


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