quarta-feira, 17 de junho de 2015

O corretor de lotes

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Zé é um excelente corretor de imóveis. O melhor e mais eficiente da imobiliária. Um trabalhador extremamente dedicado à empresa. Um negociador de mão cheia. Zé nasceu para ser vendedor.
Com todo esse currículo, Zé foi incumbido de administrar um loteamento de alto padrão em uma área muito valorizada na cidade. Clientela direcionada: grã-finos.  
Zé teria que ser um administrador zeloso e de fino trato para negociar com a grã-finagem.
Então, o Zé entrou de corpo e alma no negócio e começou a execução do loteamento. Diante de tamanha envergadura do projeto envolvendo cifras estratosféricas o olho do Zé cresceu, junto com o olho, o bolso e a conta bancária. Os negócios das vendas dos lotes não foram – digamos assim – nada republicanos.
Os negócios estavam indo muito bem. A olhos vistos, diga-se. O Zé trocou de carro, tinha um Golzinho com revisão atrasada e focou num Focus. Morava num bairro popular e adquiriu uma casa no local mais chique da cidade e reservou um lote de terreno no próprio loteamento em que era o empreendedor. Zé queria ser vizinho dos ricaços.
Tornou-se o maior incorporador de loteamentos da cidade e comentava – entre um gole e outro de uma dose de uísque 18 anos – que logo seria o maior do estado. O Zé prosperou.
Zé era o rei dos loteamentos. O rei dos lotes. Qualquer área que o Zé empreendia quintuplicava de preço. Entre seus pares, num primeiro momento, ficou conhecido como Zé dos Lotes. Mas logo seus próprios pares reduziram a alcunha para Zé Lotes.
E assim o Zé seguiu seus negócios, praticamente intocável. Em silêncio e sem alarde. Dizem as más e as boas línguas que Zé Lotes sonha em ser governador, quiçá presidente.
Na camufla, sem alarde, quieto. O velho e inconfundível estilo do Zé Lotes.

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