sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A cultura do ódio



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Sinceramente, não queria escrever uma crônica sobre o ódio. Não deveria fomentar esse sentimento. Mas a política, nos últimos tempos, tem propiciado várias reflexões. A web, na recente campanha eleitoral, foi um faroeste. Uma terra de ninguém no melhor estilo meu nome é Ninguém.
Em terras pampeanas, nos tempos em que chimangos e maragatos peleavam nas revoluções, as desavenças eram concluídas com sangue nos olhos de um lado e sangue no pescoço de outro. Então, o ódio nas disputas políticas já foram bem mais trágicas, violentas e, digamos assim, definitivas para findar uma pendenga.
Mas numa época de valorização dos direitos humanos, das minorias e das causas sociais o discurso do ódio e do aniquilamento do adversário traz em seu bojo uma fúria desmedida. Contribui pouco para o aprimoramento do debate. Há pouco tempo havia mais implicância do que ódio – nunca odiei um adversário – para suplantar um oponente numa disputa eleitoral. Em um discurso para acordar a militância é comum usar alguns termos e expressões mais agressivas. Isso, num tempo em que a militância não era paga.
Nesse estágio da tecnologia o discurso do ódio é facilmente propalado pelas mídias e digamos, democratizado. Odiamos “a lo loco”. Da mesma forma que amar, odiar é da essência do ser humano. Aliás, em muitas desavenças há uma relação de amor e ódio.
O discurso e apologia ao ódio nesses tempos de comícios nas praças, discussões no Facebook ou ante ao chamado do juiz de Curitiba suplanta o mínimo de sensatez e urbanidade que se deseja entre bons debatedores.
Odiar um partido a ponto de desejar a sua extinção. Odiar uma pessoa a ponto de desejar sua morte. Odiar um cidadão por suas simpatias políticas. Odiar uma classe por conta de tudo que acontece ou deixa de acontecer. São exemplos que o discurso do ódio não é privilegio de uma ideologia. Cada um com seu ódio em vermelho e azul e estamos todos contemplados e sorrindo amarelo. O discurso de ódio contra os corruptos é contra todos os corruptos ou alguns corruptos são preferenciais?
Assim, a reflexão a ser feita em ritmo de autocrítica poderá ser a seguinte: até que ponto eu concordo com o discurso de ódio se o orador é um parceiro de ideologia?
Mas eu gostava mesmo era de odiar no Orkut. Participava de duas comunidades “Odeio esperar resposta no MSN” e “Odeio gente atrás de mim o PC”.


Próximo texto: Debandada.

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