domingo, 6 de novembro de 2016

Esgualepado



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Se não estou enganado as palavras esgualepado e espraiado tornaram-se correntes no Rio Grande do Sul pelo uso seguido de Olívio Dutra em suas manifestações.
Foi, justamente, a palavra esgualepado que veio em minha mente ao acompanhar o desfecho do resultado das eleições em 2016. Do ponto de vista eleitoral podemos afirmar que o pensamento de esquerda saiu esgualepado desse processo. A derrota foi acachapante. Assim, profundamente reflexiva. As causas? Inúmeras.
Não pretendo elencar, mas começam com a indicação de Alencar como candidato a vice na chapa de Lula e com a carta ao povo brasileiro. Nesse momento a esquerda, ou o seu mais genuíno representante, abandona algumas teses para se acomodar e se moldar ao status quo.
A ideia não é buscar causas externas e sim internas – autocrítica – no que contribuiu para esse quase aniquilamento da esquerda. Eu não considero a raiva e o oídio como causas fundamentais, pois o surto passa e a ideologia fica. Enquanto a esquerda se esmorecia a direita saía do armário. A esquerda enrolou a bandeira e a direita perdeu a vergonha de ser direita. E o Brasil polarizou.
Diante desse imbróglio político resta, apenas, uma autocrítica sincera e irrestrita. Autocrítica é uma palavra pouco pronunciada nesses tempos de baixa autoestima e arrefecimento, mas a esquerda não escapará dela. A trajetória dos acordos, pragmatismo eleitoral e alianças esdrúxulas devem ser discutidas à exaustão. A sinuca de bico em que a esquerda se meteu não foi provocada, apenas, pela direita.
Em 2002 a esperança venceu o medo, mas apenas venceu o medo. A esperança não se consolidou como uma nova prática política. O governo Lula sucumbiu às engrenagens da estrutura de poder e acabou virando um governo de coalizão acomodando companheiros e neocompanheiros de qualquer quadrante.
Como afirmei são inúmeras as causas dessa derrocada: mídia conservadora, corrupção, antipetismo, crise política, mas um mea culpa precisa ser feito. A base social da esquerda precisa desse retorno para buscar sobreviver ou renascer.
É uma imbecilidade afirmar que a esquerda acabou, como fazem alguns cronistas mais exaltados. Não se extermina um pensamento, uma ideologia. Ela precisa ser refundada pela base.
Sem autocrítica remontamos a Groucho, também Marx: esses são os meus princípios, se você não gostar deles eu tenho outros. E tudo será como dantes e logo estaremos mais esgualepados e amargurando novas derrotas.


Próximo texto: Más companhias.

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