terça-feira, 8 de novembro de 2016

Más companhias

Athos Ronaldo Miralha da Cunha



Quais são as boas companhias da esquerda?
Para governar na nossa democracia participativa o presidente necessita fazer acordos e construir a tão falada base aliada. Aí começa a complexa engrenagem das alianças e negociatas. Para conseguir o apoio da maioria dos congressistas precisa ceder e isso envolve cargos e emendas. Então temos no interior do governo – qualquer que seja ele – as más companhias e isso é um baita problemão como afirmou certa feita o Olívio no auge de um dos escândalos. Enquanto esses pactos eram feitos dentro do mesmo conteúdo ideológico parecia normal e, convenhamos, era normal. Mas quando a esquerda ascende ao governo – diga-se, respaldada pelo voto popular – o apoio no Congresso foi negociado nos mesmos moldes e com parâmetros idênticos. Com a similar lógica anterior e, cá entre nós, poderia ter sido diferente. E todos sabemos o resultado disso.
Mas no caminho para explicar medidas e conchavos havia um horizonte utópico rebaixado, como falou, em dado momento, Tarso Genro justificando alguma medida impopular.
A saída de Olívio Dutra do ministério das cidades para dar espaço a um apaniguado do PP foi simbólica e sintomática. Infelizmente, uma indignação silenciosa na esquerda. Faltou vociferar de punho cerrado. Mas a esquerda estava estática e extasiada.
As más companhias foram o sustentáculo e o cadafalso dos recentes governos da esquerda no Brasil. O senso de oportunismo é muito grande, visto que a mesma base que apoiava Dilma foi a base que a cassou. Um acordão imoral transformou em presidente o vice, principal e genuíno representante de um pacto para governabilidade, em um traidor da cepa republicana.
Mas qual a boa companhia? O povo, diga-se, para qualquer governo. A base de sustentação de um governo deveria ser o povo. E isso é uma lição a ser aprendida. Sabe-se lá quando!
O povo andou pelas ruas em junho 2013 e causou um alvoroço nas hostes da nossa república e seus poderes constituídos. Alguns desatentos – ou atentos demais – não entenderam bem o que estava em jogo. E preferiram desdenhar daqueles que acordavam naquele momento. Sem dar-se conta que, naquele momento, os dorminhocos eram os que desdenhavam. A onda passou para alívio dos governantes. Mas foi inesquecível o semblante amedrontado de Renan Calheiros diante das manifestações daquele mês. Então, quem deve dar a governabilidade? Qual a boa companhia? Pensativo me reponto...


Próximo texto: A cultura do ódio.

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