sábado, 14 de novembro de 2020

Cordeiro com pele de lobo

Athos Ronaldo Miralha da Cunha


Por esses dias recebi um presente de uma amiga que sabe que sou apreciador periférico de vinhos. O tinto em questão era um “Cordero con piel de lobo”, malbec argentino. Para os meus parcos conhecimentos: excelente. Gosto das uvas malbec e tannat.

Então, na noite do debate entre os prefeitáveis de Santa Maria, eu abri o tal vinho castelhano.

A impressão que eu tinha era de que ao saborear o “Cordero con piel de lobo” se materializava na telinha, entre os debatedores, cordeiros com peles de lobos. Ou o avesso.

Tudo bem, nem todos. Há que diferenciarmos. E aqui entra a construção do voto. A identidade entre eleitor e candidato. Entendo que tem que haver, no mínimo, uma sincronia ideológica.

Nos debates, todos têm soluções para tudo. São incisivos. São convincentes. Outros são descolados e arrogantes. Mas todos cheios de certezas.

Do lado de cá, temos que interpretar quais as melhores e viáveis propostas que batem com os nossos anseios. As propostas que se coadunam com a nossa visão de mundo. Com o cotidiano e com a nossa origem de classe.

Assim, temos que investigar o histórico da chapa – prefeito e vice, claro – e ver como se comportaram os pretendentes ao paço municipal durante ocasiões cruciais da nossa conturbada política. No meu entendimento, vale analisar o histórico do candidato tanto quanto o programa de governo.

Os debates com temas são descomplicados. Infraestrutura, educação, saúde, etc... são, relativamente, fáceis debater. Por isso, inclusive, penso que os debates deveriam ser sobre a vida. Visões de mundo. Questões do dia-a-dia. Posições políticas. As suas contradições. E suas omissões. Um debate amplo e democrático.  

Abro colchetes.

[No caso do debate de Porto Alegre em que a Manuela sofreu uma agressão de um candidato machista e, apenas, Fernanda Melchionna foi solidária, é ilustrativo. Me diz muito mais o silêncio dos demais candidatos do que suas viáveis e inigualáveis propostas para a educação.]

Devemos conhecer a fundo a trajetória do candidato para não sermos, logo ali adiante, um arrependido... ou desacreditado com tantos desmandos que a política oferece.

Enfim, o importante em última instância é votar conscientemente. Porque depois do voto incerto, ainda resta os tintos para aplacar os erros e aí cabe um “Mosquita muerta” que também é um vinho argentino e não um candidato derrotado. Eles – os candidatos – sempre renascem, quando não caem para cima.

Ah! Se alguém quiser me dar presentes, é fácil. Você pode errar no voto, mas não erre na uva: malbec ou tannat.

 

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