quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Telhado novo


Hoje em dia a imagem é tudo. A primeira impressão é que vale.
Na política a aparência é fundamental, principalmente em ano de eleições. E nesses casos a calvície, os fios de cabelos brancos ou um nariz avantajado, tornam-se incômodos no vídeo.
Em dado momento da vida nos defrontamos com o espelho e constatamos o inevitável: quem não está calvo, está com uma nevasca de causar inveja aos Campos de Cima da Serra. Quem não consegue encarar a realidade, encara a mudança. E os tabus da cirurgia plástica e do implante são heroicamente superados.
Recentemente foi noticiado que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu fez cirurgia para implantar cabelos, num hospital de Recife. Foram 6.710 raízes implantadas no topo da cabeça. Segundo Zé Dirceu, para esconder uma cicatriz de 2,5 cm.
No auge das denúncias do mensalão o ex-ministro era o principal acusado. No final de todo aquele episódio o Zé Dirceu foi cassado e o PT, símbolo da ética e da transparência, deixou de ser estilingue para se tornar vidraça. A partir de então, o partido do presidente Lula também passou a ter telhado de vidro e o Zé Dirceu o pivô do imbróglio.
O que leva uma personalidade da estatura do ex-ministro em mudar sua estampa? Vaidade? O Zé Dirceu quer ficar bonito? Ou, simplesmente, ostentar umas melenas, um topete, no melhor estilo Itamar Franco. Quem sabe, em situações embaraçosas, afirmar com convicção: vou deitar o cabelo.
Mais de seis mil pés de cabelos é uma lavoura respeitável. Diria mais, um assentamento bem-sucedido. Um amigo comentou que preferiria ter um pomar com seis mil pés de laranjas, mas eu tenho dúvidas se negócio com laranjas dá bom resultado. As últimas experiências são desagradáveis.
Qual o intuito desse novo semblante? Os amigos sabem que por debaixo daquele teto existe o velho Zé Dirceu, articulador implacável e hábil negociador. Os inimigos também, só que por outra ótica.
Segundo o cirurgião, daqui a uns três ou quatro meses a lavoura começará a dar resultados. Estaremos diante de um novo Zé Dirceu? O ex-ministro estaria, numa derradeira tentativa, escondendo seu telhado de vidro? Prefiro acreditar no amor-próprio.
O que precisamos no Brasil é de mudança de mentalidade no trato da máquina pública, coisa que, infelizmente, uma cirurgia de implante, plástica ou uma tinturinha não resolvem.
Particularmente, enquanto não inventarem uma tesoura que corte, apenas, os fios de cabelos brancos, estou aderindo ao uso do chapéu, que, nesses dias escaldantes é uma questão de saúde.

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