segunda-feira, 20 de julho de 2009

O argentino não era o culpado

A mídia esportiva foi praticamente unânime em afirmar que o elenco do Internacional para o ano de 2009 era um dos mais qualificados do Brasil. Apenas um inexpressivo comentarista arriscou que o Inter seria o cavalo paraguaio da competição – a exemplo dos “atentados” contra Bush, eu quase atirei um sapato na televisão – mas mantive a calma diante da estultice do jornalista e do prejuízo com o conserto.
O fato é que o Internacional decidiu o campeonato Gaúcho, pelo segundo ano consecutivo, com uma estrondosa vitória de 8 a 1 sobre os adversários de Caxias do Sul. E lamentamos que o oponente não tenha sido o co-irmão da Azenha. Posteriormente, o colorado dos pampas decidiu a Copa do Brasil e a Recopa Sul-Americana.
Aqui começa a estória do argentino pé-frio.
A turma se reunia para assistir aos jogos do colorado. Essas reuniões, regadas a cerveja e tequila, começaram em 2006 com a vitória contra o Barcelona – que é sempre bom lembrar para levantar o moral – e naquele primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil, contra o Corinthians em São Paulo, apareceu um argentino, assim, meio do nada. O castelhano era oriundo de Rosario e intercambista do curso de veterinária. Dois fanáticos e desconfiados colorados entreolharam-se sestrosos, mas logo acataram o novo torcedor, pois o gaucho era San Lorenzo desde criancinha, time que revelou o D´Alessandro. Sendo assim, ficou enturmado.
Ao final da primeira partida no Pacaembu, diante dos gols do Corinthians, alguém comentou que o castelhano era pé-frio, mas os demais não deram a menor bola, o cara era da terra de D´Ale e Guiña. Era dos nossos. Trazia no âmago a garra farrapa. E dá-lhe pero que si, pero que no.
No primeiro jogo da decisão da Recopa, por via das dúvidas, uma das gurias trouxe um par de pantufas vermelhas para o argentino, mas a derrota foi inevitável e o colorado perdeu de um a zero.
– Esse rascunho do Che Guevara é pé-frio – comentou a guria que trouxe as pantufas.
Nos jogos da volta da Copa do Brasil e da Recopa, o argentino foi paramentado com um gorro de lã, um pala, uma bandeira sobre os ombros, um par de meias e, logicamente, as pantufas. Claro, era o mais próximo da lareira. Volta e meia alguém alcançava um copo de quentão para aquecer o hermano. Mas as tragédias das decisões estavam anunciadas. E eram inevitáveis. E sempre alguém comentava: esse castelhano é pé-frio.
Para o Gre-Nal comemorativo dos 100 anos do clássico, o castelhano, constrangido, não deu as caras. Telefonou avisando que sequer assistiria ao jogo. Iria passear pelo Calçadão e pelo Parque Itaimbé com uma cuia cevada para o amargo e uma viola. Iria dedilhar umas milongas para matar a saudade de sua amada Argentina com músicas de Os Chalchaleros e Atahualpa Yupanqui. A turma sentiu-se aliviada.
Como vimos, não sabemos quais foram os motivos de derrota do Inter no Gre-Nal dos 100 anos, se houve alguma influência extra-campo, mandinga de batuqueiro ou uma fogosa castelhana atrapalhando o desempenho dos nossos castelhanos. Mas, definitivamente, o argentino não era o culpado pelas derrotas do Inter.

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