sábado, 16 de janeiro de 2010

Onde estão as nossas loucas?


Não faz muito tempo e estão ao alcance de nossa memória, os anos de chumbo da América Latina. Ainda podemos lembrar nomes de tiranos como Augusto Pinochet, Alfredo Stroessner, Jorge Rafael Videla, Juan Maria Bordaberry, os generais ditadores do Brasil e tantos outros. Opondo-se às ditaduras tivemos as mais variadas formas de luta: a arte, a caneta, a tinta, o canto e a luta armada. O enfretamento era desigual. Qualquer palavrinha na música ou peça de teatro que denotasse desconfiança o censor carimbava “censurado”. “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta” era a resposta. Foram tantos os sofrimentos e lutas que ainda nos emocionamos com Mercedes Sosa e com os filmes de Costa Gravas.
Nesse período nebuloso de nossa história o Estado sequestrou, torturou e assassinou opositores ao regime. Em pleno século XXI, nos mais variados recantos desse “continente americano coração gosto de sal” pessoas choram a morte – ou desaparecimento – de familiares. As “locas da playa de maio” em Buenos Aires são um exemplo de perseverança.
No Brasil não é diferente, temos centenas de desaparecidos políticos a espera de respostas dos seus paradeiros. A terceira edição do Plano Nacional de Direitos Humanos parecia um caminho para esclarecer esse período de exceção. A Comissão da Verdade foi criada com o objetivo de apurar os crimes cometidos durante a ditadura militar. Mas militares incomodados com o texto se insurgiram. Inclusive, o “general” Jobim colocou o cargo à disposição do presidente Lula. Assim, a expressão “repressão política” foi banida do texto. E como por encanto, ou por decreto, a polêmica deve ser encerrada. Pergunte para alguém que teve choque nas genitálias para ver se a polêmica deva ser encerrada.
O que parece óbvio nessa história toda? Crimes cometidos durante a ditadura devem ser esclarecidos. O Brasil está refém dos carrascos que perambulam pelas cidades, ainda, libertos de seus crimes. Os relatos dos porões são estarrecedores. Quem não conhece um relato feito por um prisioneiro político. A polícia política praticou os mais horrendos atentados aos direitos humanos e esses arquivos continuam bem-guardados nos armários da repressão. Inalcançável a quem de direito, embora tenhamos no governo pessoas que sofreram essas agruras.
Os militares querem que sejam julgados os crimes cometidos pela guerrilha. Quais crimes? Os guerrilheiros já pagaram – e sem o devido julgamento – com a vida, com o exílio ou com os traumas psíquicos que os perseguem para o resto de seus dias. E os torturadores? São cinco os crimes cometidos: sequestro, cárcere privado, tortura, assassinato e ocultação de cadáver. Esses criminosos ainda estão incólumes. Quando o Brasil fará esse encontro com a história? Será que mais uma vez o pragmatismo eleitoral vencerá e os crimes dos ditadores continuarão ocultados pela nossa, eternamente incipiente, democracia. Faltam loucas no Brasil. Doidos varridos para “desvarrer” esses arquivos debaixo dos tapetes. Precisamos de “loucas do planalto central.”

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Athos,
A tal da lei da anistia política foi muito hipócrita, pois pretendia passar uma "régua" nesse assunto e colocou em pé de igualdade os crimes cometidos pelos militares e os poucos crimes cometidos por alguns membros da resistência esquerdista.
Acontece que os militares aparentemente mataram milhares de pessoas (em SP encontraram um cemitério clandestino de 4000 cadáveres da época do Médici), e torturaram outras milhares de pessoas. Se não para punir, pelo menos para sabermos a verdade do que aconteceu temos que revisar a história do Brasil. Esses dias ainda circulava na Internet uma cópia de uma ficha da Dilma enunciando os assaltos e outros crimes que ela teria cometido nessa época, no entanto não vemos nenhuma ficha circulando na Internet com os nomes dos criminosos e dos generais da ditadura, esses estão escondidos até hoje.
Att,
Rejo.