terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Adeus aos Eucaliptos

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Posso imaginar o que sentiu Larry Pinto de Farias ao ver o início da demolição do Estádio dos Eucaliptos. Possivelmente um sentimento de perda e vazio. Impotência diante da máquina avassaladora.
O estádio inaugurado num distante março no início da década de 30 dá lugar a um condomínio residencial. Em breve, o gramado onde brilharam Ivo, Alfeu, Nena, Assis, Ávila, Abigail, Russinho, Villalba, Tesourinha, Adãozinho e Carlitos, craques do lendário Rolo Compressor será, apenas, algumas lembranças de saudosos torcedores do Sport Club Internacional.
Não conheci os Eucaliptos, sequer fui fazer uma visita para ver o palco que abrigou jogos da Copa de 50. O Estádio dos Eucaliptos nunca esteve nos meus roteiros em visita a Porto Alegre. Não tive a felicidade de assistir ao Rolo Compressor e não vi as atuações de Tesourinha e Cia. Essa turma de boleiros só nos livros e fotos. A minha geração é a do Gigante da Beira-Rio. Que também é um templo sagrado de mitos e lendas do futebol. A geração do Bigorna, Bola-bola e Dom Elias Figueroa. Da mesma forma que alguns torcedores mais idosos têm a escalação do Rolo Compressor na cabeça, eu tenho a da equipe campeã de 75 e o inesquecível Gol Iluminado.
Não tenho esse sentimento de afeto ao Estádio dos Eucaliptos, mas posso imaginar que seja a mesma sensação melancólica de um ferroviário ao contemplar as ruínas de uma estação da Viação Férrea. E esse sentimento – como filho de ferroviário –, eu tenho presente. São emoções indescritíveis como folhar um corroído álbum de fotografias que contam a história de uma Era. A história de um tempo que está marcado nos gritos de uma torcida ou num gol de bicicleta.
O Estádio dos Eucaliptos ficará na memória dos torcedores – e na memória dos filhos e netos desses torcedores –, nas fotos, em um perdido filme de uma tabelinha de Larry e Carlitos. Na voz de um narrador alucinado com um desconcertante drible de Tesourinha. Essa é a historia que deverá ser contada e escrita nos pormenores detalhes.
É uma pena. Os Eucaliptos poderiam abrigar a história do futebol, a memória dos esportes, mas temos que compreender que futebol e time campeão não se faz com sentimentalismo e nostalgia. Hoje, futebol é um negócio cujo resultado vem das quatro linhas do gramado. Não basta ter um estádio, tem que ter time e time vencedor.
Assim, resignado, mas com o mesmo sentimento de Larry, entendo o adeus aos eucaliptos.
O Beira-Rio é o nosso palco e o Rolo Compressor nós refaremos junto ao pôr do sol do Guaíba. E quando o capitão colorado levantar a taça de campeão estará saudando os craques do passado e as glórias do Estádio dos Eucaliptos.


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