O escritor Ignácio de Loyola Brandão colocou suas memórias de filho de ferroviário em um exemplar de crônicas. “A morena da estação” é um livro para quem tem sangue de operário nas veias.
Como um filho de ferroviário folheia um livro cujas histórias também fazem parte de sua infância? Como não sentir uma nostalgia quando o autor escreve sobre passagens que nos dizem tanto: carro restaurante, chefe de estação, estação, plataforma, se a infância de quem lê também foi nos trilhos, vagões e na saudosa Maria-Fumaça?
Então, só temos uma frase para definir o livro: excelente para todos aqueles que, de uma forma ou de outra, tem um sentimento de carinho pela Viação Férrea, tem um antepassado que bateu bigornas em um depósito.
As crônicas de Loyola Brandão estão ambientadas – a maioria delas – pelas estradas de ferro de São Paulo, na EFA – Estrada de Ferro de Araraquara –, cidade de nascimento de Loyola. Mas com um caráter universal, humanista e diria, ainda, de idolatria aos ferroviários. Pois quando temos a visão clara do que era a potência da Viação Férrea e vemos o que é hoje, percebemos nitidamente o descaso com o patrimônio público e jogo de interesses quando envolve os poderosos. Hoje, os trens, as estações e a Maria-Fumaça são apenas nacos de saudade. Não quero dizer com isso que devemos retomar a Maria-Fumaça, mas que o transporte ferroviário deveria ser um dos meios oferecidos a população.
O livro editado pela Editora Moderna tem uma bela encadernação e fotos da época e do auge da Viação Férrea. A capa não ficou no mesmo padrão do livro, poderia ser mais evocativa... mais ferrinho. Aliás, ferrinho é uma palavra que não consta no livro. Deve ser coisa de gaúcho.
Na página 44 a foto do carro restaurante mostra o luxo e o bom gosto dos que viajavam naqueles tempos. Na página 85 temos a foto da imponente Maria-Fumaça 27 saindo de um túnel. E na página 157 a foto da estação Bauru. Essa fotografia demonstra a grandiosidade e imponência da Viação Férrea.
“A morena da estação” é um título que nos faz ir ao encontro do livro. Uma espécie de amor a primeira vista. E é uma crônica muito bonita, cheia de sentimento e saudade. Transmite o que eram as estações da Viação. As idas e vindas. O adeus de uma partida e a eterna espera. Assim eram os tempos da Maria-Fumaça. É com esse sentimento que folheamos as páginas amarelas dos antigos álbuns de fotografias e é assim que folheamos as páginas de “A morena da estação”.
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