quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Já começaram os Cunha a se exibir

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Ramiz Galvão é um pacato lugarejo que teve seu auge nos meados do século passado, nos tempos em que a Maria-Fumaça fumegava nos trilhos do Rio Grande. Localizado logo após Rio Pardo no trajeto Santa Maria-Porto Alegre.
Havia em Ramiz Galvão o Depósito da Viação e o Socorro. O povoado era um pólo ferroviário e parada obrigatório de Getulio Vargas quando em campanha política. Tinha um cinema, associações, clubes de futebol e a Cooperativa da Viação. O Couto Futebol Clube – que os ferrinhos chamavam de Coito – era formado pelo primeiro e o segundo quadro. O seu Anísio Cunha jogava de lateral direito no primeiro e de goleiro no segundo. Fominha por futebol, assim como toda a família Cunha que morava na Costa.
Nos bailes da Associação dos Ferroviários – os Cunha, folgados pés-de-valsa – eram os que abriam a noitada fandangueira nos volteios dos chamamés e rancheiras. Claro, o seu Anísio era um dos Cunha que estava dançando o xote figurado. Dançarino fominha como toda a família Cunha que morava na Costa. Então, era comum ouvir os comentários da turma que ficava em volta do salão, receosos de serem os primeiros. – Já começaram os Cunha a se exibir!
Como sou da linhagem Cunha de Ramiz Galvão, oriunda do Piquiri, resolvi fazer umas aulas de dança no DTG Noel Guarani da UFSM, pois não herdei o gingado e os trejeitos dos Cunha para bailar. E não queria macular a memória dos Cunha nos bailes. Um semestre inteiro com aulas dos ritmos guascas. Milongas, chamamés, valsas, rancheiras, bugio e vaneras nos sábados à tarde na universidade num galpão do Parque de Exposições. Me adaptei à milonga com uma certa facilidade. Chamamé, eu deixo para os castelhanos.
O primeiro baile que “enfrentamos” após o final do semestre de danças foi um desastre. A impressão era de havíamos esquecido tudo. Conclusão: rematrícula no curso por mais um semestre.
Novamente, o primeiro baile que “enfrentamos” após o final do segundo semestre de danças foi um completo segundo desastre. A impressão era de não havíamos aprendido nada. Estávamos bloqueados. Conclusão: me exibir nas aberturas dos bailes, infelizmente, nem pensar. Ainda não tenho formação suficiente para tal. Não tenho o gene da dança dos Cunha.
Nos bailes que virão, estarei nas mesas vendo os outros pares abrirem os festejos. E serei um dos que fará coro se, por ventura, os parentes entrarem cheios de volteios no meio do salão.
– Já começaram os Cunha a se exibir!

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