domingo, 27 de maio de 2012

15 milhões e não é prêmio da Mega-Sena


Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Se fizermos uma enquete perguntando quem é Carlos Augusto Ramos, poucos saberão responder. Mas quando afirmamos Carlinhos Cachoeira, cai a ficha. Uma figura contumaz nos noticiários políticos.
As ramificações desse Carlos Augusto são de causar inveja a qualquer Al Capone tupiniquim. A lista de crimes elencados na CPI é extensa. Sonegação fiscal, tráfico de influência, formação de quadrilha... e por aí vai.
O povo brasileiro acompanha atentamente o desenrolar da CPI do Cachoeira. Mas com um pé atrás, dado o histórico das últimas CPIs, a morosidade do judiciário e a impunidade como consequência.
Até o presente momento o que mais chama atenção nessa comissão é a envergadura – política e jurídica – do advogado de defesa. Márcio Thomaz Bastos é o advogado do contraventor. Muito justo. Todos os cidadãos têm direito a um defensor. E o ex-ministro está legalmente habilitado para tal. Mas um dado que impressiona é o valor dos honorários advocatícios do Dr. Bastos, 15 milhões de reais. Muito mais que uma cachoeira, uma avalanche de dinheiro.
Eu não consigo avaliar o que passa na cabeça de uma pessoa com o histórico do Thomaz Bastos quando aceita essa incumbência. Tudo bem, a grana é federal e o advogado tem prestígio em casos escabrosos, mas o todo poderoso ex-ministro da justiça não titubeou em aceitar essa tarefa. Ser advogado de um delinquente do quilate do Cachoeira não macularia sua história jurídica? Aliás, como ex-ministro ele poderia ser advogado do Cachoeira? Eu também não sei quais os fundamentos éticos no exercício da profissão, mas acho muito estranho. Pode e deve ser legal, mas, moralmente, tenho lá minhas dúvidas.
Eu sou ingênuo, o que vale é grana no bolso e mídia. A ostentação de oráculo da classe dirigente e eminência parda do poder. E poder degustar um Romanée-Conti, um Château d’Yquem ou bebericar um Johnnie Walker Blue Label King George após as sessões da CPI no aconchego de sua sala de estar. Esse caso é emblemático. Um influente ex-ministro na defesa de um contraventor deve ser analisado pelos poderes constituídos. Ou aumenta-se a quarentena para os agentes públicos ou nos casos de crimes do colarinho branco os réus sejam defendidos pelos defensores públicos.
Se a justiça confiscar os bens do criminoso como seriam pagos os honorários do advogado? Nesse caso quando o advogado receber o cheque referente aos honorários a grana torna-se legal? Diante das câmaras da CPI, sem o ex-ministro cochichando ao seu lado, aquele sorrisinho amarelo e debochado do Carlinhos mudaria de cor. A cachoeira seria um filete de água turva.
O país da impunidade e do jeitinho tem que acabar. Está mais do que na hora de darmos um basta nisso tudo. Mesmo que – para esse basta – não tenhamos a ajuda do Marcio Thomaz Bastos.
Eu não queria usar a palavra que os brasileiros tanto pronunciam quando o Congresso instala uma CPI. É lugar-comum. Mas com licença que vou ligar para o tele-entrega e encomendar uma pizza calabresa.

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