segunda-feira, 22 de abril de 2013

O prefeito furou a fila



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Numa cidade do interior do Rio Grande do Sul o prefeito se dirige ao caixa da livraria para adquirir um exemplar do livro a ser autografado.
A sessão já havia começado. A atendente solicita gentilmente o nome do prefeito para colocar num papelzinho no interior do livro para não constranger o escritor. Numa possível falha na memória. O prefeito sorri amarelo, pensa um pouco e responde com um “ele me conhece” sem jeito.
Assisti a cena, pois eu era o próximo da fila para aquisição do livro. Quando comentei com a moça que o cara era o prefeito da cidade ela simplesmente falou um desajeitado “eu não sou daqui”. Acontece nas melhores famílias. Até pensei em comentar com o prefeito que a guria “não era daqui” para aliviar seu desapontamento, mas resolvi deixar o chefe sestroso. Uma munícipe que não conhece o prefeito deve ser algo que incomoda.
Paguei, falei o meu nome para ela colocar no papelzinho – o escritor não me conhece – peguei o livro e fui para a fila de autógrafos. Havia seis pessoas na fila, em minha frente um cara com três exemplares. Então, seriam oito autógrafos antes do meu. Pacientemente aguardei.
Folheava e via que o conteúdo causaria algum alvoroço na politica local. Um vespeiro misturado com teorias da conspiração. Mas farei uma leitura mais atenta nas minhas férias de maio. Quando curtir um “sol de maio”. 
O prefeito, como era muito conhecido do autor falou um festivo “vou furar a fila” e, descaradamente e sem-cerimônia, furou. Abraçaram-se como velhos amigos e o prefeito recebeu o autógrafo. Despediram-se com mais sorrisos, abraços e tapinhas nas costas. Afinal, eram duas raposas da politica. Logo, o prefeito foi tomar um cappuccino com outros pares. E nós ali, respeitosa e pacientemente, aguardamos na fila.
Pois é, né.

Ah! Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

Nenhum comentário: