quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Harlem Shake de Novo Hamburgo



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Em 2011 uma gurizada faceira de Dom Pedrito ganhou mídia nacional porque transformou o Hino Nacional em um funke e mostraram seus requebrados nas dependências de um quartel. Os miliquinhos da pampa gaúcha tinham uma ginga guasca.
Nessa semana, trabalhadores do judiciário fizeram uma coreografia do Harlem Shake sobre processos no judiciário de Novo Hamburgo. Mais requebrados de jovens gaúchos para o mundo ver. Indignação maior seria se a dança fosse chula. Chula, a dança tradicional do Rio Grande, certo?
Uma atitude desrespeitosa nas dependências da 2ª Vara Civil. Um acinte a quem pena por anos afio pelo andamento dos processos. Ou seria apenas uma descontração de final de expediente? Ah! Se na 2ª vara tivesse umas varinhas de marmelo?
Os jovens eram funcionários de uma firma terceirizada e foram demitidos sumariamente. A bem da verdade, sem direito a defesa. Tamanha insubordinação e desrespeito com o judiciário e a coisa pública não ficaria impune.
Antes de crucificarmos os “bailarinos” do judiciário, cabe salientar algumas questões recentes envolvendo a nossa justiça, a nossa Suprema Corte. Há poucos meses assistimos em rede nacional uma “bateção” de boca e cala-te boca no STF. Ministros faltando com o respeito para com seus pares. Julgamento e punição aos corruptos a gente conta nos dedos de uma mão.
Num país em que corruptos condenados pela justiça fazem parte da Comissão de Constituição e Justiça da Câmera. Um notório racista e preconceituoso preside a Comissão de Direitos humanos. E um latifundiário – ganhador da motosserra de ouro do Greenpeace – na presidência da Comissão do Meio Ambiente do senado. O que dizer da dança dos jovens sobre processos?
Aqui na província o Ministério Público simplificou em meia dúzia de indiciados as 13 mil páginas de inquérito policial no caso da boate Kiss. A sociedade esperava mais. Após vinte anos inicia-se o julgamento do massacre do Carandiru. Esses são apenas alguns exemplos de como anda a justiça no Brasil. Então, nos revoltamos porque meia dúzia de jovens rebeldes e inconsequentes resolve dançar um Harlem Shake em cima de uns processos.
Sabe o que mais me revolta? O tipo da música que escolheram. Tinha que ser Harlem Shake? Poderia ser um chamamé. Um samba de raiz. Um xote figurado. Ou quem sabe uma milonguinha para dançar de rosto colado.
Como tenho a impressão que tudo isso é um grande circo, acho que a dancinha do judiciário da 2ª Vara de Novo Hamburgo faz parte do espetáculo.

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