sábado, 15 de maio de 2010

Quem tem medo do PCO?


A análise política não precisa ser minuciosa para percebermos que a direita não está presente na eleição para presidente em 2010.
A elite brasileira é extremamente conservadora e a classe dirigente está enraizada em dogmas tradicionais. Entretanto, essa elite não conseguiu se organizar com uma candidatura viável nos moldes como participou em outras eleições. Alguém ainda lembra do “Juntos chegaremos lá” ou do caçador de marajás?
Por que a direita está fora da eleição para presidente do Brasil?
A classe dominante, que sempre esteve presente compondo historicamente com partidos conservadores e liberais, está com representação nas principais candidaturas. Os conservadores, representados pelos partidos, DEM, PP, fagulhas do PMDB, partidos nanicos poucos representativos politicamente e figuras como Sarney, Quercia, Maluf e outros de relativa importância, estão apoiando uma das principais candidaturas. No afã de buscar apoios às coligações, os candidatos a presidente esquecem facilmente a trajetória política dessa turma sempre enraizada no poder, mas com um balaio de votos e ávidas por cargos.
Após a construção das candidaturas a presidente (vou colocar na ordem da última pesquisa) Dilma, Serra e Marina, percebemos que a direita está ausente enquanto proposta com um candidato que a represente nos seus fundamentos ideológicos. Essas três candidaturas têm em seu currículo uma trajetória de esquerda. Militantes forjados na luta contra a ditadura. São candidaturas que não estão colocadas à direita do tradicional espectro da ideologia. No entanto, a direita aparece alojada nas candidaturas de Serra, Dilma e Marina. A direita estará representada em qualquer governo com reais possibilidades de vitória. E todos têm uma desculpa “plausível” para explicar esses apoios: governabilidade, estabilidade econômica e que deve-se olhar para frente. Bueno!
A coisa está tão esculhambada ideologicamente que até o presidente da FIESP virou socialista. Ou seja, a direita consegue “camuflar-se” confortavelmente na esquerda. E não é um caso isolado. Eu gostaria muito de saber qual o modelo de socialismo desse senhor?
Até a eleição de Lula, o PT era um partido puro. Não estava infectado com essas idiossincrasias da política. A eleição de Lula é a primeira antinomia política eleitoral petista e que deverá ser evidenciada, ainda mais, nos pleitos futuros se o pragmatismo eleitoral ainda for o princípio das coligações.
Lá no passado o PT estava incólume a qualquer vício da política tradicional. Ostentava uma pureza ideológica. Talvez sejam os novos ventos da política mundial. Mas o fato é que ainda nessa eleição o PT fornece aos adversários a sua maior virtude, a coerência e a tradição de lutas no campo da esquerda transformadora. O PT faz a mesma política que todos os demais partidos fizeram e continuam fazendo. Decisões de cúpula, acordos pragmáticos e ilações estapafúrdias para explicar o inexplicável na digestão de intragáveis companhias.
Para militância aguerrida, aquela que nasceu junto com o partido; a que sempre colocou a bandeira no ombro e foi para rua desfraldá-la sem medo; a militância que olha para o vermelho e o amarelo e diz que este é o futuro do Brasil; a que acredita ser o PT o veículo que mudará a cara deste país, um partido que faz história e é sujeito dela; essa militância está silenciosa, porque é esperançosa e ainda acredita que o PT é o mesmo PT que ela ajudou a fundar e a construir no dia a dia há 30 anos.
Uma militância que quando bota o pé na estrada, vira uma eleição em cinco dias. Porto Alegre conhece bem. Certamente, essas eleições, não serão empolgantes e apaixonadas como há três ou quatro pleitos. Ninguém mais poderá gritar nos comícios e carreatas “El, el, el, militância de aluguel”.
O PT não é mais o mesmo. O presente do PT ficará ao reboque do seu olhar para o futuro. E o futuro do PT, a contradição de seu passado.
Se considerarmos o quase infalível faro pelo poder que o DEM tem, seus representantes estarão em alguma “siglinha” na composição do próximo governo.
A direita não está preocupada com Serra, pois, se eleito, continuará com o mesmo tranco social democrata e com o mesmo trote na economia. E pelos mesmos motivos também não está preocupada com Dilma. Como diz o ditado “o andar da carreta acomoda as melancias”. E, certamente, a direita conseguirá conviver com alguns traumas de consciência, mas no poder.
Coerência mesmo está nas candidaturas do PSOL, PCO e do PSTU. Entretanto, esses não são citados, não são convidados para os debates e estão no rodapé das pesquisas eleitorais. Os candidatos se esgoelam nos poucos segundos do horário eleitoral. Sem pragmatismo e sem coligações, estão lá na ponta esquerda do pleito, ninguém acredita, aposta ou vê. Até achamos pífio, fora de moda e pré-muro de Berlin. Mas afinal, quem está preocupado com o PCO e com Zé Maria?

2 comentários:

Unknown disse...

Seria ilegítimo dizer que assim como não tem direita disputando a presidência, também não tem aquilo que se chamaria esquerda (que hoje seria essa militância de rodapé?)?

Devaneios e Abstrações disse...

E os projetos são os mesmos, já que, na sua opinião, não há uma candidatura de esquerda?