– Um sindicalismo potro sem dono –
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
O movimento sindical como um todo – e o bancário em particular – precisa ser repensado. Precisa renascer das cinzas se não quiser sucumbir em definitivo diante dos anseios e demandas dos trabalhadores.
Com a atual conjuntura e com os atuais dirigentes, não vislumbraremos conquistas relevantes para o conjunto da categoria. Hoje, há uma demanda reprimida de conquistas e manifestações. Há um anseio por reivindicações e lutas mais contundentes. E o sindicalismo não está cumprindo com essa demanda, não como cumpria há uma década.
Um exemplo que ficou claro recentemente (de uma demanda reprimida da sociedade) e que serve como alerta aos movimentos sociais, foram as manifestações ocorridas nas capitais do Brasil por ocasião das comemorações do dia da Independência.
Um movimento organizado via internet. Uma ferramenta que mobiliza milhões em tempo recorde e que está alguns passos ou anos a frente dos movimentos sociais. Uma maneira arrebatadora de arregimentação. Um movimento que se originou à margem das centrais, partidos e ONGs. Hoje, qualquer grupo de discussão na internet, ou nas comunidades de relacionamentos na web tem mais informação que uma assembleia de mobilização com meia dúzia de gatos pingados. Assim, percebemos que o movimento sindical continua com a mesma organização de 50 anos atrás.
Essa reflexão deve ser feita pelas categorias de trabalhadores. Nós estamos fazendo o sindicalismo arcaico. Inclusive, as formas de cooptação das atuais direções remontam a Era Vargas, com mais intensidade e adesismo, que nos deixam alarmados e preocupados com o futuro.
Então, para repensar o sindicalismo, a discussão, invariavelmente, passará por uma profunda democratização das entidades e instituições de representação. O modelo como está, está com o prazo vencido. Nossos representantes não representam a base da categoria e, sim, as tendências do movimento. E essas tendências do movimento se engalfinham pelos mais ridículos motivos. Desde a formação de uma simples mesa numa assembleia de dez pessoas a um cargo de suplente de suplente no conselho fiscal do sindicato dos bancários de “Cacimbinhas”. Nosso horizonte de lutas está rebaixado. Falta utopia e uma bandeira para desfraldar. Falta uma “gana missioneira”.
Nossos representantes são eleitos em congressos de dirigentes sindicais – sim, a esmagadora maioria dos participantes dos congressos são dirigentes sindicais – muitos deles há dez, quinze ou vinte anos a frente das entidades. Perpetuados nas direções que dizem sim, sim e sim aos “capas-pretas” do movimento que por sua vez dizem sim, sim, e sim aos governos. Nossas lideranças estão carcomidas e acomodadas em liberações ad eternum.
O atual sindicalismo é pautado pelas eleições sindicais. Têm sindicalistas que passa o tempo viajando para ajudar nessas eleições, pois a disputa é por espaços das correntes, cada vez mais intestinas e truculentas.
É comum vermos discursos inflamados nas assembleias – de companheiro A – baixando o cassete nas políticas da corrente do companheiro B. Mas já na próxima eleição o companheiro A apoia a chapa em que está o companheiro B. Isso é um reflexo da política no Brasil, não existe mais ideologia, o que vale são cargos e “poder” a qualquer preço.
Como são as eleições no movimento sindical e associativo?
Para fazer um comparativo descreverei as eleições nas Apcefs – Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal – e dos sindicatos de bancários.
As eleições das Apcefs são mais democráticas. Nós elegemos, por exemplo, por voto direto tanto para as associações estaduais, como também para a FENAE – Federação Nacional das Associações. Há um edital e as chapas se inscrevem e disputam o pleito expondo suas propostas e explicitando suas diferenças.
Nas eleições dos sindicatos de bancários a democracia tem um certo limite. As eleições para o sindicato são diretas. A categoria vota diretamente nas figurinhas que estão concorrendo. No entanto, quando temos que eleger os membros da Fetrafi-RS – Federação dos Bancários do RS – como também para a Contraf – Confederação dos Bancários – essas eleições se dão de forma indireta em um colegiado (congresso) estadual ou nacional.
Cabe salientar que esses encontros de bancários são na realidade encontros de dirigentes sindicais. A base da categoria tem pouca representação nesses encontros. Arrisco a afirmar que o percentual de delegados dirigentes sindicais beira a 90%. Assim, a base fica totalmente alijada do processo. A base da categoria não sabe quem são os diretores das federações e da confederação. Os nossos negociadores – os colegas que vão negociar a pauta do dissídio com os bancos – são indicados proporcionalmente pelas correntes. E mais uma vez a base da categoria não conhece esses “negociadores”.
E a conseqüência disso? A total falta de representatividade.
Esses colegas dirigentes estão deslocados, sem inserção e conhecimento da base. Aliás, esse desconhecimento é uma via de mão dupla. A base não conhece esses representantes e os representantes não conhecem a base.
A grande questão a ser discutida no sindicalismo – em particular o bancário – é a democratização das representações. Ou seja, eleições diretas para todos os níveis e instâncias: sindicatos, federações e confederação.
E a partir dessa discussão devemos avançar para serem eleitos de forma direta os representantes nas comissões por banco que farão as negociações especificas da categoria. No rol de processo de reformas consta a implementação de uma nova política no que diz respeito às liberações para o sindicato.
Como são as liberações hoje? Os “capas-pretas” de cada tendência se reúnem e decidem as liberações pelas facções. Decidem quem deve ser liberado e esse “liberado” fica comprometido com aquela tendência. Deus o livre se esse companheiro resolver levantar o crachá numa assembleia em desacordo com os ditames da tendência.
Houve um caso de um sindicato com pouco mais de 100 associados teve duas liberações para o Banco do Brasil. E outro sindicato com mais de 1000 associados sem um sequer. Essa é a lógica das liberações quarteadas entre as tendências.
No atual modelo qualquer desavença na direção, um companheiro pode ser “aconselhado” a voltar para o banco, pouco importando sua representatividade ou os desdobramentos financeiros e profissionais de uma volta sem um prévio acordo com os gestores. Com já ocorreu em vários casos.
Então, a questão a ser discutida nos fóruns é justamente a maneira de como devem ser escolhidos os liberados para trabalharem no sindicato. E a resposta é simples: as liberações devem ser dadas pelo número de associados. Por exemplo: um número X de liberados para cada mil associados. Independente das tendências. Independentes dos padrinhos políticos e líder máximo da organização. Assim, teremos um colega comprometido com o sindicato e com a categoria e não com uma tendência ou chefete de ocasião.
Os novos tempos requerem uma nova postura das direções sindicais. Devemos rever algumas estratégias pela mesmice de atuação anos a fio. Assembleísmo e conchavos cabem muito bem para as disputas fratricidas das direções quando não há um horizonte de lutas como ocorre na conjuntura atual. Os sindicatos foram engolidos pelos patrões, mais acentuadamente quando o patrão é o governo federal. Há anos não vemos um enfrentamento de verdade contra o patrão federal. Vemos, sim, direções subservientes e acomodadas que blindaram o governo Lula com apresentação de índices absurdamente rebaixados e continuam blindando o governo Dilma com uma reivindicação de risíveis índices.
Hoje, temos novas ferramentas de mobilização e informação. Com meia dúzia de cliques coloca-se uma informação para o país inteiro pelas redes sociais. E queiram ou não essas ferramentas fazem parte do cotidiano de todas as categorias. E mobilizam muito mais que uma assembleia esvaziada.
Enfim, o sindicalismo precisa ser repensado, caso não queira sucumbir diante dos patrões e diante de uma categoria que – na maioria das vezes – não tem a eloqüência dos “capinhas” mas que tem uma arma que é poderosa na atualidade: as redes sociais.
As redes sociais transformam uma massa de trabalhadores numa comunidade sem dono. Estamos diante de uma nova onda, uma manifestação de um neo-sindicalismo potro sem dono. Mais livre e democrático e mais participativo. “Vai potro sem dono, livre como eu”. Queiram ou não os atuais e perpétuos dirigentes.
Potro sem dono
Letra e música de Paulo Fagundes.
Interprete: José Claudio Machado.
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
O movimento sindical como um todo – e o bancário em particular – precisa ser repensado. Precisa renascer das cinzas se não quiser sucumbir em definitivo diante dos anseios e demandas dos trabalhadores.
Com a atual conjuntura e com os atuais dirigentes, não vislumbraremos conquistas relevantes para o conjunto da categoria. Hoje, há uma demanda reprimida de conquistas e manifestações. Há um anseio por reivindicações e lutas mais contundentes. E o sindicalismo não está cumprindo com essa demanda, não como cumpria há uma década.
Um exemplo que ficou claro recentemente (de uma demanda reprimida da sociedade) e que serve como alerta aos movimentos sociais, foram as manifestações ocorridas nas capitais do Brasil por ocasião das comemorações do dia da Independência.
Um movimento organizado via internet. Uma ferramenta que mobiliza milhões em tempo recorde e que está alguns passos ou anos a frente dos movimentos sociais. Uma maneira arrebatadora de arregimentação. Um movimento que se originou à margem das centrais, partidos e ONGs. Hoje, qualquer grupo de discussão na internet, ou nas comunidades de relacionamentos na web tem mais informação que uma assembleia de mobilização com meia dúzia de gatos pingados. Assim, percebemos que o movimento sindical continua com a mesma organização de 50 anos atrás.
Essa reflexão deve ser feita pelas categorias de trabalhadores. Nós estamos fazendo o sindicalismo arcaico. Inclusive, as formas de cooptação das atuais direções remontam a Era Vargas, com mais intensidade e adesismo, que nos deixam alarmados e preocupados com o futuro.
Então, para repensar o sindicalismo, a discussão, invariavelmente, passará por uma profunda democratização das entidades e instituições de representação. O modelo como está, está com o prazo vencido. Nossos representantes não representam a base da categoria e, sim, as tendências do movimento. E essas tendências do movimento se engalfinham pelos mais ridículos motivos. Desde a formação de uma simples mesa numa assembleia de dez pessoas a um cargo de suplente de suplente no conselho fiscal do sindicato dos bancários de “Cacimbinhas”. Nosso horizonte de lutas está rebaixado. Falta utopia e uma bandeira para desfraldar. Falta uma “gana missioneira”.
Nossos representantes são eleitos em congressos de dirigentes sindicais – sim, a esmagadora maioria dos participantes dos congressos são dirigentes sindicais – muitos deles há dez, quinze ou vinte anos a frente das entidades. Perpetuados nas direções que dizem sim, sim e sim aos “capas-pretas” do movimento que por sua vez dizem sim, sim, e sim aos governos. Nossas lideranças estão carcomidas e acomodadas em liberações ad eternum.
O atual sindicalismo é pautado pelas eleições sindicais. Têm sindicalistas que passa o tempo viajando para ajudar nessas eleições, pois a disputa é por espaços das correntes, cada vez mais intestinas e truculentas.
É comum vermos discursos inflamados nas assembleias – de companheiro A – baixando o cassete nas políticas da corrente do companheiro B. Mas já na próxima eleição o companheiro A apoia a chapa em que está o companheiro B. Isso é um reflexo da política no Brasil, não existe mais ideologia, o que vale são cargos e “poder” a qualquer preço.
Como são as eleições no movimento sindical e associativo?
Para fazer um comparativo descreverei as eleições nas Apcefs – Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal – e dos sindicatos de bancários.
As eleições das Apcefs são mais democráticas. Nós elegemos, por exemplo, por voto direto tanto para as associações estaduais, como também para a FENAE – Federação Nacional das Associações. Há um edital e as chapas se inscrevem e disputam o pleito expondo suas propostas e explicitando suas diferenças.
Nas eleições dos sindicatos de bancários a democracia tem um certo limite. As eleições para o sindicato são diretas. A categoria vota diretamente nas figurinhas que estão concorrendo. No entanto, quando temos que eleger os membros da Fetrafi-RS – Federação dos Bancários do RS – como também para a Contraf – Confederação dos Bancários – essas eleições se dão de forma indireta em um colegiado (congresso) estadual ou nacional.
Cabe salientar que esses encontros de bancários são na realidade encontros de dirigentes sindicais. A base da categoria tem pouca representação nesses encontros. Arrisco a afirmar que o percentual de delegados dirigentes sindicais beira a 90%. Assim, a base fica totalmente alijada do processo. A base da categoria não sabe quem são os diretores das federações e da confederação. Os nossos negociadores – os colegas que vão negociar a pauta do dissídio com os bancos – são indicados proporcionalmente pelas correntes. E mais uma vez a base da categoria não conhece esses “negociadores”.
E a conseqüência disso? A total falta de representatividade.
Esses colegas dirigentes estão deslocados, sem inserção e conhecimento da base. Aliás, esse desconhecimento é uma via de mão dupla. A base não conhece esses representantes e os representantes não conhecem a base.
A grande questão a ser discutida no sindicalismo – em particular o bancário – é a democratização das representações. Ou seja, eleições diretas para todos os níveis e instâncias: sindicatos, federações e confederação.
E a partir dessa discussão devemos avançar para serem eleitos de forma direta os representantes nas comissões por banco que farão as negociações especificas da categoria. No rol de processo de reformas consta a implementação de uma nova política no que diz respeito às liberações para o sindicato.
Como são as liberações hoje? Os “capas-pretas” de cada tendência se reúnem e decidem as liberações pelas facções. Decidem quem deve ser liberado e esse “liberado” fica comprometido com aquela tendência. Deus o livre se esse companheiro resolver levantar o crachá numa assembleia em desacordo com os ditames da tendência.
Houve um caso de um sindicato com pouco mais de 100 associados teve duas liberações para o Banco do Brasil. E outro sindicato com mais de 1000 associados sem um sequer. Essa é a lógica das liberações quarteadas entre as tendências.
No atual modelo qualquer desavença na direção, um companheiro pode ser “aconselhado” a voltar para o banco, pouco importando sua representatividade ou os desdobramentos financeiros e profissionais de uma volta sem um prévio acordo com os gestores. Com já ocorreu em vários casos.
Então, a questão a ser discutida nos fóruns é justamente a maneira de como devem ser escolhidos os liberados para trabalharem no sindicato. E a resposta é simples: as liberações devem ser dadas pelo número de associados. Por exemplo: um número X de liberados para cada mil associados. Independente das tendências. Independentes dos padrinhos políticos e líder máximo da organização. Assim, teremos um colega comprometido com o sindicato e com a categoria e não com uma tendência ou chefete de ocasião.
Os novos tempos requerem uma nova postura das direções sindicais. Devemos rever algumas estratégias pela mesmice de atuação anos a fio. Assembleísmo e conchavos cabem muito bem para as disputas fratricidas das direções quando não há um horizonte de lutas como ocorre na conjuntura atual. Os sindicatos foram engolidos pelos patrões, mais acentuadamente quando o patrão é o governo federal. Há anos não vemos um enfrentamento de verdade contra o patrão federal. Vemos, sim, direções subservientes e acomodadas que blindaram o governo Lula com apresentação de índices absurdamente rebaixados e continuam blindando o governo Dilma com uma reivindicação de risíveis índices.
Hoje, temos novas ferramentas de mobilização e informação. Com meia dúzia de cliques coloca-se uma informação para o país inteiro pelas redes sociais. E queiram ou não essas ferramentas fazem parte do cotidiano de todas as categorias. E mobilizam muito mais que uma assembleia esvaziada.
Enfim, o sindicalismo precisa ser repensado, caso não queira sucumbir diante dos patrões e diante de uma categoria que – na maioria das vezes – não tem a eloqüência dos “capinhas” mas que tem uma arma que é poderosa na atualidade: as redes sociais.
As redes sociais transformam uma massa de trabalhadores numa comunidade sem dono. Estamos diante de uma nova onda, uma manifestação de um neo-sindicalismo potro sem dono. Mais livre e democrático e mais participativo. “Vai potro sem dono, livre como eu”. Queiram ou não os atuais e perpétuos dirigentes.
Potro sem dono
Letra e música de Paulo Fagundes.
Interprete: José Claudio Machado.
Um comentário:
Muito bom Athos, comungo do seu pensamento. Fui Diretor sindical em uma gestão e descobri estas brigas de corrente dentro do movimento que não ajudam em nada (confesso que só vim tomar conhecimento destas correntes quando entrei no movimento. Não aderi a nenhuma, pois sou totalmente contra). A base, também, tem sua parcela de culpa pelo atual estágio do sindicalismo, reclama muito, mas não tem atitude, não se organiza para compor chapa de oposição com representativade que atenda aos anseios da maioria. Não sei nos outros estados, mas aqui no Piauí, a oposição que aparece sempre tem viés político partidário e sempre sofre derrotas estrondosas.
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