quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Lua de setembro

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

Sinto saudades de um setembro, qualquer setembro ainda não vivido. Sinto remorsos do agora porque ainda estou aqui. Sinto não estar vivendo sob a lua que imaginei pra ti.
Quero sentir pingos de chuva numa noite de primavera, quero molhar meus pés na sarjeta de uma ruela de setembro, nas correntezas dos dias e nas vertentes dos crepúsculos. Quero sentar numa pinguela e contemplar a lua distante num ainda distante setembro. Sinto saudades dos trinta dias que não lembro, do setembro que esqueci por não tê-lo sofrido. Quero o mês inteiro com dias finitos para vê-los, tê-los, acariciá-los, todos os dias e noites quando setembro vier.
Não quero águas de março e nem os sóis de maio. Não quero o “carná de feverê”. Quero as luas de setembro. Sinto saudades de todos os meses de setembro. Preciso de uma lua cheia envolta em mistério, quero o uivo da loba numa lúgubre e sinistra meia-noite. Quero o pulo da gata num facho de lua nova.
Quando caminho pela relva em trilhas que nunca andei, em terras que jamais pisei, irei ao encontro de novas cascatas, das cascatas de luas do setembro que certamente virá com a primavera, quando findar o vento sul de julho.
Não quero resquícios de águas, quero torrentes de luas. Não quero panos quentes, quero tapetes voadores e encardidos de vida. Não quero pratos limpos, quero uma louça a ser lavada nas chuvaradas de setembro. Não quero o desgosto de agosto e nem a lua de outubro. Insisto! Eu quero um luar cheio de setembro.
Deixei distante um abril despedaçado para ter um setembro completo, robusto, forte e enérgico. Um setembro simples, cândido, tenro e bondoso. Pode ser qualquer dia de setembro, 25, 26, 27 ou 28, em qualquer lua, mas que seja tua, assim verei na futura primavera luas então nunca vistas, luas em forma de rosas. Rosas da Estação Lua.
Sonho com as flores de setembro e com um cálice de vinho da colônia. Rubro como uma rosa, leve como a lua, fino como a cascata.
Sinto saudades da lua, da tua lua do teu setembro não vivido. Preciso de um setembro florido. Quero ver flores nesse mês distante, preciso ver-te bela, assanhada e enluarada. Quero ver a lua, a lua de setembro iluminando sua face morena. Quero rosar-me ao tê-la. Quero “setembrar-me” ao vê-la. Quero respirar o teu sereno junto com o aroma do setembro e encostar meu corpo no calor de tua pele morena. Talvez a lua seja pequena para momentos assim, ainda assim eu direi sim. Mas se o setembro for em vão e terminar sem mim, quero o reflexo da lua na noite de um rio. Aí sim, quero abraçar o reflexo da lua num rio de janeiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Setembro é sempre doce e cruel, comigo.