sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O satânico Dr. Go

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

Consta que os projetos mais propostos e aprovados nas Câmaras de Vereadores são homenagens e nomes de ruas. Entre as honrarias estão os monumentos, placas e bustos de heróis e pseudo-heróis, mas com as imagens eternizadas nos bronzes das estátuas. Mario Quintana cunhou a frase “um erro em bronze é um erro eterno” ao recusar uma homenagem numa praça. E era uma simples plaquinha de bronze.
A cidade de Rio Grande – como toda cidade que referencia seus ídolos – também justifica suas homenagens. E é um direito legítimo. Assim, por intermédio do prefeito Fábio Branco será colocada uma placa de bronze e o busto de Golbery do Couto e Silva na praça Tamandaré. General rio-grandino destacado nacionalmente num período também destacado da história recente do país.
Nas hostes militares Golbery era conhecido como Bruxo. Foi um dos mentores do golpe de 64 – o mais incauto dos mortais sabe o significado da expressão “golpe de 64” –, e foi o criador do SNI (Serviço Nacional de Informações) que tinha como principal atribuição “monitorar” quem não estava disposto a dizer amém aos ditadores, ou melhor, quem fazia oposição ao governo militar, principalmente, os mais audaciosos que teimavam em pegar nas armas ou que saiam “caminhando e cantando” pelas avenidas.
Golbery foi uma eminência mais do que parda de todos os governos ditatoriais pós 64. Encerrou a carreira como chefe da Casa Civil dos governos Geisel e Figueiredo. E deixou a cama armada para Tancredo Neves assumir a presidência. Como sabemos, a história foi mais cruel do que o Bruxo poderia imaginar. Sarney foi a ironia do destino.
Para os brasileiros que estiveram no subsolo desse período e que sofreram as atrocidades dos cárceres e da impiedade do Doi-Codi, Golbery do Couto e Silva era, apenas, o “Satânico Dr. Go”. Atuava nos bastidores do poder em uma atividade silenciosa e implacável.
Nessa praça onde será construído o busto de Golbery, também estão homenageados o Napoleão, Marques de Tamandaré e Jesus Cristo. Então, podemos afirmar que general estará em boa companhia. Protegido por terra, mar e céu.
O prefeito Fábio bem que poderia ter deixado essa página em branco no livro das honrarias de Rio Grande. Afinal de contas, Mario Quintana tinha uma certa razão com relação às placas de bronze. Mas eu entendo o prefeito Fábio, Golbery não passaria em branco por Rio Grande.

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