quarta-feira, 16 de março de 2016

O duplo tiro no pé da Dilma




Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Hegel escreveu que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história são encenados duas vezes. Marx acrescentou: a primeira como tragédia e a segunda como farsa.
Então, vamos ao que interessa no momento truculento da nossa república. Para um governo claudicante é inegável que a assunção de Lula como ministro da casa Civil acrescenta um fôlego novo de uma raposa velha na articulação política e nas estratégias governamentais.
Nesse momento de instabilidade política e econômica a cartada de Dilma acontece como derradeira para salvar a sua pele, seu governo e sua história. O antecessor no primeiro escalão pode – eu falei pode – acalmar os ânimos do mercado e da base aliada e refrear o andamento do impeachment.
Durante o seu governo Lula conseguiu harmonizar, de certa forma, o capital e o trabalho: os ricos ganharam muito e os pobres foram beneficiados com programas sociais. A conjuntura econômica e a popularidade de Lula eram favoráveis. E o Lula era o cara.
Atualmente as atitudes dos agentes políticos estão mais acirradas. Há uma crise de credibilidade nos políticos e nos encaminhamentos da economia. As delações premiadas pagam mais que os bilhetes premiados das loterias da Caixa. E o país está envolto em um mar de lamas. Em algumas regiões, literalmente. E não vemos um horizonte claro... um novo amanhecer para sonhar.
Lula no ministério também pode – eu falei pode – aumentar a crise política, pois é mais um investigado nos altos escalões da república. Como também pode – eu falei pode – ser o interlocutor preferencial do governo. Relegando à eleita pelos votos dos brasileiros a uma atuação de coadjuvante.
A nomeação de Lula é legal – imagino, tudo dentro da lei –, nem foi preciso o “na política tudo pode”, mas é imoral. Um desgaste a mais para explicar. Porque estamos desconfiados que Lula está no ministério, também, para conseguir o tão falado foro privilegiado.
A presidente, no meu modesto entendimento, deu dois tiros no pé e um deles ela acerta. Se Lula não corresponder às expectativas a cartada foi em vão e um estresse a mais para seu rol de explicações. E o ex-presidente estaria, apenas, para se livrar da Lava-Jato by Curitiba.
Se for o superministro que imaginamos que será ela terá terceirizado a faixa presidencial e inaugurado o bipresidencialismo no Brasil.
Enfim, resta saber se Lula se enquadra na primeira ou na segunda parte da assertiva do velho Marx.

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