Athos Ronaldo Miralha da Cunha
O chimarrão que o maragato
Cevava na cuia morena
Descansando as chilenas
Pra sorver o verde regato
Que veio do tosco do mato
Mateando quieto e despacito
Com o olhar no infinito
Nos causos do seu silêncio
Manchou com erva o lenço
E chimarreou com seu piazito
E o guri cresceu assim
No gosto pelo chimarrão
Pra quem nasceu neste chão
Cevando mateadas em mim
Em largas proseadas sem fim
Nas vastas tardes da pampa
Quando o quero-quero canta
Na calmaria da terra gaúcha
Com a cuia feito garrucha
Identidade guapa que encanta
Quando o “Velho” anoiteceu
Num mês de maio fatal
Deixou de lado o buçal
Fez de conta que esqueceu
Todas as lidas que viveu
Com a cuia, bomba e sovéu
Cevou um mate com mel
E em silêncio foi embora
Batendo esporas na aurora
Em algum rincão do céu
Herança: a velha bomba
De alpaca e ouro folhada
Ficou um taura na invernada
Num dedilhar de milonga
Na tarde cada vez mais longa
Daquele mesmo domingo
Que cevei um mate antigo
E sorvi a Última Payada
Naquela bomba de alpaca
Que sempre carrego comigo
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