quarta-feira, 7 de setembro de 2011

11/09/2001

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

Há dez anos o mundo ficou dividido entre antes e depois do onze de setembro. E, hoje, penso que sempre foi assim: o mundo sempre esteve dividido entre o antes e o depois.
Naquela manhã a humanidade assistiu incrédula, cenas de fanatismo e barbárie. Naquela “Vila do Sossego” os aviões não vomitavam paraquedas, mas praticaram quedas inesquecíveis.
Muitos homens e mulheres sonharam com a revolução para mudar o mundo. No auge da Guerra-Fria combatiam-se as ditaduras e pregava-se o “paz e amor”. A vida tinha que ser vivida intensamente. A guerra do Vietnã, também motivada pela insanidade, foi um símbolo da luta pela paz na década de 70.
O mundo mudou e continuará mudando. A revolução foi feita pela informática e o mundo mudou pelo terror. Mudamos todos e das mais diversas maneiras. Há muito tempo nossas vidas estão mais apreensivas, os exércitos mais atentos, a polícia mais vigilante e o terrorismo mais audaz.
No tabuleiro chamado Terra caíram as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque. Há um jogo de lances calculados e interesses escusos. Houve vencedores, mas muitos são os perdedores: a paz, a vida e, até, a nossa preservação enquanto espécie.
Naqueles anos os noticiários tornaram-se mais cruéis. Contamos, aterrorizados, as vítimas nos trens de Madri, inocentes em Beslan e insensatez em Bagdá. Naquele tabuleiro com lances contraditórios a cada movimento de poderosos cavalos, intocáveis reis ou obedientes peões, inocentes perderam a vida em algum lugar do planeta. Havia um xeque-mate unilateral, porque esse jogo sempre foi desigual e sempre rebentou nos mais fracos. E de lá para cá estamos prisioneiros de nossos medos. Onde você estava na manhã do dia 11 de setembro de 2001?
Gostaria de escrever sobre meninos jogando bolinhas de gude, meninas pulando sapata e crianças em rodas de ciranda. Escrever sobre moleques jogando futebol, bolas que estilhaçam vidraças ou que sujam as roupas no varal. Ou, ainda, sobre juras de amor à sombra das corticeiras. Um casal que caminha descalço na areia de uma praia deserta ou sobre os primeiros fachos de sol na relva de uma manhã de primavera.
É impossível não ser triste. Havia algo de sólido no ar daquela manhã, um sabor ácido nos noticiários. Um cheiro de enxofre no tempero das páginas dos jornais.
No início do terceiro milênio o mundo mudou. Tornamo-nos diferentes e indiferentes. Hoje, percebo que o mundo continua mudando e que o onze de setembro parece que foi ontem. E com a estranha sensação de que um avião vai me atropelar logo ali na esquina.

3 comentários:

Ronai disse...

Tens razão, Athos, as fichas dos sonhos dos anos sessenta são difíceis de cair, e quem sabe o 11 de setembro, com o perdão do trocadilho, ...

Athos Ronaldo Miralha da Cunha disse...

Meu caro Ronai. Hoje eu li no Facebook a seguinte frase.
"São tempos difíceis para sonhadores".
Acho que resume tudo.

Anônimo disse...

É impossível não ser triste.